Fetichismo e reencantamento do mundo em Lourenço Mutarelli

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Vilela, André Ricardo Freitas Bezerra
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: https://app.uff.br/riuff/handle/1/21892
Resumo: No contexto do capitalismo tardio, em que tudo é subsumido ao ímpeto homogeneizador da sociedade de mercado, todas as coisas dotadas de conteúdo afetivo são reduzidas à categoria de meros objetos. Principalmente, no romance de Mutarelli O cheiro do ralo, percebe-se que há uma grande alegoria do que se tornaram as relações humanas; ou seja, não é mais com suas histórias, suas personalidades e individualidades que os seres se deparam em seus vínculos, mas com seus preços no mercado. Nesse contexto, ocorre a coisificação das pessoas e a humanização das coisas, através do que Marx conceituou como alienação. Dessa maneira, procuramos entender como o autor critica essa sociedade comercializada, monetarizada e altamente mercantilizada, em que há a objetificação de singularidades das coisas, das pessoas e das relações, tornando-se árduo o retorno à dimensão não objetal. No entanto, se por um lado temos esse caráter instrumentalizante, por outro há todo um aspecto enfeitiçador promovido pelo fetichismo da mercadoria. Procura-se, dessa forma, mostrar como Mutarelli, assim como na manobra retórica da teoria do fetichismo marxista, escancara certas contradições no contexto do capitalismo tardio, desmistificando certos conceitos enraizados como sendo intrínsecos à modernidade. Dessa forma, ao retomar formas de conhecimento de mundo pré-racionais, marginalizadas, a partir da consolidação do status quo em que vivemos, o autor busca demonstrar o quanto há de mágico e animista no comportamento do homem de hoje. Portanto, dentro dessa linha de pensamento, o fetiche e a magia não seriam exclusividades dos nossos antecessores ditos “primitivos”. Por meio de nossa análise, retomando o conceito de fetiche e os desenvolvimentos teóricos posteriores à criação do termo, busca-se evidenciar um dos aspectos mais proeminentes da literatura de Mutarelli: a retomada e reativação de conhecimentos marginalizados e desqualificados. Somente dessa forma, seria possível provocar mudanças nas coordenadas que sustentam a realidade simbólica consolidada socialmente. Em contraposição à magia de segundo grau, com uma espécie de feitiçaria abstrata na sociedade moderna, própria do fetichismo da mercadoria, os personagens de Mutarelli buscam uma magia de primeira ordem, estabelecendo relações preenchidas de um significado para além do cotidiano. Tentam, desse modo, identificar ligações causais, repletas pelas ideias de acaso e destino, permitindo que os fenômenos se abram para perspectivas que remetam a modos de vida distintos dos consolidados na modernidade, imbuídos de um pensamento mágico. Ou sejam, clamam por um reencantamento do mundo, por meio de suas superstições, crenças e ficções
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Dessa maneira, procuramos entender como o autor critica essa sociedade comercializada, monetarizada e altamente mercantilizada, em que há a objetificação de singularidades das coisas, das pessoas e das relações, tornando-se árduo o retorno à dimensão não objetal. No entanto, se por um lado temos esse caráter instrumentalizante, por outro há todo um aspecto enfeitiçador promovido pelo fetichismo da mercadoria. Procura-se, dessa forma, mostrar como Mutarelli, assim como na manobra retórica da teoria do fetichismo marxista, escancara certas contradições no contexto do capitalismo tardio, desmistificando certos conceitos enraizados como sendo intrínsecos à modernidade. Dessa forma, ao retomar formas de conhecimento de mundo pré-racionais, marginalizadas, a partir da consolidação do status quo em que vivemos, o autor busca demonstrar o quanto há de mágico e animista no comportamento do homem de hoje. Portanto, dentro dessa linha de pensamento, o fetiche e a magia não seriam exclusividades dos nossos antecessores ditos “primitivos”. Por meio de nossa análise, retomando o conceito de fetiche e os desenvolvimentos teóricos posteriores à criação do termo, busca-se evidenciar um dos aspectos mais proeminentes da literatura de Mutarelli: a retomada e reativação de conhecimentos marginalizados e desqualificados. Somente dessa forma, seria possível provocar mudanças nas coordenadas que sustentam a realidade simbólica consolidada socialmente. Em contraposição à magia de segundo grau, com uma espécie de feitiçaria abstrata na sociedade moderna, própria do fetichismo da mercadoria, os personagens de Mutarelli buscam uma magia de primeira ordem, estabelecendo relações preenchidas de um significado para além do cotidiano. Tentam, desse modo, identificar ligações causais, repletas pelas ideias de acaso e destino, permitindo que os fenômenos se abram para perspectivas que remetam a modos de vida distintos dos consolidados na modernidade, imbuídos de um pensamento mágico. Ou sejam, clamam por um reencantamento do mundo, por meio de suas superstições, crenças e ficçõesCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorIn the context of late capitalism, in which everything is subsumed to the homogenizing impetus of the market society, all things that are endowed with affective content are reduced to the category of mere objects. Mainly, in Mutarelli's novel O cheiro do ralo [The smell of the drain], it is noticed that there is a great allegory of what human relationships have become; that is, it is no longer with their stories, their personalities and individualities that human beings encounter their social ties, but with their prices in the market. In this context, there is the reification of people and the humanization of things, through what Marx conceptualized as alienation. In this way, we seek to understand how the author criticizes this commercialized, monetized and highly commodified society, in which there is the objectification of singularities of things, people and relationships, making the return to the non-object dimension arduous. However, if, on the one hand, we have this instrumentalizing character, on the other, there is a whole enchant aspect promoted by the Commodity fetishism. In this way, we seek to show how Mutarelli, as in the rhetoric of Marx's theory of fetishism, opens up certain contradictions in the context of late capitalism, demystifying certain concepts rooted as being intrinsic to modernity. Thus, when he returns to pre-rational forms of knowledge of the world, marginalized from the consolidation of the status quo in which we live, the author seeks to demonstrate how magical and animist there is in the behaviour of today's man. Therefore, within this line of thought, fetish and magic would not be exclusive to our so-called “primitive” predecessors. Through our analysis, returning to the concept of fetish and the theoretical developments after the term creation, we seek to highlight one of the most prominent aspects of Mutarelli's literature: the reclaim of marginalized and disqualified knowledge. Only in this way, it would be possible to bring about changes in the coordinates that support the socially consolidated symbolic reality. In contrast to second-degree magic, with an abstract kind of witchcraft in modern society, typical of the Commodity fetishism, Mutarelli's characters seek first-rate magic, establishing relationships filled with a meaning beyond the everyday. In this way, they try to identify causal connections, replete with ideas of chance and destiny, allowing the phenomena to open up to perspectives that refer to ways of life different from those consolidated in modernity, imbued with a magical thought. In other words, they call for a re-enchantment of the world through their superstitions, beliefs and fictions204f.Farinaccio, PascoalCardoso, AndréChiarelli, StefaniaPeres, Ana Maria ClarkMendonça, Ricardo FabrinoVilela, André Ricardo Freitas Bezerra2021-05-05T20:00:09Z2021-05-05T20:00:09Z2021info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfVILELA, André Ricardo Freitas Bezerra. Fetichismo e reencantamento do mundo em Lourenço Mutarelli. 2021. 204f. 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