A droga da conexão: transformações no mal-estar moderno e nas estratégias de resistência
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
Texto Completo: | https://app.uff.br/riuff/handle/1/16377 |
Resumo: | Numa era de crescente conectividade às redes de informação e comunicação, estimulada pelo uso de aparelhos tecnológicos que costumam funcionar como mecanismos de captura da atenção e de mútuo monitoramento, esta tese se propõe a compreender certas implicações dessas novas práticas. O foco se detém particularmente nos dispositivos móveis de conexão em rede, procurando diagnosticar alguns de seus efeitos nas subjetividades que são produzidas na sociedade globalizada do início do século XXI. A principal hipótese desta pesquisa sugere que essas tecnologias digitais contribuem para intensificar um leque de mal-estares característicos da época atual, a partir dos seguintes deslocamentos, mapeados sob uma perspectiva genealógica: uma transição do dever ao desejo, da disciplina ao controle, do cidadão ao consumidor, da obediência hierárquica à dependência por "livre vontade", da repressão centralizada e vertical ao estímulo permanente que irradia em múltiplas direções. Para testar essas hipóteses, partimos da premissa de que os aparatos técnicos são efeitos e, ao mesmo tempo, instrumentos de certas transformações históricas e culturais. Por isso, buscaremos analisar certas sujeições -- e as suas possíveis resistências -- desenvolvidas em dois regimes históricos aqui considerados diferentes: o moderno e o contemporâneo. A intenção é contrastar as dinâmicas de funcionamento em que as tecnologias estão inseridas, explorando os modos de vida que elas supõem e ajudam a propagar. De acordo com os resultados dessa análise, estaríamos vivenciando certas transformações nas formas de sofrimento que são mais habituais na atualidade, bem como um deslocamento na própria noção de mal-estar – um conceito compreendido à luz das clássicas contribuições de Sigmund Freud, datadas em 1930, bem como de autores que o reelaboraram mais recentemente. Em suma, os cidadãos obedientes da sociedade industrial, reprimidos pelo rigor da lei e pelo peso da culpa na "moral burguesa" ou na "ética protestante", asfixiados pelas sólidas paredes institucionais e pela rigidez da "jaula de ferro" moderna, estariam perdendo preminência na atualidade. Em seu lugar, hoje proliferam os consumidores hiperestimulados, viciados e autocentrados, sempre ligados aos ubíquos aparatos técnicos de conexão à internet e tão seduzidos como insatisfeitos pelos infinitos deleites mercadológicos, sob a demanda constante de performar na visibilidade e se gerenciar de acordo com os rituais do “espírito empresarial”. |
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A principal hipótese desta pesquisa sugere que essas tecnologias digitais contribuem para intensificar um leque de mal-estares característicos da época atual, a partir dos seguintes deslocamentos, mapeados sob uma perspectiva genealógica: uma transição do dever ao desejo, da disciplina ao controle, do cidadão ao consumidor, da obediência hierárquica à dependência por "livre vontade", da repressão centralizada e vertical ao estímulo permanente que irradia em múltiplas direções. Para testar essas hipóteses, partimos da premissa de que os aparatos técnicos são efeitos e, ao mesmo tempo, instrumentos de certas transformações históricas e culturais. Por isso, buscaremos analisar certas sujeições -- e as suas possíveis resistências -- desenvolvidas em dois regimes históricos aqui considerados diferentes: o moderno e o contemporâneo. A intenção é contrastar as dinâmicas de funcionamento em que as tecnologias estão inseridas, explorando os modos de vida que elas supõem e ajudam a propagar. De acordo com os resultados dessa análise, estaríamos vivenciando certas transformações nas formas de sofrimento que são mais habituais na atualidade, bem como um deslocamento na própria noção de mal-estar – um conceito compreendido à luz das clássicas contribuições de Sigmund Freud, datadas em 1930, bem como de autores que o reelaboraram mais recentemente. Em suma, os cidadãos obedientes da sociedade industrial, reprimidos pelo rigor da lei e pelo peso da culpa na "moral burguesa" ou na "ética protestante", asfixiados pelas sólidas paredes institucionais e pela rigidez da "jaula de ferro" moderna, estariam perdendo preminência na atualidade. Em seu lugar, hoje proliferam os consumidores hiperestimulados, viciados e autocentrados, sempre ligados aos ubíquos aparatos técnicos de conexão à internet e tão seduzidos como insatisfeitos pelos infinitos deleites mercadológicos, sob a demanda constante de performar na visibilidade e se gerenciar de acordo com os rituais do “espírito empresarial”.In an era of increasing connectivity influenced by information and communication networks and stimulated by the use of technological devices that usually function as mechanisms to capture attention and mutual monitoring, this thesis proposes to understand certain implications of these new practices. Focused on mobile networked devices, the Autor seeks to diagnose the implications on the subjectivities that are produced in the globalized society of the early 21st century. As its main hypothesis, this research suggests that digital technologies contribute to intensify a range of discomforts characteristic of the present time, from the following displacements, mapped from a genealogical perspective: a transition from duty to desire, from discipline to control, from the citizen to the consumer, from hierarchical obedience to dependence on "free will", from centralized and vertical repression to permanent stimulus that radiates in multiple directions. To test these hypotheses, the Autor starts from the premise that technical apparatuses are effects and, at the same time, instruments of certain historical and cultural transformations. Therefore, certain subjections will be analyzed - and their possible resistances - developed in two different historical regimes considered here: the modern and the contemporary. The intention here is to contrast the operating dynamics in which the technologies are inserted, exploring the lifestyles they consider and help to propagate. According to the results of this analysis, certain transformations would be experienced in the forms of suffering that are most common today, as well as a shift in the very notion of unease - a concept of Sigmund Freud deriving out of his classic contributions dating from 1930, and from authors who reworked on it most recently. To summarize, the obedient citizens of industrial society, repressed by the strictness of the law and the weight of guilt on "bourgeois morality" or "Protestant ethics," asphyxiated by the solid institutional walls and rigidity of the modern "iron cage", would be losing predominance today. In its place, today's hyper-stimulated, addicted, self-centered consumers proliferate, always attached to the ubiquitous technical apparatus of connecting to the Internet and as seduced as unsatisfied by endless marketing delights under the constant demand to perform visibility and to manage themselves according to rituals of “entrepreneurial spirit”.166f.Sibilia, PaulaMendonça, KleberSaint Clair, EricsonMendonça, AlexandreFreire Filho, JoãoVaz, PauloJorge, Marianna Ferreira2020-12-16T14:26:30Z2020-12-16T14:26:30Z2019info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfJORGE, Marianna Ferreira. A droga da conexão: transformações no mal-estar moderno e nas estratégias de resistência. 2019. 166 f. 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