Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Faro, Amanda Regis
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: https://app.uff.br/riuff/handle/1/33765
Resumo: A história dos caiçaras da Praia do Sono, comunidade tradicional localizada no município de Paraty, litoral sul fluminense, é marcada profundamente pelo conflito de terras, mas também por importantes processos de lutas e resistências. A comunidade, que se organizou em torno de atividades econômicas como a agricultura e a pesca, a partir da década de 1960 viu avançar sobre seus territórios diversos processos expropriatórios, desde as ameaças da especulação imobiliária, grilagens de suas terras, restrições de acesso aos seus caminhos tradicionais, até a criminalização de suas práticas produtivas por parte de órgãos ambientais. A sua organização política – tanto na escala local, quanto na municipal – para fazer frente aos seus antagonistas foi fundamental para que conseguissem permanecer no território e garantir seus modos de existência. Na atualidade, porém, outros fatores têm contribuído para a fragilização territorial deste povo. A lógica do desenvolvimento, fomentada pelo turismo, é hoje um dos principais fatores de transformação dos laços comunitários entre os caiçaras da Praia do Sono. Os vínculos de solidariedade e cooperação, estabelecidos ao longo de muitos anos através das práticas de apropriação técnica/material, social e cultural do território, e da organização política coletiva para fazer frente aos inúmeros conflitos, têm sido tensionados através de múltiplas separações provocadas pelo capital no tecido social. O comum, conceito que foi sendo ressignificado por diferentes autores, em estudos mais recentes tem sido apontado como uma força contrária à racionalidade neoliberal e como o embrião de uma transformação social mais profunda, capaz de promover a superação do capitalismo. Com intuito de contribuir não somente com análises teóricas, mas também para colaborar com a reflexão coletiva sobre os rumos das lutas em Paraty-RJ, este trabalho teve como objetivo compreender como se dá a produção do comum entre os caiçaras da Praia do Sono, considerando suas formas de organização interna e a mobilização coletiva junto a outros atores de luta para fazer frente a diferentes situações de conflito. Nesse sentido, buscamos analisar como se estruturou a noção de comunidade neste grupo ao longo do tempo, sob quais condições externas e internas as relações comunitárias cooperativas são construídas ou erodidas e quais os dispositivos sociais são capazes de sustentar as relações de solidariedade e cooperação. Os caiçaras da Praia do Sono mostraram ao longo de sua história, mas também em experiências recentes, que horizontes comunitários são possíveis, desde que o comum seja compreendido como ação e como prática contínua.
id UFF-2_dbecc1b6e93350527b26c42dbc575613
oai_identifier_str oai:app.uff.br:1/33765
network_acronym_str UFF-2
network_name_str Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
repository_id_str 2120
spelling Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)ComumTerritórioConflitoCaiçarasPraia do SonoCaiçaraTerritórioOrganização comunitáriaComúnTerritorioConflictoCaiçarasPraia do SonoA história dos caiçaras da Praia do Sono, comunidade tradicional localizada no município de Paraty, litoral sul fluminense, é marcada profundamente pelo conflito de terras, mas também por importantes processos de lutas e resistências. A comunidade, que se organizou em torno de atividades econômicas como a agricultura e a pesca, a partir da década de 1960 viu avançar sobre seus territórios diversos processos expropriatórios, desde as ameaças da especulação imobiliária, grilagens de suas terras, restrições de acesso aos seus caminhos tradicionais, até a criminalização de suas práticas produtivas por parte de órgãos ambientais. A sua organização política – tanto na escala local, quanto na municipal – para fazer frente aos seus antagonistas foi fundamental para que conseguissem permanecer no território e garantir seus modos de existência. Na atualidade, porém, outros fatores têm contribuído para a fragilização territorial deste povo. A lógica do desenvolvimento, fomentada pelo turismo, é hoje um dos principais fatores de transformação dos laços comunitários entre os caiçaras da Praia do Sono. Os vínculos de solidariedade e cooperação, estabelecidos ao longo de muitos anos através das práticas de apropriação técnica/material, social e cultural do território, e da organização política coletiva para fazer frente aos inúmeros conflitos, têm sido tensionados através de múltiplas separações provocadas pelo capital no tecido social. O comum, conceito que foi sendo ressignificado por diferentes autores, em estudos mais recentes tem sido apontado como uma força contrária à racionalidade neoliberal e como o embrião de uma transformação social mais profunda, capaz de promover a superação do capitalismo. Com intuito de contribuir não somente com análises teóricas, mas também para colaborar com a reflexão coletiva sobre os rumos das lutas em Paraty-RJ, este trabalho teve como objetivo compreender como se dá a produção do comum entre os caiçaras da Praia do Sono, considerando suas formas de organização interna e a mobilização coletiva junto a outros atores de luta para fazer frente a diferentes situações de conflito. Nesse sentido, buscamos analisar como se estruturou a noção de comunidade neste grupo ao longo do tempo, sob quais condições externas e internas as relações comunitárias cooperativas são construídas ou erodidas e quais os dispositivos sociais são capazes de sustentar as relações de solidariedade e cooperação. Os caiçaras da Praia do Sono mostraram ao longo de sua história, mas também em experiências recentes, que horizontes comunitários são possíveis, desde que o comum seja compreendido como ação e como prática contínua.La historia de los caiçaras de Praia do Sono, una comunidad tradicional ubicada en el municipio de Paraty, en la costa sur del estado de Río de Janeiro, está profundamente marcada por el conflicto por la tierra, pero también por importantes procesos de lucha y resistencia. La comunidad, que se organizó en torno a actividades económicas como la agricultura y la pesca, a partir de la década de 1960 ha visto avanzar varios procesos de expropiación de sus territorios, desde las amenazas de la especulación inmobiliaria, el acaparamiento de sus tierras, las restricciones de acceso a sus caminos tradicionales, hasta la criminalización de sus prácticas productivas por parte de las agencias ambientales. Su organización política – tanto a escala local como municipal – para hacer frente a sus antagonistas fue fundamental para que pudieran permanecer en el territorio y garantizar sus formas de existencia. Actualmente, sin embargo, otros factores han contribuido al debilitamiento territorial de este pueblo. La lógica del desarrollo, impulsada por el turismo, es hoy uno de los principales factores de la transformación de los lazos comunitarios entre los caiçaras de Praia do Sono. Los lazos de solidaridad y cooperación, establecidos a lo largo de muchos años a través de las prácticas de apropiación técnico / material, social y cultural del territorio, y la organización política colectiva para enfrentar los numerosos conflictos, se han tensionado a través de las múltiples separaciones provocadas por el capital en el tejido social. Lo común, concepto al que diferentes autores le han dado un nuevo significado, en estudios más recientes ha sido señalado como una fuerza contraria a la racionalidad neoliberal y como el embrión de una transformación social más profunda, capaz de promover la superación del capitalismo. Con el fin de contribuir no solo al análisis teórico, sino también a colaborar con la reflexión colectiva sobre la dirección de las luchas en Paraty-RJ, este trabajo tuvo como objetivo comprender cómo ocurre la producción de lo común entre los caiçaras de Praia do Sono, considerando sus formas de organización interna y movilización colectiva con otros actores en la lucha para enfrentar diferentes situaciones de conflicto. En este sentido, buscamos analizar cómo se estructuró la noción de comunidad en este grupo a lo largo del tiempo, bajo qué condiciones externas e internas se construyen o erosionan las relaciones comunitarias cooperativas y qué dispositivos sociales son capaces de sostener relaciones de solidaridad y cooperación. Los caiçaras de Praia do Sono han demostrado a lo largo de su historia, pero también en experiencias recientes, que los horizontes comunitarios son posibles, siempre que lo común se entienda como acción y práctica continua.244 p.Cruz, Valter do CarmoMonteiro, Licio Caetano do RegoPorto-Gonçalves, Carlos WalterPorto, José Renato Sant'AnnaGomez, Jorge Ramón MontenegroBarcelos, Eduardo Álvares da SilvaFaro, Amanda Regis2024-07-29T19:00:45Z2024-07-29T19:00:45Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfFARO, Amanda Regis. Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ). 2021. 244 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, 2021.https://app.uff.br/riuff/handle/1/33765CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2024-07-29T19:00:50Zoai:app.uff.br:1/33765Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-07-29T19:00:50Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
dc.title.none.fl_str_mv Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)
title Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)
spellingShingle Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)
Faro, Amanda Regis
Comum
Território
Conflito
Caiçaras
Praia do Sono
Caiçara
Território
Organização comunitária
Común
Territorio
Conflicto
Caiçaras
Praia do Sono
title_short Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)
title_full Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)
title_fullStr Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)
title_full_unstemmed Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)
title_sort Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ)
author Faro, Amanda Regis
author_facet Faro, Amanda Regis
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Cruz, Valter do Carmo
Monteiro, Licio Caetano do Rego
Porto-Gonçalves, Carlos Walter
Porto, José Renato Sant'Anna
Gomez, Jorge Ramón Montenegro
Barcelos, Eduardo Álvares da Silva
dc.contributor.author.fl_str_mv Faro, Amanda Regis
dc.subject.por.fl_str_mv Comum
Território
Conflito
Caiçaras
Praia do Sono
Caiçara
Território
Organização comunitária
Común
Territorio
Conflicto
Caiçaras
Praia do Sono
topic Comum
Território
Conflito
Caiçaras
Praia do Sono
Caiçara
Território
Organização comunitária
Común
Territorio
Conflicto
Caiçaras
Praia do Sono
description A história dos caiçaras da Praia do Sono, comunidade tradicional localizada no município de Paraty, litoral sul fluminense, é marcada profundamente pelo conflito de terras, mas também por importantes processos de lutas e resistências. A comunidade, que se organizou em torno de atividades econômicas como a agricultura e a pesca, a partir da década de 1960 viu avançar sobre seus territórios diversos processos expropriatórios, desde as ameaças da especulação imobiliária, grilagens de suas terras, restrições de acesso aos seus caminhos tradicionais, até a criminalização de suas práticas produtivas por parte de órgãos ambientais. A sua organização política – tanto na escala local, quanto na municipal – para fazer frente aos seus antagonistas foi fundamental para que conseguissem permanecer no território e garantir seus modos de existência. Na atualidade, porém, outros fatores têm contribuído para a fragilização territorial deste povo. A lógica do desenvolvimento, fomentada pelo turismo, é hoje um dos principais fatores de transformação dos laços comunitários entre os caiçaras da Praia do Sono. Os vínculos de solidariedade e cooperação, estabelecidos ao longo de muitos anos através das práticas de apropriação técnica/material, social e cultural do território, e da organização política coletiva para fazer frente aos inúmeros conflitos, têm sido tensionados através de múltiplas separações provocadas pelo capital no tecido social. O comum, conceito que foi sendo ressignificado por diferentes autores, em estudos mais recentes tem sido apontado como uma força contrária à racionalidade neoliberal e como o embrião de uma transformação social mais profunda, capaz de promover a superação do capitalismo. Com intuito de contribuir não somente com análises teóricas, mas também para colaborar com a reflexão coletiva sobre os rumos das lutas em Paraty-RJ, este trabalho teve como objetivo compreender como se dá a produção do comum entre os caiçaras da Praia do Sono, considerando suas formas de organização interna e a mobilização coletiva junto a outros atores de luta para fazer frente a diferentes situações de conflito. Nesse sentido, buscamos analisar como se estruturou a noção de comunidade neste grupo ao longo do tempo, sob quais condições externas e internas as relações comunitárias cooperativas são construídas ou erodidas e quais os dispositivos sociais são capazes de sustentar as relações de solidariedade e cooperação. Os caiçaras da Praia do Sono mostraram ao longo de sua história, mas também em experiências recentes, que horizontes comunitários são possíveis, desde que o comum seja compreendido como ação e como prática contínua.
publishDate 2024
dc.date.none.fl_str_mv 2024-07-29T19:00:45Z
2024-07-29T19:00:45Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv FARO, Amanda Regis. Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ). 2021. 244 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, 2021.
https://app.uff.br/riuff/handle/1/33765
identifier_str_mv FARO, Amanda Regis. Organização comunitária e a produção do comum: potências e contradições na comunidade caiçara da Praia do Sono (Paraty -RJ). 2021. 244 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, 2021.
url https://app.uff.br/riuff/handle/1/33765
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv CC-BY-SA
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv CC-BY-SA
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)
instacron:UFF
instname_str Universidade Federal Fluminense (UFF)
instacron_str UFF
institution UFF
reponame_str Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
collection Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)
repository.mail.fl_str_mv riuff@id.uff.br
_version_ 1807838828290899968