Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: D Artemare, Antoine
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: https://app.uff.br/riuff/handle/1/33191
Resumo: Esta tese propõe investigar de que maneira a luz pode se estabelecer, em diferentes contextos históricos, enquanto dispositivo que participa da produção de determinadas relações de poder e certas subjetividades. Nesse intuito, consideramos o corpo humano como uma superfície fotossensível capaz de ser influenciada por estímulos luminosos – de diversas procedências e com diferentes efeitos –, bem como uma instância coprodutora desse tipo de sensação. Reconhecemos, ainda, a maneira pela qual o fenômeno luminoso participa tanto da constituição do mundo cognoscível e experimentável quanto das relações entre seres humanos e/ou não humanos – de forma consciente ou inconsciente, individual ou coletiva – configurando-se a luz, portanto, enquanto mídia. Ademais, entendemos por “luz” as distintas modulações (de intensidade, rítmicas, formais etc.) que o fenômeno luminoso pode apresentar. Isso inclui não só os gestos organizadores de luz e visibilidade, mas também os produtores de sombra e invisibilidade. Entendemos, ainda, a luz como uma tecnologia midiática análoga a um pharmakon, sendo capaz de produzir efeitos benéficos e/ou tóxicos, em função das circunstâncias. Partindo dessas premissas, procuramos investigar, por um lado, como a luz e sua intrínseca sombra têm a capacidade de influenciar, vigiar, disciplinar ou controlar os discursos, as práticas e os pensamentos dos seres humanos; por outro, como elas podem contribuir para a invenção de novas palavras, ações, imaginários ou modos de existência, escapando aos mecanismos de poder dos diferentes momentos históricos analisados. Recorrendo à perspectiva genealógica, colocamos em diálogo o estudo de diferentes materialidades, tecnologias, práticas e performances da luz, com vistas a evidenciar de que modo luz e escuridão participam, em distintas situações históricas, de diferentes regimes de poder e saber. No primeiro Capítulo, desenvolvemos uma discussão teórico-metodológica a respeito das noções de luz, dispositivo em geral e, em particular, dispositivo luminoso, a fim de pensar de que modo a luz se estabelece enquanto tecnologia de poder. No segundo Capítulo, estudamos materialidades e práticas luminosas que se manifestaram em cidades modernas e contemporâneas, para explicitar de que forma a luz participa de mecanismos disciplinares e de controle nesses respectivos períodos. No terceiro Capítulo, investigamos de que maneira a luz e as trevas são instrumentalizadas por determinadas igrejas cristãs no intuito de administrar a religiosidade, a fé e a subjetividade dos fiéis. Por fim, no último Capítulo, nos debruçamos sobre algumas instrumentalizações da luz em sociedades coloniais e póscoloniais do continente americano, a fim de pensar de que maneira a luz se estabelece como um dispositivo que ambiciona não apenas a colonização dos corpos racializados, mas também o escrutínio e a exploração de sua força de trabalho. Ao final desta pesquisa, identificamos algumas limitações nos modelos de poder propostos por Foucault e Deleuze no que tange ao estudo das instrumentalizações da luz – ainda que constituam importantes ferramentas conceituais de análise. Com o objetivo de superar esses limites, propomos, a partir das ideias de Virilio, a distinção de dois regimes históricos de instrumentalização da luz que atravessam as diferentes situações analisadas. O primeiro regime, vigente até o final do século XX, se caracterizaria pelo emprego das “luzes diretas” de tecnologias como fogo, tocha, vela, lanternas, lâmpada a óleo (a partir do século XVIII), iluminação a gás (na primeira metade do século XIX) e iluminação elétrica (no final do século XIX ou início do XX). O segundo regime, das “luzes indiretas”, surge ao final do século XX e ainda permanece nos tempos presentes; é marcado pela emergência de uma nova qualidade de luz eletro-óptica, não mais restrita ao espectro do visível. Essas luzes já não são fruto da iluminação tradicional de objetos físicos, mas resultam de operações matemáticas e algorítmicas, possibilitadas pela eletrônica e pela informática. É com essa nova qualidade de luz que as instrumentalizações aqui estudadas conhecem sua maior transformação, razão pela qual essa mudança constitui o foco central desta pesquisa. Com as genealogias propostas nesta tese, procuramos desnaturalizar as relações historicamente desenvolvidas com a luz, a fim de reconhecer seu protagonismo a serviço de foto-políticas específicas, conceito que propomos para designar algumas instrumentalizações da luz enquanto tecnologia de poder. Nesta tese, de fato, buscamos oferecer elementos para compreender as peculiaridades da instrumentalização de mídias luminosas na atualidade, em contraste com o que ocorreu em outros períodos históricos.
id UFF-2_f9b94406cdf54b4ced78881af1095430
oai_identifier_str oai:app.uff.br:1/33191
network_acronym_str UFF-2
network_name_str Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
repository_id_str 2120
spelling Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poderPHOTO-POLITIQUES : Généalogies de la lumière comme instrument de pouvoirLuzDispositivoMídiaPoderGenealogiaLuzMídiaGenealogiaLumièreDispositifMédiaPouvoirGénéalogieEsta tese propõe investigar de que maneira a luz pode se estabelecer, em diferentes contextos históricos, enquanto dispositivo que participa da produção de determinadas relações de poder e certas subjetividades. Nesse intuito, consideramos o corpo humano como uma superfície fotossensível capaz de ser influenciada por estímulos luminosos – de diversas procedências e com diferentes efeitos –, bem como uma instância coprodutora desse tipo de sensação. Reconhecemos, ainda, a maneira pela qual o fenômeno luminoso participa tanto da constituição do mundo cognoscível e experimentável quanto das relações entre seres humanos e/ou não humanos – de forma consciente ou inconsciente, individual ou coletiva – configurando-se a luz, portanto, enquanto mídia. Ademais, entendemos por “luz” as distintas modulações (de intensidade, rítmicas, formais etc.) que o fenômeno luminoso pode apresentar. Isso inclui não só os gestos organizadores de luz e visibilidade, mas também os produtores de sombra e invisibilidade. Entendemos, ainda, a luz como uma tecnologia midiática análoga a um pharmakon, sendo capaz de produzir efeitos benéficos e/ou tóxicos, em função das circunstâncias. Partindo dessas premissas, procuramos investigar, por um lado, como a luz e sua intrínseca sombra têm a capacidade de influenciar, vigiar, disciplinar ou controlar os discursos, as práticas e os pensamentos dos seres humanos; por outro, como elas podem contribuir para a invenção de novas palavras, ações, imaginários ou modos de existência, escapando aos mecanismos de poder dos diferentes momentos históricos analisados. Recorrendo à perspectiva genealógica, colocamos em diálogo o estudo de diferentes materialidades, tecnologias, práticas e performances da luz, com vistas a evidenciar de que modo luz e escuridão participam, em distintas situações históricas, de diferentes regimes de poder e saber. No primeiro Capítulo, desenvolvemos uma discussão teórico-metodológica a respeito das noções de luz, dispositivo em geral e, em particular, dispositivo luminoso, a fim de pensar de que modo a luz se estabelece enquanto tecnologia de poder. No segundo Capítulo, estudamos materialidades e práticas luminosas que se manifestaram em cidades modernas e contemporâneas, para explicitar de que forma a luz participa de mecanismos disciplinares e de controle nesses respectivos períodos. No terceiro Capítulo, investigamos de que maneira a luz e as trevas são instrumentalizadas por determinadas igrejas cristãs no intuito de administrar a religiosidade, a fé e a subjetividade dos fiéis. Por fim, no último Capítulo, nos debruçamos sobre algumas instrumentalizações da luz em sociedades coloniais e póscoloniais do continente americano, a fim de pensar de que maneira a luz se estabelece como um dispositivo que ambiciona não apenas a colonização dos corpos racializados, mas também o escrutínio e a exploração de sua força de trabalho. Ao final desta pesquisa, identificamos algumas limitações nos modelos de poder propostos por Foucault e Deleuze no que tange ao estudo das instrumentalizações da luz – ainda que constituam importantes ferramentas conceituais de análise. Com o objetivo de superar esses limites, propomos, a partir das ideias de Virilio, a distinção de dois regimes históricos de instrumentalização da luz que atravessam as diferentes situações analisadas. O primeiro regime, vigente até o final do século XX, se caracterizaria pelo emprego das “luzes diretas” de tecnologias como fogo, tocha, vela, lanternas, lâmpada a óleo (a partir do século XVIII), iluminação a gás (na primeira metade do século XIX) e iluminação elétrica (no final do século XIX ou início do XX). O segundo regime, das “luzes indiretas”, surge ao final do século XX e ainda permanece nos tempos presentes; é marcado pela emergência de uma nova qualidade de luz eletro-óptica, não mais restrita ao espectro do visível. Essas luzes já não são fruto da iluminação tradicional de objetos físicos, mas resultam de operações matemáticas e algorítmicas, possibilitadas pela eletrônica e pela informática. É com essa nova qualidade de luz que as instrumentalizações aqui estudadas conhecem sua maior transformação, razão pela qual essa mudança constitui o foco central desta pesquisa. Com as genealogias propostas nesta tese, procuramos desnaturalizar as relações historicamente desenvolvidas com a luz, a fim de reconhecer seu protagonismo a serviço de foto-políticas específicas, conceito que propomos para designar algumas instrumentalizações da luz enquanto tecnologia de poder. Nesta tese, de fato, buscamos oferecer elementos para compreender as peculiaridades da instrumentalização de mídias luminosas na atualidade, em contraste com o que ocorreu em outros períodos históricos.Cette thèse propose d'étudier comment la lumière peut s'établir, dans différents contextes historiques, comme un dispositif participant à la production de certaines relations de pouvoir et de certaines subjectivités. À cette fin, nous considérons le corps humain comme une surface photosensible capable d’être influencée par des stimulations lumineuses – provenant de différentes sources et avec différents effets –, ainsi que comme un agent coproducteur de ce type de sensation. Nous reconnaissons également la manière dont le phénomène lumineux participe à la fois à la constitution du monde connaissable et expérimentable et aux relations entre les êtres humains et/ou non humains – consciemment ou inconsciemment, individuellement ou collectivement – ​​configurant donc la lumière comme un média. Par ailleurs, on entend par « lumière » les différentes modulations (intensité, rythmique, formelle, etc.) que peut présenter le phénomène lumineux. Cela inclut non seulement les gestes organisateurs de la lumière et de la visibilité, mais aussi ceux qui produisent l'ombre et l'invisibilité. Nous comprenons également la lumière comme une technologie médiatique analogue à un pharmakon, capable de produire des effets bénéfiques et/ou toxiques, selon les circonstances. Partant de ces prémisses, nous cherchons à étudier non seulement comment la lumière et son ombre intrinsèque ont la capacité d'influencer, de surveiller, de discipliner ou de contrôler les discours, les pratiques et les pensées des êtres humains ; mais aussi comment lumières et ombres peuvent contribuer à l’invention de nouveaux mots, actions, imaginaires ou modes d’existence, échappant aux mécanismes de pouvoir des différents moments historiques analysés. Dans une perspective généalogique, nous mettons en dialogue l’étude des différentes matérialités, technologies, pratiques et performances de la lumière, en vue de mettre en évidence comment la lumière et l’obscurité participent, dans différentes situations historiques, à différents régimes de pouvoir et de savoir. Dans le premier chapitre, nous développons une discussion théorico-méthodologique sur les notions de lumière, de dispositif en général et, en particulier, de dispositif lumineux, afin de réfléchir à la manière dont la lumière s'impose comme technologie de pouvoir. Dans le deuxième chapitre, nous étudions les matérialités et les pratiques lumineuses qui se sont manifestées dans les villes modernes et contemporaines, pour expliquer comment la lumière participe aux mécanismes disciplinaires et de contrôle de ces périodes respectives. Dans le troisième chapitre, nous étudions comment la lumière et les ténèbres sont utilisées par certaines églises chrétiennes afin de gérer la religiosité, la foi et la subjectivité des fidèles. Enfin, dans le dernier chapitre, nous nous intéresserons à quelques instrumentalisations de la lumière dans les sociétés coloniales et postcoloniales du continent américain, afin de réfléchir à la façon dont la lumière s'impose comme un dispositif visant non seulement la colonisation des corps racialisés, mais aussi l’examen minutieux et l’exploitation de sa main-d’œuvre. Au terme de cette recherche, nous avons identifié certaines limites (pour l’étude de l’instrumentalisation de la lumière) dans les modèles de pouvoir proposés par Foucault et Deleuze – même si ces modèles constituent d’importants outils conceptuels d’analyse. Dans le but de dépasser ces limites, nous proposons, à partir des idées de Virilio, la distinction entre deux régimes historiques d'instrumentalisation de la lumière qui traversent les différentes situations analysées. Le premier régime, en vigueur jusqu'à la fin du XXe siècle, se caractérise par l'utilisation de technologies de « lumière directe » telles que le feu, la torche, la bougie, les lanternes, la lampe à huile (à partir du XVIIIe siècle), l'éclairage au gaz (au première moitié du XIXème siècle) et l'éclairage électrique (fin du XIXème ou début du XXème siècle). Le deuxième régime, des « lumières indirectes », est apparu à la fin du XXe siècle et existe encore aujourd'hui ; est marquée par l'émergence d'une nouvelle qualité de lumière électro-optique, qui ne se limite plus au spectre visible. Ces lumières ne sont plus le résultat de l’éclairage traditionnel d’objets physiques, mais le résultat d’opérations mathématiques et algorithmiques, rendues possibles par l’électronique et les technologies de l’information. C'est avec cette nouvelle qualité de lumière que les instrumentalisations étudiés ici subissent leur plus grande transformation, c'est pourquoi ce changement constitue l'axe central de cette recherche. Avec les généalogies proposées dans cette thèse, nous cherchons à dénaturaliser les relations historiquement établies avec la lumière, afin de reconnaître son rôle dans l'établissement de photo-politiques, un concept que nous proposons pour désigner certaines instrumentalisations de la lumière comme technologie de pouvoir. Dans cette thèse, en effet, nous cherchons à offrir des éléments pour comprendre les particularités de l'instrumentalisation des médias lumineux aujourd'hui, en comparaison à ce qui s'est produit dans d'autres périodes historiques.191 p.Sibilia, PaulaResende, FernandoBruno, FernandaUlm, HernánVidal, IcaroCapistrano, Messiashttp://lattes.cnpq.br/2673891375061987D Artemare, Antoine2024-07-11T14:08:30Z2024-07-11T14:08:30Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfD ARTEMARE, Antoine Nicolas. Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder. 2024. 191 f. Tese (Doutorado em Comunicação) - Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2024.https://app.uff.br/riuff/handle/1/33191CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2024-07-11T14:08:34Zoai:app.uff.br:1/33191Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-07-11T14:08:34Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
dc.title.none.fl_str_mv Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder
PHOTO-POLITIQUES : Généalogies de la lumière comme instrument de pouvoir
title Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder
spellingShingle Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder
D Artemare, Antoine
Luz
Dispositivo
Mídia
Poder
Genealogia
Luz
Mídia
Genealogia
Lumière
Dispositif
Média
Pouvoir
Généalogie
title_short Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder
title_full Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder
title_fullStr Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder
title_full_unstemmed Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder
title_sort Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder
author D Artemare, Antoine
author_facet D Artemare, Antoine
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Sibilia, Paula
Resende, Fernando
Bruno, Fernanda
Ulm, Hernán
Vidal, Icaro
Capistrano, Messias
http://lattes.cnpq.br/2673891375061987
dc.contributor.author.fl_str_mv D Artemare, Antoine
dc.subject.por.fl_str_mv Luz
Dispositivo
Mídia
Poder
Genealogia
Luz
Mídia
Genealogia
Lumière
Dispositif
Média
Pouvoir
Généalogie
topic Luz
Dispositivo
Mídia
Poder
Genealogia
Luz
Mídia
Genealogia
Lumière
Dispositif
Média
Pouvoir
Généalogie
description Esta tese propõe investigar de que maneira a luz pode se estabelecer, em diferentes contextos históricos, enquanto dispositivo que participa da produção de determinadas relações de poder e certas subjetividades. Nesse intuito, consideramos o corpo humano como uma superfície fotossensível capaz de ser influenciada por estímulos luminosos – de diversas procedências e com diferentes efeitos –, bem como uma instância coprodutora desse tipo de sensação. Reconhecemos, ainda, a maneira pela qual o fenômeno luminoso participa tanto da constituição do mundo cognoscível e experimentável quanto das relações entre seres humanos e/ou não humanos – de forma consciente ou inconsciente, individual ou coletiva – configurando-se a luz, portanto, enquanto mídia. Ademais, entendemos por “luz” as distintas modulações (de intensidade, rítmicas, formais etc.) que o fenômeno luminoso pode apresentar. Isso inclui não só os gestos organizadores de luz e visibilidade, mas também os produtores de sombra e invisibilidade. Entendemos, ainda, a luz como uma tecnologia midiática análoga a um pharmakon, sendo capaz de produzir efeitos benéficos e/ou tóxicos, em função das circunstâncias. Partindo dessas premissas, procuramos investigar, por um lado, como a luz e sua intrínseca sombra têm a capacidade de influenciar, vigiar, disciplinar ou controlar os discursos, as práticas e os pensamentos dos seres humanos; por outro, como elas podem contribuir para a invenção de novas palavras, ações, imaginários ou modos de existência, escapando aos mecanismos de poder dos diferentes momentos históricos analisados. Recorrendo à perspectiva genealógica, colocamos em diálogo o estudo de diferentes materialidades, tecnologias, práticas e performances da luz, com vistas a evidenciar de que modo luz e escuridão participam, em distintas situações históricas, de diferentes regimes de poder e saber. No primeiro Capítulo, desenvolvemos uma discussão teórico-metodológica a respeito das noções de luz, dispositivo em geral e, em particular, dispositivo luminoso, a fim de pensar de que modo a luz se estabelece enquanto tecnologia de poder. No segundo Capítulo, estudamos materialidades e práticas luminosas que se manifestaram em cidades modernas e contemporâneas, para explicitar de que forma a luz participa de mecanismos disciplinares e de controle nesses respectivos períodos. No terceiro Capítulo, investigamos de que maneira a luz e as trevas são instrumentalizadas por determinadas igrejas cristãs no intuito de administrar a religiosidade, a fé e a subjetividade dos fiéis. Por fim, no último Capítulo, nos debruçamos sobre algumas instrumentalizações da luz em sociedades coloniais e póscoloniais do continente americano, a fim de pensar de que maneira a luz se estabelece como um dispositivo que ambiciona não apenas a colonização dos corpos racializados, mas também o escrutínio e a exploração de sua força de trabalho. Ao final desta pesquisa, identificamos algumas limitações nos modelos de poder propostos por Foucault e Deleuze no que tange ao estudo das instrumentalizações da luz – ainda que constituam importantes ferramentas conceituais de análise. Com o objetivo de superar esses limites, propomos, a partir das ideias de Virilio, a distinção de dois regimes históricos de instrumentalização da luz que atravessam as diferentes situações analisadas. O primeiro regime, vigente até o final do século XX, se caracterizaria pelo emprego das “luzes diretas” de tecnologias como fogo, tocha, vela, lanternas, lâmpada a óleo (a partir do século XVIII), iluminação a gás (na primeira metade do século XIX) e iluminação elétrica (no final do século XIX ou início do XX). O segundo regime, das “luzes indiretas”, surge ao final do século XX e ainda permanece nos tempos presentes; é marcado pela emergência de uma nova qualidade de luz eletro-óptica, não mais restrita ao espectro do visível. Essas luzes já não são fruto da iluminação tradicional de objetos físicos, mas resultam de operações matemáticas e algorítmicas, possibilitadas pela eletrônica e pela informática. É com essa nova qualidade de luz que as instrumentalizações aqui estudadas conhecem sua maior transformação, razão pela qual essa mudança constitui o foco central desta pesquisa. Com as genealogias propostas nesta tese, procuramos desnaturalizar as relações historicamente desenvolvidas com a luz, a fim de reconhecer seu protagonismo a serviço de foto-políticas específicas, conceito que propomos para designar algumas instrumentalizações da luz enquanto tecnologia de poder. Nesta tese, de fato, buscamos oferecer elementos para compreender as peculiaridades da instrumentalização de mídias luminosas na atualidade, em contraste com o que ocorreu em outros períodos históricos.
publishDate 2024
dc.date.none.fl_str_mv 2024-07-11T14:08:30Z
2024-07-11T14:08:30Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv D ARTEMARE, Antoine Nicolas. Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder. 2024. 191 f. Tese (Doutorado em Comunicação) - Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2024.
https://app.uff.br/riuff/handle/1/33191
identifier_str_mv D ARTEMARE, Antoine Nicolas. Foto-políticas: genealogias da luz como instrumento de poder. 2024. 191 f. Tese (Doutorado em Comunicação) - Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2024.
url https://app.uff.br/riuff/handle/1/33191
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv CC-BY-SA
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv CC-BY-SA
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)
instacron:UFF
instname_str Universidade Federal Fluminense (UFF)
instacron_str UFF
institution UFF
reponame_str Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
collection Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)
repository.mail.fl_str_mv riuff@id.uff.br
_version_ 1807838873716260864