Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação (1909-1962)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Kropf, Simone Petraglia
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: http://app.uff.br/riuff/handle/1/24737
Resumo: O objetivo deste estudo é analisar o processo pelo qual a doença de Chagas ou tripanossomíase americana (descoberta em 1909, em Minas Gerais, por Carlos Chagas, médico e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz/IOC) foi estabelecida e reconhecida como um fato científico e uma questão de saúde pública no Brasil. Para isso, focalizamos dois momentos deste processo, no qual a definição da nova doença tropical como entidade nosológica específica deu-se de modo indissociado de sua caracterização como fato social, a representar uma dada visão da ciência e da sociedade brasileiras. Numa primeira fase, abordamos as pesquisas realizadas por Chagas e seus colaboradores, no IOC, desde 1909 até o seu falecimento, em 1934. Desde 1910, os enunciados sobre o quadro clínico e a importância médico-social da nova enfermidade ensejaram o debate sobre as condições do atraso das regiões do interior do país, a relação entre endemias rurais e identidade nacional e o papel social da ciência. Tal debate culminaria no chamado movimento pelo saneamento dos sertões, entre 1916 e 1920. Ao mesmo tempo, tais enunciados foram objeto de críticas, formuladas inicialmente na Argentina, entre 1915 e 1916, e aprofundadas no campo médico brasileiro, entre 1919 e 1923. Estes questionamentos marcaram de modo decisivo o encaminhamento dos estudos sobre a doença. Um segundo momento de nossas análise diz respeito às pesquisas realizadas, após 1934, por dois discípulos de Carlos Chagas em Manguinhos: Evandro Chagas, seu filho mais velho e criador do Serviço de Estudo das Grandes Endemias (SEGE), e, principalmente, Emmanuel Dias, que dirigiu o Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas (CEPMC), posto do IOC na cidade de Bambuí, Minas Gerais, desde sua criação, em 1943, até seu falecimento em 1962. Nesta fase, foram estabelecidos um novo enquadramento para a fisionomia clínica da doença e os recursos técnicos para a sua profilaxia, mediante aplicação de inseticidas. Tal processo transcorreu sob as condições históricas específicas da sociedade brasileira pós1930 e sob os significados particulares conferidos à relação entre saúde e desenvolvimento nos cenários internacional e nacional, especialmente a partir da II Guerra Mundial. Mediante intensa mobilização dos cientistas para difundir os conhecimentos sobre a doença e conquistar o interesse de distintos grupos sociais, foram produzidos os meios para que, durante a década de 1950, a tripanossomíase americana fosse reconhecida publicamente e se institucionalizasse como objeto científico e tema inscrito nas políticas sanitárias do Estado brasileiro
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Desde 1910, os enunciados sobre o quadro clínico e a importância médico-social da nova enfermidade ensejaram o debate sobre as condições do atraso das regiões do interior do país, a relação entre endemias rurais e identidade nacional e o papel social da ciência. Tal debate culminaria no chamado movimento pelo saneamento dos sertões, entre 1916 e 1920. Ao mesmo tempo, tais enunciados foram objeto de críticas, formuladas inicialmente na Argentina, entre 1915 e 1916, e aprofundadas no campo médico brasileiro, entre 1919 e 1923. Estes questionamentos marcaram de modo decisivo o encaminhamento dos estudos sobre a doença. Um segundo momento de nossas análise diz respeito às pesquisas realizadas, após 1934, por dois discípulos de Carlos Chagas em Manguinhos: Evandro Chagas, seu filho mais velho e criador do Serviço de Estudo das Grandes Endemias (SEGE), e, principalmente, Emmanuel Dias, que dirigiu o Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas (CEPMC), posto do IOC na cidade de Bambuí, Minas Gerais, desde sua criação, em 1943, até seu falecimento em 1962. Nesta fase, foram estabelecidos um novo enquadramento para a fisionomia clínica da doença e os recursos técnicos para a sua profilaxia, mediante aplicação de inseticidas. Tal processo transcorreu sob as condições históricas específicas da sociedade brasileira pós1930 e sob os significados particulares conferidos à relação entre saúde e desenvolvimento nos cenários internacional e nacional, especialmente a partir da II Guerra Mundial. Mediante intensa mobilização dos cientistas para difundir os conhecimentos sobre a doença e conquistar o interesse de distintos grupos sociais, foram produzidos os meios para que, durante a década de 1950, a tripanossomíase americana fosse reconhecida publicamente e se institucionalizasse como objeto científico e tema inscrito nas políticas sanitárias do Estado brasileiroThis study analyzes the process by which Chagas’ disease, or American trypanosomiasis, was established and recognized as a scientific fact and a public health issue in Brazil. This tropical disease was discovered in 1909, in the state of Minas Gerais, by Carlos Chagas, physician and researcher at the Oswaldo Cruz Institute (IOC). The process of its definition as a specific nosological entity was something that occurred concomitantly with its characterization as a social fact, representing a specific outlook of Brazilian science and society. Focusing on two moments in the process, I first address the research conducted by Chagas and his collaborators at the Institute from 1909 until his death in 1934. Starting in 1910, statements concerning the new disease’s clinical presentation and its medical and social importance stirred a debate encompassing basically three questions: the backward conditions characterizing the sertão (Brazilian hinterlands), the relationship between diseases endemic to rural areas and national identity, and the social role of science. The debate was to culminate in the 1916-20 rural sanitation movement. Furthermore, these statements were the object of criticisms raised first in Argentina (1914-16) and then expanded within the Brazilian medical field (1919-23), coming to have a decisive impact on the direction of research into the disease and on public recognition of it as a social issue. My second point of analysis focuses on the post-1934 research conducted by two disciples of Carlos Chagas at Manguinhos: Evandro Chagas, his elder son and founder of the Serviço de Estudo das Grandes Endemias (SEGE, or Bureau for Studies on Major Endemic Diseases), and, chiefly, Emmanuel Dias, who directed the Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas (CEPMC, or Center for Studies and Prophylaxis on Chagas’ Disease, an IOC post in the city of Bambuí, Minas Gerais) from its creation in 1943 until his death in 1962. This period saw a reframing of the disease’s clinical physiognomy and the development of technical methods for preventing it, through the use of insecticides. Forming the backdrop of this process were the unique historical circumstances of post1930 Brazilian society and, further, the specific meanings assigned to relations between health and development on the international and national fronts, particularly as of World War II. Scientists mobilized their forces to disseminate knowledge of the disease and to interest various social groups in the topic. During the 1950s, these efforts fostered public recognition and the institutionalization of Chagas’ disease as a scientific object and an issue on the roster of the Brazilian government’s sanitary policies546 f.Campos, André Luiz Vieira deFigueirôa, Silvia F.M.Benchimol, Jaime L.Gomes, Ângela M. de CastroEngel , MagaliKropf, Simone Petraglia2022-03-15T13:47:15Z2022-03-15T13:47:15Z2006info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfKROPF, Simone Petraglia. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação (1909-1962). 2006. 546 f. 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