O Acesso dos Guarani e Kaiowá ao karaí kuatiá

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sguarezi, Isadora Spadoni
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFGD
Texto Completo: http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/5162
Resumo: Este trabalho se propõe a analisar as relações que os Guarani e Kaiowá estabelecem com os karaí kuatiá (documentos de branco), tais como o Registro Administrativo de Nascimento Indígena (RANI) e o Registro Civil de Nascimento, e como o Estado brasileiro atua de forma violenta ao não recepcionar especificidades étnicas nesses dispositivos. Utilizou-se como metodologia a pesquisa de campo etnográfica e a leitura de outras etnografias. O campo/rotina de trabalho como Indigenista Especializada da Funai ocorreu durante todo o ano de 2018, quando atuei na função de “registradora” de documentos na Coordenação Técnica Local de Caarapó, Mato Grosso do Sul. Documentos de identificação são pré-requisitos para direitos básicos como saúde, educação escolar, previdência social e emprego formal, e, em Mato Grosso do Sul, Estado com maior índice de sub-registro entre indígenas no Brasil, a ausência desses karaí kuatiá traz grandes transtornos à vida dos Guarani e Kaiowá. Especificidades como nomeação e mudança de nomes ao longo da vida e rupturas e rearranjos de parentelas não são respeitadas nesses documentos, o que traz dificuldades para o acesso a eles. Dinâmicas territoriais também influenciam na obtenção desses papéis. Famílias que moram há mais tempo em reservas demarcadas têm maior facilidade para obter o documento de identificação, enquanto os que resistem em fundos de fazendas permanecem toda a vida sem serem documentados. Indígenas que moram em municípios que fazem fronteira seca com o Paraguai são ainda mais marginalizados, pois, se não têm documentos, são tidos como paraguaios, e vice-versa, em um ciclo de dificuldades sem fim. A Funai, por sua vez, órgão em tese preparado para entender as especificidades dos povos indígenas, vê o RANI como algo menor e que deveria ser extinto, e a quantidade deficitária de servidores, associada ao grande número de demandas atendidas, contribui para o enfraquecimento desse karaí kuatiá, sem que seja proposto outro caminho eficaz para resolver a situação de sub-registro desses povos indígenas no país.
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O campo/rotina de trabalho como Indigenista Especializada da Funai ocorreu durante todo o ano de 2018, quando atuei na função de “registradora” de documentos na Coordenação Técnica Local de Caarapó, Mato Grosso do Sul. Documentos de identificação são pré-requisitos para direitos básicos como saúde, educação escolar, previdência social e emprego formal, e, em Mato Grosso do Sul, Estado com maior índice de sub-registro entre indígenas no Brasil, a ausência desses karaí kuatiá traz grandes transtornos à vida dos Guarani e Kaiowá. Especificidades como nomeação e mudança de nomes ao longo da vida e rupturas e rearranjos de parentelas não são respeitadas nesses documentos, o que traz dificuldades para o acesso a eles. Dinâmicas territoriais também influenciam na obtenção desses papéis. Famílias que moram há mais tempo em reservas demarcadas têm maior facilidade para obter o documento de identificação, enquanto os que resistem em fundos de fazendas permanecem toda a vida sem serem documentados. Indígenas que moram em municípios que fazem fronteira seca com o Paraguai são ainda mais marginalizados, pois, se não têm documentos, são tidos como paraguaios, e vice-versa, em um ciclo de dificuldades sem fim. A Funai, por sua vez, órgão em tese preparado para entender as especificidades dos povos indígenas, vê o RANI como algo menor e que deveria ser extinto, e a quantidade deficitária de servidores, associada ao grande número de demandas atendidas, contribui para o enfraquecimento desse karaí kuatiá, sem que seja proposto outro caminho eficaz para resolver a situação de sub-registro desses povos indígenas no país.This paper aims to analyze the relationships that the Guarani and Kaiowá establish with the karaí kuatiá (documents of non-indigenous people), such as the Administrative Registry of Indian Birth (RANI, Registro Administrativo de Nascimento Indígena) and the Civil Registry of Birth, and how the Brazilian Government acts violently by not providing ethnic specificities in these documents. The methodology used was the ethnographic field research and analysis of other ethnographies. The field/routine of work as a Specialized Indigenist of Funai occurred throughout 2018, when I worked as a "registrar" of documents in the Local Technical Coordination of Caarapó, Mato Grosso do Sul. Identification documents are prerequisites for basic rights such as health, school education, social security and formal employment. In Mato Grosso do Sul, a state with the highest rate of under-registration among indigenous people in Brazil, the absence of these karaí kuatiá disturbs the lives of the Guarani and Kaiowá. Specificities such as naming and changing names throughout life, and breakdowns and rearrangements of kinship are not respected in these documents, which hardens their access. Territorial dynamics also influence the achievement of these roles. Families who have lived longer in Indian Protection Service demarcated reserves consequently have greater facility to obtain the ID, while those who resist in the back of farms remain undocumented. Indigenous people living in municipalities on the border of Paraguay are even more marginalized because, if they do not have documents, they are considered Paraguayans, and vice versa, in a cycle of endless difficulties. Funai, an entity that should be prepared to understand the specificities of indigenous people, sees RANI as something smaller that should be extinguished. The insufficient number of people working added to the large number of demands met contributes to the weakening of this karaí kuatiá. There is no other effective way to solve the situation of under-registration of these indigenous peoples in the country.Submitted by Marcos Pimentel (marcospimentel@ufgd.edu.br) on 2022-09-06T19:34:03Z No. of bitstreams: 1 IsadoraSpadoniSguarezi.pdf: 7791331 bytes, checksum: b494b7bdba280c2be3f4299ca61bdd83 (MD5)Made available in DSpace on 2022-09-06T19:34:03Z (GMT). No. of bitstreams: 1 IsadoraSpadoniSguarezi.pdf: 7791331 bytes, checksum: b494b7bdba280c2be3f4299ca61bdd83 (MD5) Previous issue date: 2022-06-22porUniversidade Federal da Grande DouradosPrograma de pós-graduação em AntropologiaUFGDBrasilFaculdade de Ciências HumanasCNPQ::CIENCIAS HUMANAS::ANTROPOLOGIAPovos indígenas - Guarani-KaiowáIndigenous peoples - Guarani-KaiowáEstadoStateO Acesso dos Guarani e Kaiowá ao karaí kuatiáThe Guarani and Kaiowá people’s access to the karaí kuatiáinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFGDinstname:Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)instacron:UFGDTEXTIsadoraSpadoniSguarezi.pdf.txtIsadoraSpadoniSguarezi.pdf.txtExtracted texttext/plain225088https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/5162/4/IsadoraSpadoniSguarezi.pdf.txta23f63cec8cbe21f89aedf805e135772MD54ORIGINALIsadoraSpadoniSguarezi.pdfIsadoraSpadoniSguarezi.pdfapplication/pdf7791331https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/5162/3/IsadoraSpadoniSguarezi.pdfb494b7bdba280c2be3f4299ca61bdd83MD53LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-81866https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/5162/2/license.txt43cd690d6a359e86c1fe3d5b7cba0c9bMD52prefix/51622023-09-14 02:35:05.213oai:https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui:prefix/5162TElDRU7Dh0EgREUgRElTVFJJQlVJw4fDg08gTsODTy1FWENMVVNJVkEKCkNvbSBhIGFwcmVzZW50YcOnw6NvIGRlc3RhIGxpY2Vuw6dhLCB2b2PDqiAobyBhdXRvciAoZXMpIG91IG8gdGl0dWxhciBkb3MgZGlyZWl0b3MgZGUgYXV0b3IpIGNvbmNlZGUgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIApJbnN0aXR1Y2lvbmFsIG8gZGlyZWl0byBuw6NvLWV4Y2x1c2l2byBkZSByZXByb2R1emlyLCAgdHJhZHV6aXIgKGNvbmZvcm1lIGRlZmluaWRvIGFiYWl4byksIGUvb3UgZGlzdHJpYnVpciBhIApzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIChpbmNsdWluZG8gbyByZXN1bW8pIHBvciB0b2RvIG8gbXVuZG8gbm8gZm9ybWF0byBpbXByZXNzbyBlIGVsZXRyw7RuaWNvIGUgZW0gcXVhbHF1ZXIgbWVpbywgaW5jbHVpbmRvIG9zIApmb3JtYXRvcyDDoXVkaW8gb3UgdsOtZGVvLgoKVm9jw6ogY29uY29yZGEgcXVlIG8gRGVwb3NpdGEgcG9kZSwgc2VtIGFsdGVyYXIgbyBjb250ZcO6ZG8sIHRyYW5zcG9yIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBwYXJhIHF1YWxxdWVyIG1laW8gb3UgZm9ybWF0byAKcGFyYSBmaW5zIGRlIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiB0YW1iw6ltIGNvbmNvcmRhIHF1ZSBvIERlcG9zaXRhIHBvZGUgbWFudGVyIG1haXMgZGUgdW1hIGPDs3BpYSBkZSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIHBhcmEgZmlucyBkZSBzZWd1cmFuw6dhLCBiYWNrLXVwIAplIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gw6kgb3JpZ2luYWwgZSBxdWUgdm9jw6ogdGVtIG8gcG9kZXIgZGUgY29uY2VkZXIgb3MgZGlyZWl0b3MgY29udGlkb3MgbmVzdGEgbGljZW7Dp2EuIApWb2PDqiB0YW1iw6ltIGRlY2xhcmEgcXVlIG8gZGVww7NzaXRvIGRhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gbsOjbywgcXVlIHNlamEgZGUgc2V1IGNvbmhlY2ltZW50bywgaW5mcmluZ2UgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgCmRlIG5pbmd1w6ltLgoKQ2FzbyBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gY29udGVuaGEgbWF0ZXJpYWwgcXVlIHZvY8OqIG7Do28gcG9zc3VpIGEgdGl0dWxhcmlkYWRlIGRvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcywgdm9jw6ogZGVjbGFyYSBxdWUgCm9idGV2ZSBhIHBlcm1pc3PDo28gaXJyZXN0cml0YSBkbyBkZXRlbnRvciBkb3MgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgcGFyYSBjb25jZWRlciBhbyBEZXBvc2l0YSBvcyBkaXJlaXRvcyBhcHJlc2VudGFkb3MgCm5lc3RhIGxpY2Vuw6dhLCBlIHF1ZSBlc3NlIG1hdGVyaWFsIGRlIHByb3ByaWVkYWRlIGRlIHRlcmNlaXJvcyBlc3TDoSBjbGFyYW1lbnRlIGlkZW50aWZpY2FkbyBlIHJlY29uaGVjaWRvIG5vIHRleHRvIApvdSBubyBjb250ZcO6ZG8gZGEgcHVibGljYcOnw6NvIG9yYSBkZXBvc2l0YWRhLgoKQ0FTTyBBIFBVQkxJQ0HDh8ODTyBPUkEgREVQT1NJVEFEQSBURU5IQSBTSURPIFJFU1VMVEFETyBERSBVTSBQQVRST0PDjU5JTyBPVSBBUE9JTyBERSBVTUEgQUfDik5DSUEgREUgRk9NRU5UTyBPVSBPVVRSTyAKT1JHQU5JU01PLCBWT0PDiiBERUNMQVJBIFFVRSBSRVNQRUlUT1UgVE9ET1MgRSBRVUFJU1FVRVIgRElSRUlUT1MgREUgUkVWSVPDg08gQ09NTyBUQU1Cw4lNIEFTIERFTUFJUyBPQlJJR0HDh8OVRVMgCkVYSUdJREFTIFBPUiBDT05UUkFUTyBPVSBBQ09SRE8uCgpPIERlcG9zaXRhIHNlIGNvbXByb21ldGUgYSBpZGVudGlmaWNhciBjbGFyYW1lbnRlIG8gc2V1IG5vbWUgKHMpIG91IG8ocykgbm9tZShzKSBkbyhzKSBkZXRlbnRvcihlcykgZG9zIGRpcmVpdG9zIAphdXRvcmFpcyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28sIGUgbsOjbyBmYXLDoSBxdWFscXVlciBhbHRlcmHDp8OjbywgYWzDqW0gZGFxdWVsYXMgY29uY2VkaWRhcyBwb3IgZXN0YSBsaWNlbsOnYS4KRepositório InstitucionalPUBhttps://repositorio.ufgd.edu.br/jspui:8080/oai/requestopendoar:21162023-09-14T06:35:05Repositório Institucional da UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)false
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