COSMOLOGIAS EM CONFLITO: O SANEAMENTO DO BRASIL E OS PESCADORES DA LAGOA FEIA - RJ.
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
Texto Completo: | https://app.uff.br/riuff/handle/1/12082 |
Resumo: | No Brasil, as políticas higienistas consolidaram-se, em 1940, com a criação do Departamento Nacional de Obras de Saneamento – DNOS. Desde então, o órgão passou a executar inúmeros empreendimentos sanitaristas, tais como a retificação de rios e córregos, a drenagem de meios alagadiços e a sistemática abertura de canais artificiais. A atuação do DNOS concentrou-se principalmente no Litoral Fluminense, onde se esperava sanear uma área de aproximadamente 17.000 Km². Na Lagoa Feia, a maior lagoa de água doce do país, antes mesmo de 1955 mais de 2 mil alqueires geométricos foram saneados. O empreendimento de tais obras, no entanto, encontrou forte resistência nas populações haliêuticas. Desse modo, em fins da década de 1970, por duas vezes as máquinas do DNOS, que operavam na Lagoa Feia, foram paralisadas pelos pescadores de Ponta Grossa dos Fidalgos – um pequeno arraial às margens da lagoa. Existe, pois, um desacordo entre as diferentes percepções e apropriações do ambiente lacustre: de um lado, os engenheiros sanitaristas, respaldados por um conhecimento politécnico, e confiantes numa ordem imanente; do outro, os pescadores, com seu conhecimento naturalístico e sua concepção da natureza como parte de uma ordem transcendente. Mais do que meras representações sobre o espaço, as representações apresentadas por engenheiros sanitaristas e os pescadores da lagoa refletem diferentes orientações cosmológicas, postas em contraste no encontro entre os grupos e em suas definições sobre as formas apropriadas de tratamento do espaço lacustre. O objetivo deste estudo é presentar e discutir as concepções distintas que esses grupos possuem do espaço lagunar, bem como desenvolver uma reflexão sobre os conflitos daí oriundos |
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COSMOLOGIAS EM CONFLITO: O SANEAMENTO DO BRASIL E OS PESCADORES DA LAGOA FEIA - RJ.COSMOLOGIES IN CONFLICT: THE SANATATION OF BRAZIL AND THE FISHERMAN OF LAGOA FEIA/RJPescadoresSaneamentoDramas SociaisSANEAMENTO DO BRASIL E OS PESCADORESFishermenSanitationSocial DramasNo Brasil, as políticas higienistas consolidaram-se, em 1940, com a criação do Departamento Nacional de Obras de Saneamento – DNOS. Desde então, o órgão passou a executar inúmeros empreendimentos sanitaristas, tais como a retificação de rios e córregos, a drenagem de meios alagadiços e a sistemática abertura de canais artificiais. A atuação do DNOS concentrou-se principalmente no Litoral Fluminense, onde se esperava sanear uma área de aproximadamente 17.000 Km². Na Lagoa Feia, a maior lagoa de água doce do país, antes mesmo de 1955 mais de 2 mil alqueires geométricos foram saneados. O empreendimento de tais obras, no entanto, encontrou forte resistência nas populações haliêuticas. Desse modo, em fins da década de 1970, por duas vezes as máquinas do DNOS, que operavam na Lagoa Feia, foram paralisadas pelos pescadores de Ponta Grossa dos Fidalgos – um pequeno arraial às margens da lagoa. Existe, pois, um desacordo entre as diferentes percepções e apropriações do ambiente lacustre: de um lado, os engenheiros sanitaristas, respaldados por um conhecimento politécnico, e confiantes numa ordem imanente; do outro, os pescadores, com seu conhecimento naturalístico e sua concepção da natureza como parte de uma ordem transcendente. Mais do que meras representações sobre o espaço, as representações apresentadas por engenheiros sanitaristas e os pescadores da lagoa refletem diferentes orientações cosmológicas, postas em contraste no encontro entre os grupos e em suas definições sobre as formas apropriadas de tratamento do espaço lacustre. O objetivo deste estudo é presentar e discutir as concepções distintas que esses grupos possuem do espaço lagunar, bem como desenvolver uma reflexão sobre os conflitos daí oriundosSimIn Brazil, hygienist policies were consolidated in 1940, by the foundation of Departamento Nacional de Obras de Saneamento – DNOS. Since then, this agency operated numerous sanitary projects, such as the rectification of rivers and streams, drainage of wetland areas and the systematic opening of artificial waterways. The performance of DNOS was mainly concentrated in Fluminense coast, holding the expectation of sanitizing approximately 17.000 Km². In Lagoa Feia, the largest freshwater lagoon in Brazil, even before 1955 more than 2 thousand geometric bushels were sanitized. Nevertheless, the achievement of such a work met resistance from fi shermen populations. Thereby, in the end of the 1970`s, fishermen from Ponta Grossa dos Figaldos - a small village along the Lagoon - blocked the operations of DNOS equipment twice. There is, thus, a disagreement between the diff erent perceptions and appropriations of lacustrine environment: on the one hand, sanitary engineers, supported by a polytechnic knowledge and confident in an immanent order; on the other, the fishermen, with their naturalistic knowledge and conception of nature as part of a transcendent order. More than mere representations of space, the representations presented by Sanitary Engineers and Fishermen of Lagoa Feia reflect different cosmological guidelines, confronted to each other in the encounter between the groups and their definitions about appropriate ways of treating lacustrine space. This study aim to present and discuss the different conceptions that these groups possess on the lagoon space, as well as to develop a reflection on the conflicts arisen therefrom.Niterói2019-11-10T21:23:11Z2019-11-10T21:23:11Z2017info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfVALPASSOS, Carlos Abraão Moura. COSMOLOGIAS EM CONFLITO: O SANEAMENTO DO BRASIL E OS PESCADORES DA LAGOA FEIA - RJ. VIVÊNCIA: REVISTA DE ANTROPOLOGIA, v. 49, p. 187-200, 2017.https://app.uff.br/riuff/handle/1/12082ProfessorVIVÊNCIA: REVISTA DE ANTROPOLOGIA, v. 49, p. 187-200, 2017.openAccesshttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessValpassos, Carlos Abraão Mouraporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2020-12-04T19:44:21Zoai:app.uff.br:1/12082Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T11:20:27.728111Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false |
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