O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2023 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
Texto Completo: | http://app.uff.br/riuff/handle/1/28189 |
Resumo: | O ideário de desenvolvimento da Amazônia encontrou nos grandes projetos minerais um mecanismo capaz de colocar em suspensão toda a complexidade e diversidade territorial regional, em nome de uma geografia mais ―racional‖. Pensados para uma região historicamente distante das imaginações geográficas que definiram os ideais de nação, para desencadear uma atividade econômica historicamente tratada como de interesse e segurança nacional, a mineração, e por meio de dispositivos políticos, os grandes projetos, que se realizam, via de regra, por processos de suspensão normativa e excepcionalidade jurídica, esses grandes empreendimentos expressam uma racionalidade corporativa de governo do território na Amazônia, que se realiza por práticas subterrâneas que tornam a política uma guerra e a exceção uma regra. É essa geografia de exceção que esse trabalho problematiza, expressando suas condições de emergência e suas lógicas de realização, mas, fundamentalmente, demonstrando as territorialidades em r-existência a ela. Analisando a expressão paradigmática desse processo na Amazônia: a dinâmica de exploração do ferro no corredor Carajás-Itaqui pela empresa Vale S. A., percebemos que a criação de mediações espaciais que garantem o acesso a recursos e terras à empresa, concretiza-se numa esfera de indeterminação política, transformando os espaços necessários à realização do metabolismo social da mineração em territórios administráveis, e os povos e comunidades que os habitam, em riscos a serem geridos e/ou eliminados. Entretanto, a diversidade territorial de Carajás emerge como imperativo político e epistêmico a demonstrar que os caminhos do ferro na Amazônia, também são caminhos indígenas, quilombolas, pescadores, camponeses... Essas distintas territorialidades, não obstante suas dinâmicas de antagonismo à mineração são, antes de tudo, lutas pelo reconhecimento de matrizes de racionalidade distintas, de outros modos de se relacionar com a terra, com a floresta, com os rios, pois que se fazer existir em sua diferença é o desafio maior de quem habita a exceção. Nesses termos, geografias em r-existência afirmam-se denunciando os silêncios históricos da mineração na Amazônia, expressando territorialidades que preenchem de vida e pluralizam os ritmos de um espaço pensado, unicamente, para seguir os tempos financeirizados das commodities. |
id |
UFF-2_ac7396899ba15417a0e9254c52f6f8b6 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:app.uff.br:1/28189 |
network_acronym_str |
UFF-2 |
network_name_str |
Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
repository_id_str |
2120 |
spelling |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na AmazôniaTerritórioMineraçãoEstado de ExceçãoR-existênciasCarajásTerritorialidade humanaMineraçãoEstado de exceçãoAmazôniaTerritoryMiningState of ExceptionExistence/ResistanceCarajásO ideário de desenvolvimento da Amazônia encontrou nos grandes projetos minerais um mecanismo capaz de colocar em suspensão toda a complexidade e diversidade territorial regional, em nome de uma geografia mais ―racional‖. Pensados para uma região historicamente distante das imaginações geográficas que definiram os ideais de nação, para desencadear uma atividade econômica historicamente tratada como de interesse e segurança nacional, a mineração, e por meio de dispositivos políticos, os grandes projetos, que se realizam, via de regra, por processos de suspensão normativa e excepcionalidade jurídica, esses grandes empreendimentos expressam uma racionalidade corporativa de governo do território na Amazônia, que se realiza por práticas subterrâneas que tornam a política uma guerra e a exceção uma regra. É essa geografia de exceção que esse trabalho problematiza, expressando suas condições de emergência e suas lógicas de realização, mas, fundamentalmente, demonstrando as territorialidades em r-existência a ela. Analisando a expressão paradigmática desse processo na Amazônia: a dinâmica de exploração do ferro no corredor Carajás-Itaqui pela empresa Vale S. A., percebemos que a criação de mediações espaciais que garantem o acesso a recursos e terras à empresa, concretiza-se numa esfera de indeterminação política, transformando os espaços necessários à realização do metabolismo social da mineração em territórios administráveis, e os povos e comunidades que os habitam, em riscos a serem geridos e/ou eliminados. Entretanto, a diversidade territorial de Carajás emerge como imperativo político e epistêmico a demonstrar que os caminhos do ferro na Amazônia, também são caminhos indígenas, quilombolas, pescadores, camponeses... Essas distintas territorialidades, não obstante suas dinâmicas de antagonismo à mineração são, antes de tudo, lutas pelo reconhecimento de matrizes de racionalidade distintas, de outros modos de se relacionar com a terra, com a floresta, com os rios, pois que se fazer existir em sua diferença é o desafio maior de quem habita a exceção. Nesses termos, geografias em r-existência afirmam-se denunciando os silêncios históricos da mineração na Amazônia, expressando territorialidades que preenchem de vida e pluralizam os ritmos de um espaço pensado, unicamente, para seguir os tempos financeirizados das commodities.The ideology of the Amazon‘s development has found in the big mineral projects a mechanism able to put in suspension the complexity and diversity of that region on behalf of a more ―rational‖ geography. The projects were thought for a region historically away from the geographical imagination that defined the idea of a nation, and initiated an economic activity historically treated as one of national security and interest: mining. Using political arrangements, these big projects (usually doneby rules ofsuspension and juridical exception) express a governmental corporate rationality about the Amazonianterritory that is done through underground practices which not only turn the politics into a war, but also make the exception a rule. It is precisely this geography of exception that this research problematizes, expressing its emergency conditions and its logic of realization but, fundamentally, demonstrating the territories in existence (and resistance) to it. Analyzing the paradigmatic expression of this process in the Amazon: the dynamics of iron exploitation in Carajás-Itaqui by the company Vale S.A, we notice that the creation of spatial mediations, which guarantee to the company the access to resources and lands, occurs in a sphere of political indetermination, turning the spaces needed for the mining social practices into manageable territories, and the people who live in these places are turned into a risk that need to be managed or even eliminated. However, the diversity of Carajás‘s territory emerges as a political and epistemic imperative in order to demonstrate that the path of the iron in the Amazon is also a path of indigenous people, quilombolas, fishermen, peasants. These distinct territorialities -regardless of its dynamics of antagonism to the mining- are, first and foremost, fights for the recognition of matrices of distinct rationalities, of other ways of relating with the land, the forest, the rivers. To exist in the difference is the biggest challenge of those who live in the exception. Accordingly, geographies in existence and resistance affirm themselvesby denouncing the historical silences ofmining in the Amazon, expressing territorialities that fulfill the life and pluralize the rhythms of a space thought primarily to follow the financial times of commodities.439 p.Cruz, Valter do CarmoGonçalves , Carlos Walter PortoAcselrad, HenriMarques, Marta Inez MedeirosAráoz, Horacio Alejandro César MachadoMalheiro, Bruno Cezar Pereira2023-03-13T18:07:28Z2023-03-13T18:07:28Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfMALHEIRO, Bruno Cezar Pereira. O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia. 2019. 439 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.http://app.uff.br/riuff/handle/1/28189CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2023-03-13T18:07:33Zoai:app.uff.br:1/28189Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T10:53:52.028739Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia |
title |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia |
spellingShingle |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia Malheiro, Bruno Cezar Pereira Território Mineração Estado de Exceção R-existências Carajás Territorialidade humana Mineração Estado de exceção Amazônia Territory Mining State of Exception Existence/Resistance Carajás |
title_short |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia |
title_full |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia |
title_fullStr |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia |
title_full_unstemmed |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia |
title_sort |
O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia |
author |
Malheiro, Bruno Cezar Pereira |
author_facet |
Malheiro, Bruno Cezar Pereira |
author_role |
author |
dc.contributor.none.fl_str_mv |
Cruz, Valter do Carmo Gonçalves , Carlos Walter Porto Acselrad, Henri Marques, Marta Inez Medeiros Aráoz, Horacio Alejandro César Machado |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Malheiro, Bruno Cezar Pereira |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Território Mineração Estado de Exceção R-existências Carajás Territorialidade humana Mineração Estado de exceção Amazônia Territory Mining State of Exception Existence/Resistance Carajás |
topic |
Território Mineração Estado de Exceção R-existências Carajás Territorialidade humana Mineração Estado de exceção Amazônia Territory Mining State of Exception Existence/Resistance Carajás |
description |
O ideário de desenvolvimento da Amazônia encontrou nos grandes projetos minerais um mecanismo capaz de colocar em suspensão toda a complexidade e diversidade territorial regional, em nome de uma geografia mais ―racional‖. Pensados para uma região historicamente distante das imaginações geográficas que definiram os ideais de nação, para desencadear uma atividade econômica historicamente tratada como de interesse e segurança nacional, a mineração, e por meio de dispositivos políticos, os grandes projetos, que se realizam, via de regra, por processos de suspensão normativa e excepcionalidade jurídica, esses grandes empreendimentos expressam uma racionalidade corporativa de governo do território na Amazônia, que se realiza por práticas subterrâneas que tornam a política uma guerra e a exceção uma regra. É essa geografia de exceção que esse trabalho problematiza, expressando suas condições de emergência e suas lógicas de realização, mas, fundamentalmente, demonstrando as territorialidades em r-existência a ela. Analisando a expressão paradigmática desse processo na Amazônia: a dinâmica de exploração do ferro no corredor Carajás-Itaqui pela empresa Vale S. A., percebemos que a criação de mediações espaciais que garantem o acesso a recursos e terras à empresa, concretiza-se numa esfera de indeterminação política, transformando os espaços necessários à realização do metabolismo social da mineração em territórios administráveis, e os povos e comunidades que os habitam, em riscos a serem geridos e/ou eliminados. Entretanto, a diversidade territorial de Carajás emerge como imperativo político e epistêmico a demonstrar que os caminhos do ferro na Amazônia, também são caminhos indígenas, quilombolas, pescadores, camponeses... Essas distintas territorialidades, não obstante suas dinâmicas de antagonismo à mineração são, antes de tudo, lutas pelo reconhecimento de matrizes de racionalidade distintas, de outros modos de se relacionar com a terra, com a floresta, com os rios, pois que se fazer existir em sua diferença é o desafio maior de quem habita a exceção. Nesses termos, geografias em r-existência afirmam-se denunciando os silêncios históricos da mineração na Amazônia, expressando territorialidades que preenchem de vida e pluralizam os ritmos de um espaço pensado, unicamente, para seguir os tempos financeirizados das commodities. |
publishDate |
2023 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2023-03-13T18:07:28Z 2023-03-13T18:07:28Z |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
format |
doctoralThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
MALHEIRO, Bruno Cezar Pereira. O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia. 2019. 439 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019. http://app.uff.br/riuff/handle/1/28189 |
identifier_str_mv |
MALHEIRO, Bruno Cezar Pereira. O que vale em Carajás? : geografias de exceção e r-existência pelos caminhos do ferro na Amazônia. 2019. 439 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019. |
url |
http://app.uff.br/riuff/handle/1/28189 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
CC-BY-SA info:eu-repo/semantics/openAccess |
rights_invalid_str_mv |
CC-BY-SA |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) instname:Universidade Federal Fluminense (UFF) instacron:UFF |
instname_str |
Universidade Federal Fluminense (UFF) |
instacron_str |
UFF |
institution |
UFF |
reponame_str |
Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
collection |
Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF) |
repository.mail.fl_str_mv |
riuff@id.uff.br |
_version_ |
1811823601351917568 |