Um estranho à margem: uma leitura semiótica do narrador de memórias em Milton Hatoum

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Virginio, Cinthia Paes
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: http://app.uff.br/riuff/handle/1/25584
Resumo: Sob a perspectiva da semiótica discursiva de linha francesa, este trabalho analisa a construção do narrador de memórias, em Dois irmãos e Órfãos do Eldorado, ambos romances do escritor amazonense Milton Hatoum. Nesses textos, o narrador, também personagem – marcado pela segregação e marginalização –, questiona não apenas sua identidade, mas também reflete sobre o lugar da alteridade e da memória no contexto social. Na análise, propõe-se uma leitura semiótica da memória e discute-se, por meio da articulação entre as categorias continuidade e descontinuidade, como os estados e transformações do sujeito atuam no percurso de consolidação da identidade. Admite-se que os procedimentos de delegação de vozes, de focalização e de aspectualização, aliados à paixão do ressentimento e aos estados de espera e de falta, determinam a organização e a orientação da estrutura narrativa. À luz das proposições de Eric Landowski (2014; 2017), investiga-se a relação identidade/alteridade, a partir do exame da interação entre o eu e o outro, concebida como essencial para a constituição das memórias individuais e coletivas e, consequentemente, do discurso do narrador. Defende-se, ainda, que a prática da segregação está associada ao regime do ajustamento, o que justifica a coexistência de grupos distintos em um mesmo cenário e a interação entre o narrador e as demais personagens. Além disso, o trabalho analisa, sob a perspectiva tensiva (ZILBERBERG, 2011), a relação entre continuidades e descontinuidades, assumindo que a memória pode atuar como um operador de triagem. Essa faceta do discurso da memória permite diminuir a concentração de informações ao longo dos anos e assegurar maior inteligibilidade aos acontecimentos, através de desacelerações e de paradas estratégicas, empregadas para diminuir o impacto de determinadas lembranças. Por fim, a análise contempla os componentes semânticos do discurso, a partir do olhar do sujeito e do seu modo de apreensão e percepção dos objetos do mundo, com destaque para a relação homem-rio, que remete não apenas à natureza, mas também às transformações sofridas pelo narrador ao longo do percurso. Com isso, torna-se possível depreender que o estilo do ator da enunciação nas obras de Hatoum revela-se através de um corpo em processo – fragmentado, em continuidade, assim como suas memórias –, que recorre à “presença do outro” (LANDOWSKI, 2017) para refletir sobre suas idiossincrasias e questionar o seu lugar no mundo.
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Essa faceta do discurso da memória permite diminuir a concentração de informações ao longo dos anos e assegurar maior inteligibilidade aos acontecimentos, através de desacelerações e de paradas estratégicas, empregadas para diminuir o impacto de determinadas lembranças. Por fim, a análise contempla os componentes semânticos do discurso, a partir do olhar do sujeito e do seu modo de apreensão e percepção dos objetos do mundo, com destaque para a relação homem-rio, que remete não apenas à natureza, mas também às transformações sofridas pelo narrador ao longo do percurso. Com isso, torna-se possível depreender que o estilo do ator da enunciação nas obras de Hatoum revela-se através de um corpo em processo – fragmentado, em continuidade, assim como suas memórias –, que recorre à “presença do outro” (LANDOWSKI, 2017) para refletir sobre suas idiossincrasias e questionar o seu lugar no mundo.From the perspective of French Semiotics, this dissertation analyzes the construction of the narrator of memories, in Dois Irmãos as well in Órfãos do Eldorado, both novels by the Amazonian writer Milton Hatoum. In these texts, the narrator, who is also a character – marked by segregation and marginalization –, not only questions his identity, but also reflects on the place of otherness and memory in a social context. This analysis proposes a semiotic reading of memory and discusses how the states and transformations of the subject act in the course to consolidate the identity through the interaction between the categories continuity and discontinuity. It is acknowledged that the processes concerning of delegation of voices, focalization and aspectualization, combined to the passion of resentment and the states of waiting and lacking, determine the organization and orientation of the narrative structure. The identity/otherness relationship is investigated taking into account the propositions of Eric Landowski (2014; 2017), from the examination of the interaction between the self and the other, regarded as essential for the establishment of both individual and collective memories and, consequently, of the narrator's speech. This research also holds that the practice of segregation is associated with the regime of adjustment, which justifies the coexistence of distinct groups in the same scenario and the interaction between the narrator and the other characters. Furthermore, this study explores the relationship between continuities and discontinuities, from a tensive perspective (ZILBERBERG, 2011), assuming that memory can act as a sorting operator. This aspect of the memory discourse enables the reduction in the concentration of information over the years and ensures an increased intelligibility of events, through decelerations and strategic stops, adopted to diminish the impact of certain memories. Lastly, this analysis addresses the semantic components of the discourse, through the eyes of the subject and his method for apprehending and perceiving objects in the world, highlighting the relationship between man and river, referring not only to nature, but also to the transformations undergone by the narrator along the way. As a result, one can deduce that the actor's style of enunciation in the works of Hatoum is revealed through a body in process – fragmented, in continuity, much like his memories –, resorting to the "presence of the other" (LANDOWSKI, 2017) to reflect on his own idiosyncrasies and challenge his place in the world.206 p.Sousa, Silvia Maria deBarros, Mariana Luz Pessoa deGarcia, Mireille MarieOliveira, Lucia Teixeira de Siqueira eLima, André Luiz DiasVirginio, Cinthia Paes2022-07-06T14:54:34Z2022-07-06T14:54:34Z2022info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfVIRGINIO, Cinthia Paes. Um estranho à margem: uma leitura semiótica do narrador de memórias em Milton Hatou. 2022. 206 f. 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