Tempo das utopias: religião e romantismos revolucionários no imaginário da Teologia da Libertação dos anos 1960 aos 1990

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Sandro Ramon Ferreira da
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: https://app.uff.br/riuff/handle/1/233
Resumo: A partir dos anos 1960, a América Latina conheceu um período de grandes transformações com o crescente número de golpes e contragolpes de Estado, que fizeram emergir regimes políticos autoritários, amparados nas Doutrinas de Segurança Nacional e, em certos lugares, numa modernização conservadora do capitalismo, que agravou ainda mais as precárias condições de vida da enorme maioria da população do continente, isto é, os milhares de trabalhadores pobres no campo e nas cidades. Nesse contexto, ganharam força os vários grupos de esquerda que, inspirados num certo romantismo revolucionário e no retumbante sucesso da Revolução Cubana, acreditaram ser possível construir uma modernidade alternativa para a América Latina. Alguns setores da Igreja latino-americana beberam profundamente dos ideais compartilhados nessas esquerdas e passaram por um significativo processo de transformação nas suas práticas, crenças e ideários, gestando um movimento social que tem sido chamado de cristianismo de libertação. As várias reflexões de homens da Igreja sobre as então desejadas mudanças políticas, econômicas, sociais e eclesiais no continente, beneficiadas pelas encíclicas sociais dos papas João XXIII e Paulo VI, pelos documentos oriundos do Concílio Vaticano II e de Medellín, deram origem à teologia da libertação, que se tornou um suporte teórico das esquerdas católicas da América Latina. Assim, padres, bispos, religiosos e fieis leigos, no Brasil e no restante do continente, compartilharam vivamente uma nova cultura política que redefinia continuamente a maneira do cristão estar no mundo e sua visão sobre ele. Estabelecendo uma forte conexão entre fé e vida, religiosidade e lutas sociais. Professando uma grande centralidade na relação Deus-pobre, que conduziria à vitória do Projeto de Deus para as sociedades históricas. Com uma hermenêutica bíblica compreendida a partir de uma chave de leitura marxista, projetou novas representações coletivas de um de Jesus revolucionário, de um Moisés guerrilheiro, de Che Guevara como lutador do Reino, e da Revolução Sandinista como Sagrada. Bem como ressignificou outras, milenares, da tradição cristã como Reino de Deus, profetismo, martírio etc. Transformando, assim, todo o patrimônio cultural e religioso do catolicismo romano. Tais perspectivas ajudaram a criar um imaginário social de uma guerra do Deus cristão, libertador, contra os deuses opressores do capitalismo e dos regimes políticos compreendidos como injustos, e transformaram a Bíblia numa espécie de aporte teórico para a revolução. Motivaram diversas lutas sociais no campo e nas cidades, principalmente através das Comunidades Eclesiais de Base e da ação dos setores mais progressistas da Hierarquia católica. Geraram adesões e rejeições dentro da própria Igreja, na imprensa e nos diversos meios sociais, criando um grande debate e um grande embate ideológico-religioso que se manteve extremamente intenso, pelo menos, até os anos 1990. Para melhor compreender esse imaginário social com as mediações que utilizou, as representações coletivas que projetou e as construções de sentidos que forjou, recorremos aos pressupostos da História Cultural, dialogando, sempre que possível, com as disciplinas da linguística, da sociologia e da antropologia social. Além de beneficiarmo-nos intensamente com as metodologias da História Oral.
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Alguns setores da Igreja latino-americana beberam profundamente dos ideais compartilhados nessas esquerdas e passaram por um significativo processo de transformação nas suas práticas, crenças e ideários, gestando um movimento social que tem sido chamado de cristianismo de libertação. As várias reflexões de homens da Igreja sobre as então desejadas mudanças políticas, econômicas, sociais e eclesiais no continente, beneficiadas pelas encíclicas sociais dos papas João XXIII e Paulo VI, pelos documentos oriundos do Concílio Vaticano II e de Medellín, deram origem à teologia da libertação, que se tornou um suporte teórico das esquerdas católicas da América Latina. Assim, padres, bispos, religiosos e fieis leigos, no Brasil e no restante do continente, compartilharam vivamente uma nova cultura política que redefinia continuamente a maneira do cristão estar no mundo e sua visão sobre ele. Estabelecendo uma forte conexão entre fé e vida, religiosidade e lutas sociais. Professando uma grande centralidade na relação Deus-pobre, que conduziria à vitória do Projeto de Deus para as sociedades históricas. Com uma hermenêutica bíblica compreendida a partir de uma chave de leitura marxista, projetou novas representações coletivas de um de Jesus revolucionário, de um Moisés guerrilheiro, de Che Guevara como lutador do Reino, e da Revolução Sandinista como Sagrada. Bem como ressignificou outras, milenares, da tradição cristã como Reino de Deus, profetismo, martírio etc. Transformando, assim, todo o patrimônio cultural e religioso do catolicismo romano. Tais perspectivas ajudaram a criar um imaginário social de uma guerra do Deus cristão, libertador, contra os deuses opressores do capitalismo e dos regimes políticos compreendidos como injustos, e transformaram a Bíblia numa espécie de aporte teórico para a revolução. Motivaram diversas lutas sociais no campo e nas cidades, principalmente através das Comunidades Eclesiais de Base e da ação dos setores mais progressistas da Hierarquia católica. Geraram adesões e rejeições dentro da própria Igreja, na imprensa e nos diversos meios sociais, criando um grande debate e um grande embate ideológico-religioso que se manteve extremamente intenso, pelo menos, até os anos 1990. Para melhor compreender esse imaginário social com as mediações que utilizou, as representações coletivas que projetou e as construções de sentidos que forjou, recorremos aos pressupostos da História Cultural, dialogando, sempre que possível, com as disciplinas da linguística, da sociologia e da antropologia social. Além de beneficiarmo-nos intensamente com as metodologias da História Oral.Since the 1960’s, Latin American knew a period of a great changes with the growing number of coups and counter coups, from which emerged authoritarian political regimes, supported by Doctrines of National Security and, in certain places, in a conservative modernization of capitalism, which aggravated even more the precarious life conditions of the great majority of the continent’s population, namely, the thousands of poor workers in the cities and on the countryside. On this context, various leftist groups gained power which, inspired by a certain revolutionary romanticism an in the resounding success of the Cuban Revolution, believed to be possible to make an alternative modernity of Latin America. Some sectors of the Latin America Church drank deeply from the ideals shared in those lefts and went through a significant process of transformation in their practices, beliefs and ideals, gestating a social movement which has been called Liberation Christianity. The multiple reflections of the church’s men about the then desired political, economic, social and ecclesial changes on the continent, benefit from the social encyclicals of the Popes John XXIII and Paul VI, by documents of the Second Vatican Council and from Medellín, resulted in the liberation theology, which became the theoretical support of the Latin Americans catholic lefts. Thus, priests, bishops, religious and lay faithful in Brazil and on the rest of the continent, shared vividly a new political culture that continually redefined way of the Christian being in the world and his view about it. Establishing a strong connection between faith and life, religiosity and social struggles. Professing a great centrality in relation God-poor, which would lead to the victory of the Plan of God for historical societies. With a biblical hermeneutics understood from a key Marxist reading, designed new collective representations of a Revolutionary Jesus, of a guerrilla Moses, of Che Guevara as a Fighter of the Kingdom, and of the Nicaragua Revolution as Sacred. Just as re-signified other, millenarian, of the Christian Tradition, like the Kingdom of God, profetism, martyrdom etc. This way, transforming all the cultural and religious patrimony of Roman Catholicism. Such perspectives helped in the creation of an social imaginary of a war of the Christian God, liberator, against the oppressive gods of capitalism and for the political regimes understood as unfair, and transformed the Bible in a theoretical support for the revolution. They have motivated several social conflicts on the countryside and in the cities, mainly through the Basic Ecclesial Communities and the action of the more progressive sectors of the Catholic Hierarchy. The generated accessions and rejections inside the Church, in the press and in several social media, creating a big debate and a great ideological-religious clash that remained extremely intense, a least until the 1990’s. For a better understanding of the social imaginary that was utilized, the collective representations that it projected and the constructions of meaning that were forged, we resort to the assumptions of the Cultural History, dialoging, whenever is possible, with the disciplines of linguistics, sociology and social anthropology. Besides benefiting us intensely with the methodologies of Oral History.Reis Filho, Daniel AarãoLima, Marcelo Ayres CamurçaMariz, Cecília LoretoAssis, João Marcos FigueiredoCosta, Marcelo da Silva Thimóteo daSilva, Sandro Ramon Ferreira da2014-02-05T18:58:16Z2014-02-05T18:58:16Z2013info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfSILVA, Sandro Ramon Ferreira da. Tempo das utopias: religião e romantismos revolucionários no imaginário da Teologia da Libertação dos anos 1960 aos 1990. 2013. 294 f. Tese (Doutorado em História) – Departamento de História, Universidade Federal Fluminense Niterói, 2013. 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