Dos ossos aos corpos: um estudo comparativo entre práticas de Antropologia Forense

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Martin, Victória Franco
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: https://app.uff.br/riuff/handle/1/10430
Resumo: Este trabalho tem como objetivo levantar questões e reflexões acerca da Antropologia Forense e suas práticas laboratoriais sob o viés da Antropologia Cultural/Social. Em termos específicos, a Antropologia das Ciências, que problematiza o suposto caráter objetivo, neutro e apolítico dos saberes científicos, permeia meu trabalho, que busca compreender de que modo a produção destes saberes, em diferentes contextos e processos de legitimidade, não só produzem os corpos humanos simbólica e socialmente, como também os afetam materialmente. Assim, elegendo a morte como principal forma de aproximação da materialidade dos corpos, construo essa problemática com base em um trabalho etnográfico multi-situado, desenvolvido entre 2015 e 2016: primeiro, no laboratório do Serviço de Antropologia Forense do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IMLAP), principal unidade da região metropolitana do Rio de Janeiro; e segundo, no laboratório do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF), onde atuei como voluntária em um projeto de identificação de desaparecidos políticos intitulado Grupo de Trabalho Perus (GTP). Nesses ambientes, predominam os discursos científicos biomédico e jurídico-legal, cabendo ressaltar que há uma construção institucional dos mortos que se dá através do encontro e confronto desses discursos, que atribuem e legitimam significados referentes a estes ―corpos‖, dentre os processos de identificação, pela e na burocracia pública que, trabalhando com sua noção estatal de identidade, estabelece o lugar social do defunto, ou seja, aquele conjunto de ossos que simbolizam um corpo, um cidadão, um indivíduo e uma pessoa morta. Nesse sentido, os discursos se chocam e ao mesmo tempo se complementam num processo de construção, significação e resignificação dos remanescentes ósseos humanos que, embora carreguem o estigma da morte, dão vida ao laboratório de Antropologia Forense e têm vida social dentro e fora dele, o que reflete nas práticas e no manuseio dos mesmos. Ora os corpos são ossos, ora os ossos são corpos. De que forma a técnica científica lida, delimita, constrói e destrói esse limiar? Seguindo a premissa de Donna Haraway (1995), de que não existiria o olhar ―da ciência‖, mas sim dos ciêntistas (localizados geográfica, histórica, social e culturalmente), analiso comparativamente dois contextos que embasam suas práticas em teorias científicas distintas, explicitando como isso impacta não só no cotidiano institucional, mas também nas leituras simbólicas dos ossos aos corpos
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Assim, elegendo a morte como principal forma de aproximação da materialidade dos corpos, construo essa problemática com base em um trabalho etnográfico multi-situado, desenvolvido entre 2015 e 2016: primeiro, no laboratório do Serviço de Antropologia Forense do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IMLAP), principal unidade da região metropolitana do Rio de Janeiro; e segundo, no laboratório do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF), onde atuei como voluntária em um projeto de identificação de desaparecidos políticos intitulado Grupo de Trabalho Perus (GTP). Nesses ambientes, predominam os discursos científicos biomédico e jurídico-legal, cabendo ressaltar que há uma construção institucional dos mortos que se dá através do encontro e confronto desses discursos, que atribuem e legitimam significados referentes a estes ―corpos‖, dentre os processos de identificação, pela e na burocracia pública que, trabalhando com sua noção estatal de identidade, estabelece o lugar social do defunto, ou seja, aquele conjunto de ossos que simbolizam um corpo, um cidadão, um indivíduo e uma pessoa morta. Nesse sentido, os discursos se chocam e ao mesmo tempo se complementam num processo de construção, significação e resignificação dos remanescentes ósseos humanos que, embora carreguem o estigma da morte, dão vida ao laboratório de Antropologia Forense e têm vida social dentro e fora dele, o que reflete nas práticas e no manuseio dos mesmos. Ora os corpos são ossos, ora os ossos são corpos. De que forma a técnica científica lida, delimita, constrói e destrói esse limiar? Seguindo a premissa de Donna Haraway (1995), de que não existiria o olhar ―da ciência‖, mas sim dos ciêntistas (localizados geográfica, histórica, social e culturalmente), analiso comparativamente dois contextos que embasam suas práticas em teorias científicas distintas, explicitando como isso impacta não só no cotidiano institucional, mas também nas leituras simbólicas dos ossos aos corposThis work aims to raise questions and reflections about Forensic Anthropology and its laboratory practices under the bias of Cultural / Social Anthropology. In specific terms, the Anthropology of Sciences, which problematizes the supposed objective, neutral and apolitical character of scientific knowledge, permeates my work, which seeks to understand how the production of these knowledge, in different contexts and processes of legitimacy, not only produce the human bodies symbolically and socially, but also affect them materially. Thus, choosing death as the main way of approaching the materiality of bodies, I construct this problem based on a multi-situ ethnographic work developed between 2015 and 2016: first, in the laboratory of the Forensic Anthropology Service of the Afrânio Peixoto Medical Legal Institute ( IMLAP), main unit of the metropolitan region of Rio de Janeiro; and secondly, in the laboratory of the Center of Forensic Archaeology and Anthropology (CAAF), where I volunteered for a project to identify political disappeared persons named Grupo de Trabalho Perus (GTP). In these environments, biomedical and legal-legal scientific discourses predominate, and it is important to emphasize that there is an institutional construction of the dead through the encounter and confrontation of these discourses, which attribute and legitimize meanings referring to these "bodies", among the identification processes , by and in the public bureaucracy that, working with its state notion of identity, establishes the social place of the deceased, that is, that set of bones that symbolize a body, a citizen, an individual and a dead person. In this sense, the discourses collide and at the same time complement each other in a process of construction, signification and resignification of human bones remnants that, although bearing the stigma of death, give life to the laboratory of Forensic Anthropology and have social life inside and outside it, which reflects in the practices and the handling of the same. Now bodies are bones, and bones are bodies. In what way does scientific technique read, delineate, construct, and destroy that threshold? Following Donna Haraway's (1995) premise that there would be no "science" look, but rather with the scientists (geographically, historically, socially, and culturally located), I comparatively analyse two contexts that support their practices in distinct scientific theories, as this impacts not only on institutional daily life but also on the symbolic readings of bones to bodiesRojo, Luiz FernandoEilbaum, LuciaFerraz, Joana D’Arc FernandesMartin, Victória Franco2019-07-15T17:28:33Z2019-07-15T17:28:33Z2018info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bachelorThesisapplication/pdfhttps://app.uff.br/riuff/handle/1/10430Aluno de Graduaçãohttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2022-01-20T20:32:17Zoai:app.uff.br:1/10430Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T11:05:07.021926Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
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