Aspectos oníricos em O Homem da aeia de E.T. A. Hoffmann

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Carijó, Sílvia Herkenhoff
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: https://app.uff.br/riuff/handle/1/10938
Resumo: Esta dissertação analisa o modo como os sonhos são representados no conto “O homem da areia”, de E.T.A. Hoffmann, e discute algumas de suas funções nessa obra. A existência de uma separação entre um mundo dos sonhos e um mundo da realidade cotidiana na narrativa é indicada, e atributos das experiências relacionadas com esse mundo onírico são apontados, além de formas de acesso a ele. No primeiro capítulo, o autor é apresentado, assim como características de sua obra e a ligação da última com os sonhos. Baseados no trabalho de Pikulik (1987), discutimos aspectos centrais da obra de Hoffmann, como: a divisão entre mundo interior (do maravilhoso) – ao qual os sonhos estão relacionados – e mundo exterior (da realidade cotidiana); as diversas formas como essa divisão é marcada; e a relação que Hoffmann estabelece entre esses mundos. Trabalhamos com uma noção ampliada de sonho, que não os restringe às experiências oníricas que acompanham o sono. Assim, seguimos a argumentação de Heimes (2009), segundo a qual os sonhos, em Hoffmann, estão associados a outros estados em que nos afastamos do consciente – como o delírio ou a loucura –, e parecem se relacionar com algo demoníaco. No segundo capítulo, voltamo-nos para o conto “O homem da areia”, apresentando-o e analisando como os sonhos são representados nele. A figura mitológica do homem da areia está desde sua origem associada aos sonhos e recebe, nesta narrativa, um caráter amedrontador. Para ressaltar os aspectos oníricos da obra, partimos da separação entre o mundo dos sonhos e o mundo do que seria a realidade cotidiana no conto – separação essa que demonstramos estar atrelada à ótica de certos personagens. Logo após, assinalamos alguns elementos que marcam e caracterizam as experiências pertencentes ao mundo dos sonhos no texto, tais como imagens flutuantes e alucinantes; intensidade e fogo; e nuvens, fumaça e vapor. Apontamos também que certos personagens e objetos indicam o momento de transição para esse mundo. Neste trabalho, demonstramos que as experiências oníricas do personagem principal apresentam caráter pressagiador, e que essa característica possui ligação com o destino trágico e inevitável temido por ele. Além disso, a divisão entre os mundos é evidenciada como problemática, por conta da incerteza quanto a que mundo atribuir os acontecimentos narrados. Essa característica de não se poder atribuir ao certo os acontecimentos a um mundo real ou a algo ilusório introduz a narrativa dentro do gênero fantástico, segundo os critérios de Tzvetan Todorov (2007). Também mostramos o lado perigoso do envolvimento do personagem principal com o mundo dos sonhos, uma vez que o leva a se desprender da realidade. Esse desprendimento ocorre gradativamente, havendo inicialmente uma oscilação entre os mundos, culminando na loucura do personagem – que comparamos a um grande pesadelo. Analisamos, neste contexto, a contribuição da revivescência de acontecimentos pressagiados em sonhos anteriores para o enlouquecimento do personagem. Por último, trazemos observações sobre a figuração do homem da areia no conto, mostrando sua ligação com o mundo dos sonhos, assim como sua conexão com a morte
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Baseados no trabalho de Pikulik (1987), discutimos aspectos centrais da obra de Hoffmann, como: a divisão entre mundo interior (do maravilhoso) – ao qual os sonhos estão relacionados – e mundo exterior (da realidade cotidiana); as diversas formas como essa divisão é marcada; e a relação que Hoffmann estabelece entre esses mundos. Trabalhamos com uma noção ampliada de sonho, que não os restringe às experiências oníricas que acompanham o sono. Assim, seguimos a argumentação de Heimes (2009), segundo a qual os sonhos, em Hoffmann, estão associados a outros estados em que nos afastamos do consciente – como o delírio ou a loucura –, e parecem se relacionar com algo demoníaco. No segundo capítulo, voltamo-nos para o conto “O homem da areia”, apresentando-o e analisando como os sonhos são representados nele. A figura mitológica do homem da areia está desde sua origem associada aos sonhos e recebe, nesta narrativa, um caráter amedrontador. Para ressaltar os aspectos oníricos da obra, partimos da separação entre o mundo dos sonhos e o mundo do que seria a realidade cotidiana no conto – separação essa que demonstramos estar atrelada à ótica de certos personagens. Logo após, assinalamos alguns elementos que marcam e caracterizam as experiências pertencentes ao mundo dos sonhos no texto, tais como imagens flutuantes e alucinantes; intensidade e fogo; e nuvens, fumaça e vapor. Apontamos também que certos personagens e objetos indicam o momento de transição para esse mundo. Neste trabalho, demonstramos que as experiências oníricas do personagem principal apresentam caráter pressagiador, e que essa característica possui ligação com o destino trágico e inevitável temido por ele. Além disso, a divisão entre os mundos é evidenciada como problemática, por conta da incerteza quanto a que mundo atribuir os acontecimentos narrados. Essa característica de não se poder atribuir ao certo os acontecimentos a um mundo real ou a algo ilusório introduz a narrativa dentro do gênero fantástico, segundo os critérios de Tzvetan Todorov (2007). Também mostramos o lado perigoso do envolvimento do personagem principal com o mundo dos sonhos, uma vez que o leva a se desprender da realidade. Esse desprendimento ocorre gradativamente, havendo inicialmente uma oscilação entre os mundos, culminando na loucura do personagem – que comparamos a um grande pesadelo. Analisamos, neste contexto, a contribuição da revivescência de acontecimentos pressagiados em sonhos anteriores para o enlouquecimento do personagem. Por último, trazemos observações sobre a figuração do homem da areia no conto, mostrando sua ligação com o mundo dos sonhos, assim como sua conexão com a morteThis dissertation analyzes the ways in which dreams are represented in the short story “The Sandman”, by E.T.A. Hoffman, and discusses some of the functions they perform in it. The existence of a split between a world of dreams and a world of everyday reality is pointed out, and features of the experiences related to the dream world, as well as forms of access to it, are indicated. In the first chapter, I present the author along with some features of his work, including the connection between the latter and dreams. Drawing on the work of Pikulik (1987), I discuss some of the central features of Hoffmann’s work, such as: the division between the inner world (the world of the marvelous) – to which dreams are related – and the outer world (the world of everyday reality); the many ways in which this division is drawn; and the links that Hoffmann establishes between those worlds. I employ a broadened notion of dream – one that is not limited to the dream experiences that accompany sleep. I thus follow Heimes’ (2009) argument that, in Hoffmann, dreams are associated to further mental states in which we slip away from consciousness – such as delusion or madness – and that appear to be related to something demonic. In the second chapter, I turn to the story “The Sandman”: I first present it and then analyze the way dreams are represented in it. The mythical character referred to as Sandman has been from its origin associated to dreams, and in this story it is presented as frightening. In order to highlight the dreamlike features of the story, I draw on the division between the world of dreams and the world of what is portrayed as everyday reality in the story – a division that I show to be linked to the points of view of certain characters. I then point out some of the features that mark and specify those experiences belonging to the world of dreams in the text, such as floating and hallucinatory images; intensity and fire; and clouds, smoke and vapor. I also remark that certain characters and objects indicate moments of transition into that world. I further show that the protagonist’s dream experiences function as omens, and that this feature is linked to the tragic and inevitable fate feared by him. Moreover, the division between the two worlds is shown to be problematic, since it is not clear to which of them the narrated events should be assigned. The fact that the events cannot be unequivocally assigned to the real world or interpreted as illusions makes the story an instance of the fantastic genre, according to Tzvetan Todorov’s (2007) criteria. I also show the dangerous side to the protagonist’s connection to the world of dreams, as it leads him away from reality. Such depart from reality develops gradually, there being initially an oscillation between worlds which later culminates in the protagonist’s madness – which I compare to a vast nightmare. In this connection, I also analyze the part played in the protagonist’s madness by the resurgence of events foreshadowed in dreams. Lastly, I make remarks on the way the Sandman is88 f.Kretschmer, JohannesCardoso, André Cabral de AlmeidaHuber, ValburgaCarijó, Sílvia Herkenhoff2019-08-23T16:08:51Z2019-08-23T16:08:51Z2014info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://app.uff.br/riuff/handle/1/10938openAccesshttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2022-01-18T18:44:58Zoai:app.uff.br:1/10938Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T11:09:16.983769Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
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