“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ)
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2020 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
Texto Completo: | http://app.uff.br/riuff/handle/1/25481 http://dx.doi.org/10.22409/PPGA.2020.d.09958336723 |
Resumo: | Esta tese tem como objeto os riscos associados à violência que trabalhadores terceirizados, que prestam serviço para a concessionária de energia elétrica Enel, enfrentam na realização do seu ofício em situações de corte de energia provocada por constatação de perdas não técnicas. Os riscos ergonômicos, acidentes, quedas e outros vinculados aos serviços de eletricidade são previstos pelas normas regulamentadoras (Portaria 3.214/78) do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, do extinto Ministério do Trabalho, e são objeto constante de monitoramento pela empresa. Porém, a configuração urbana em determinadas localidades da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro está sob o jugo do domínio armado que disputa a constituição de um mercado ilegal, no qual a energia elétrica é um dos bens valiosos, fazendo emergir um novo tipo de risco. Os trabalhadores estão expostos a relações de coação, ameaça e até agressões físicas que são provocadas pela suspeição e desconfiança característico dessa fronteira entre o mercado legal e o ilegal, quando se trata de estratégias de “venda” do furto de energia elétrica como um fenômeno social de larga escala. A pesquisa permitiu observar que as relações de suspeição que esses trabalhadores terceirizados vivenciam não ocorrem apenas a partir do convívio forçado com traficantes ou milicianos, mas também por parte da empresa, em relação ao uso dos equipamentos de proteção individual, seja devido ao possível furto de energia que algum funcionário poderia se envolver, já que se trata de uma tecnologia especializada. A suspeição rege ainda a relação entre a empresa e os clientes pela possibilidade de uso de tecnologias que alteram principalmente a relação de consumo no momento da aferição de energia. A tese foi construída a partir de uma etnografia realizada em Duque de Caxias, bem como de minha participação em técnicas de pesquisa quali e quanti durante o projeto P&D “Desenvolvimento de Metodologia ‘Mapa de Percepção de Riscos’ para a Análise da Variável Socioeconômica Violência no Diagnóstico de Perdas Não Técnicas de Energia nos Municípios de São Gonçalo e Duque de Caxias (RJ), o que possibilitou a emergência de questões contemporâneas sobre o furto de energia, novas formas de abordagem de fenômenos urbanos por conta da rede de pesquisa, bem como pensar as cidades que compõem a região metropolitana como uma “cidade urbana”, caracterizada não apenas por seus aspectos físicos e dimensionais, mas pelos aspectos sociais, os modos de divisão do trabalho e o tipo de mobilidade dos indivíduos. |
id |
UFF-2_23ad1d7c0f0b0a1c9ceeba7a88b4aaeb |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:app.uff.br:1/25481 |
network_acronym_str |
UFF-2 |
network_name_str |
Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
repository_id_str |
2120 |
spelling |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ)RiscoDomínio ArmadoConforto TérmicoFurto de EnergiaSuspeiçãoEnergia elétricaRouboRisco ocupacionalViolênciaRiskArmed DomainThermal ComfortEnergy theftSuspicionEsta tese tem como objeto os riscos associados à violência que trabalhadores terceirizados, que prestam serviço para a concessionária de energia elétrica Enel, enfrentam na realização do seu ofício em situações de corte de energia provocada por constatação de perdas não técnicas. Os riscos ergonômicos, acidentes, quedas e outros vinculados aos serviços de eletricidade são previstos pelas normas regulamentadoras (Portaria 3.214/78) do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, do extinto Ministério do Trabalho, e são objeto constante de monitoramento pela empresa. Porém, a configuração urbana em determinadas localidades da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro está sob o jugo do domínio armado que disputa a constituição de um mercado ilegal, no qual a energia elétrica é um dos bens valiosos, fazendo emergir um novo tipo de risco. Os trabalhadores estão expostos a relações de coação, ameaça e até agressões físicas que são provocadas pela suspeição e desconfiança característico dessa fronteira entre o mercado legal e o ilegal, quando se trata de estratégias de “venda” do furto de energia elétrica como um fenômeno social de larga escala. A pesquisa permitiu observar que as relações de suspeição que esses trabalhadores terceirizados vivenciam não ocorrem apenas a partir do convívio forçado com traficantes ou milicianos, mas também por parte da empresa, em relação ao uso dos equipamentos de proteção individual, seja devido ao possível furto de energia que algum funcionário poderia se envolver, já que se trata de uma tecnologia especializada. A suspeição rege ainda a relação entre a empresa e os clientes pela possibilidade de uso de tecnologias que alteram principalmente a relação de consumo no momento da aferição de energia. A tese foi construída a partir de uma etnografia realizada em Duque de Caxias, bem como de minha participação em técnicas de pesquisa quali e quanti durante o projeto P&D “Desenvolvimento de Metodologia ‘Mapa de Percepção de Riscos’ para a Análise da Variável Socioeconômica Violência no Diagnóstico de Perdas Não Técnicas de Energia nos Municípios de São Gonçalo e Duque de Caxias (RJ), o que possibilitou a emergência de questões contemporâneas sobre o furto de energia, novas formas de abordagem de fenômenos urbanos por conta da rede de pesquisa, bem como pensar as cidades que compõem a região metropolitana como uma “cidade urbana”, caracterizada não apenas por seus aspectos físicos e dimensionais, mas pelos aspectos sociais, os modos de divisão do trabalho e o tipo de mobilidade dos indivíduos.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorThe risks associated with violence suffered by subcontracted workers of Enel company, when rendering the service of energy cuts, provoked by non-technical losses of the energy provider at Rio de Janeiro metropolitan area, are the object of this thesis. The workplace accidents, the risks of falling and the ergonomic risks linked to the electricity services are contemplated by the regulations of the administrative rule 3214/78 on the Security and Heath Department of the extinguished Labor Ministry and are object of constant monitoring of the company. However, the urban configuration on certain places of Rio de Janeiro state is under the yoke of the armed domain, which disputes the constitution of an illegal market, on which electric energy is one of the valuable gifts, bringing to light a new kind of risk. The workers are exposed to relations based on coercion, threats and the possibility of physical assault, provoked by the suspicion and mistrust characteristic of this frontier between the legal and the illegal markets when it comes to “sales” strategies of energy theft as a large scale social phenomenon. The research made it possible to observe that the suspicion relations these subcontracted workers experience don’t emerge only from the forced conviviality with drug dealers or paramilitary groups, but also from the company, regarding the usage of individual protection equipment, due to the possible energy theft an employee allegedly might be involved with, considering it consists on specialized technology. Thus, the suspicion controls the relation between the company and the clients by the possibility of the use of technologies that change particularly the consumption relations on the moment of its measurement. The thesis was constructed based on an ethnography carried out at Duque de Caxias city, as well as my participation on qualitative and quantitative research experiences during the P&D project “Development of Methodology to a ‘Risk Perception Map’ to the Analysis of the Socioeconomical Variant on the Diagnostic of Non Technical Energy Losses at São Gonçalo and Duque de Caxias cities (Rio de Janeiro state)”, which enabled the emergence of contemporary questions about energy theft, new approaches of urban phenomena due to the research network, as well as thinking the cities that compose the metropolitan area as an “urban city”, characterized not only by their physical and dimensional aspects, but also by their social aspects, the ways of division of work and the kind of individual mobility.211 p.Miranda, Ana Paula Mendes deMuniz, Jacqueline de OliveiraLima, Antônio Carlos de SouzaFigueira , Marcelle GomesMartins , Luciane Patrício BarbosaPinto, Vinícius Cruz2022-06-30T16:05:02Z2022-06-30T16:05:02Z2020info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfPINTO, Vinícius Cruz. “Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ). 2020. 211 f. Tese (Doutorado em Antropologia) - Programa de Pós-graduação em Antropologia, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020.http://app.uff.br/riuff/handle/1/25481http://dx.doi.org/10.22409/PPGA.2020.d.09958336723CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2022-07-01T14:15:16Zoai:app.uff.br:1/25481Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T11:15:08.657683Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ) |
title |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ) |
spellingShingle |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ) Pinto, Vinícius Cruz Risco Domínio Armado Conforto Térmico Furto de Energia Suspeição Energia elétrica Roubo Risco ocupacional Violência Risk Armed Domain Thermal Comfort Energy theft Suspicion |
title_short |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ) |
title_full |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ) |
title_fullStr |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ) |
title_full_unstemmed |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ) |
title_sort |
“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ) |
author |
Pinto, Vinícius Cruz |
author_facet |
Pinto, Vinícius Cruz |
author_role |
author |
dc.contributor.none.fl_str_mv |
Miranda, Ana Paula Mendes de Muniz, Jacqueline de Oliveira Lima, Antônio Carlos de Souza Figueira , Marcelle Gomes Martins , Luciane Patrício Barbosa |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Pinto, Vinícius Cruz |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Risco Domínio Armado Conforto Térmico Furto de Energia Suspeição Energia elétrica Roubo Risco ocupacional Violência Risk Armed Domain Thermal Comfort Energy theft Suspicion |
topic |
Risco Domínio Armado Conforto Térmico Furto de Energia Suspeição Energia elétrica Roubo Risco ocupacional Violência Risk Armed Domain Thermal Comfort Energy theft Suspicion |
description |
Esta tese tem como objeto os riscos associados à violência que trabalhadores terceirizados, que prestam serviço para a concessionária de energia elétrica Enel, enfrentam na realização do seu ofício em situações de corte de energia provocada por constatação de perdas não técnicas. Os riscos ergonômicos, acidentes, quedas e outros vinculados aos serviços de eletricidade são previstos pelas normas regulamentadoras (Portaria 3.214/78) do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, do extinto Ministério do Trabalho, e são objeto constante de monitoramento pela empresa. Porém, a configuração urbana em determinadas localidades da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro está sob o jugo do domínio armado que disputa a constituição de um mercado ilegal, no qual a energia elétrica é um dos bens valiosos, fazendo emergir um novo tipo de risco. Os trabalhadores estão expostos a relações de coação, ameaça e até agressões físicas que são provocadas pela suspeição e desconfiança característico dessa fronteira entre o mercado legal e o ilegal, quando se trata de estratégias de “venda” do furto de energia elétrica como um fenômeno social de larga escala. A pesquisa permitiu observar que as relações de suspeição que esses trabalhadores terceirizados vivenciam não ocorrem apenas a partir do convívio forçado com traficantes ou milicianos, mas também por parte da empresa, em relação ao uso dos equipamentos de proteção individual, seja devido ao possível furto de energia que algum funcionário poderia se envolver, já que se trata de uma tecnologia especializada. A suspeição rege ainda a relação entre a empresa e os clientes pela possibilidade de uso de tecnologias que alteram principalmente a relação de consumo no momento da aferição de energia. A tese foi construída a partir de uma etnografia realizada em Duque de Caxias, bem como de minha participação em técnicas de pesquisa quali e quanti durante o projeto P&D “Desenvolvimento de Metodologia ‘Mapa de Percepção de Riscos’ para a Análise da Variável Socioeconômica Violência no Diagnóstico de Perdas Não Técnicas de Energia nos Municípios de São Gonçalo e Duque de Caxias (RJ), o que possibilitou a emergência de questões contemporâneas sobre o furto de energia, novas formas de abordagem de fenômenos urbanos por conta da rede de pesquisa, bem como pensar as cidades que compõem a região metropolitana como uma “cidade urbana”, caracterizada não apenas por seus aspectos físicos e dimensionais, mas pelos aspectos sociais, os modos de divisão do trabalho e o tipo de mobilidade dos indivíduos. |
publishDate |
2020 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2020 2022-06-30T16:05:02Z 2022-06-30T16:05:02Z |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
format |
doctoralThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
PINTO, Vinícius Cruz. “Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ). 2020. 211 f. Tese (Doutorado em Antropologia) - Programa de Pós-graduação em Antropologia, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020. http://app.uff.br/riuff/handle/1/25481 http://dx.doi.org/10.22409/PPGA.2020.d.09958336723 |
identifier_str_mv |
PINTO, Vinícius Cruz. “Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ). 2020. 211 f. Tese (Doutorado em Antropologia) - Programa de Pós-graduação em Antropologia, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020. |
url |
http://app.uff.br/riuff/handle/1/25481 http://dx.doi.org/10.22409/PPGA.2020.d.09958336723 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
CC-BY-SA info:eu-repo/semantics/openAccess |
rights_invalid_str_mv |
CC-BY-SA |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) instname:Universidade Federal Fluminense (UFF) instacron:UFF |
instname_str |
Universidade Federal Fluminense (UFF) |
instacron_str |
UFF |
institution |
UFF |
reponame_str |
Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
collection |
Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF) |
repository.mail.fl_str_mv |
riuff@id.uff.br |
_version_ |
1811823702562570240 |