A dinâmica de produção de conhecimento: teorias e dados, pesquisador e pesquisados
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2011 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Revista Brasileira de Lingüística Aplicada (Online) |
Texto Completo: | http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/rbla/article/view/692 |
Resumo: | As maneiras de desenhar a prática de pesquisa, de construir um discurso sobre ela e de materializá-la na texto variam de acordo com as culturas locais de cada disciplina acadêmica, seus valores e crenças (Becher, 1981; Swales, 1990; Hyland, 2000). Em áreas duras como a física e a química, tradicionalmente se verificou uma tendência ao consenso (Kuhn, 1970), com fundamentos conceituais e procedimentais acordados entre os membros. A cultura coesa das áreas duras foi vista por Thomas Kuhn como sinal de ciência madura, pois evidenciava argumentos consensuais, verificados, testados, discutidos no coletivo da disciplina ao longo de séculos. As ciências humanas e sociais, por outro lado, têm se caracterizado pela recência da sua organização enquanto disciplina, pela novidade de seus argumentos e pela pouca amplitude de seu consenso (Rorty, 1991). Essa natureza heterogênea da validação do conhecimento e da caracterização do objeto de estudo é vista, neste trabalho, mais como qualidade a ser saudada do que como defeito a ser excluído. Para estudar um objeto tão complexo e rico como a linguagem humana, a Linguística Aplicada desenha procedimentos que se socorrem em outras tantas disciplinas limítrofes, como a psicologia (na pesquisa cognitiva), a antropologia (na pesquisa etnográfica) e a sociologia (na pesquisa em análise do discurso). O surgimento de diferentes possibilidades para a prática de pesquisa vem acompanhado de discussões sobre a legitimação dos problemas e procedimentos de pesquisa. Diferentes desenhos demandam, entre outras coisas, perspectivas diversas do pesquisador sobre a linguagem e como estudá-la. Este trabalho examina dois conceitos ligados a essa questão: a perspectiva ética e a perspectiva êmica, tentando relacioná-las a diferentes modos de investigar a linguagem. Por ser de natureza complexa e rica, linguagem demanda que acomodemos, na metodologia de pesquisa, uma "tensão dialética" enre direções opostas. Assim, no processo de investigação, tentamos ancorar os dados no seu contexto de situação e, ao mesmo tempo, relacioná-los ao contexto mais amplo da teoria. Procuramos significação na recorrência de elementos linguíticos e, ao mesmo tempo, buscamos explicar qualitativamente a natureza desses elementos. Desenvolvemos a habilidade de delimitar e observar um dado contexto de pesquisa e, ao mesmo tempo, tentamos neutralizar esse olhar de fora, para penetrar nesse contexto e obter um "olhar de dentro". |
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