Os ethé de mulheres moçambicanas em obras de Mia Couto

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Shirley Maria de Jesus
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/LETR-AP5MSR
Resumo: Terra sonâmbula (1995a) e O último voo do flamingo (2000), de Mia Couto, são obras que apresentam elementos sociais, históricos e culturais de Moçambique, e é a partir desse lugar que o autor coloca questões ligadas à identidade de um povo e à identidade nacional. Sua narrativa registra e amplia a intrínseca relação entre política e literatura que ocupou o espaço literário moçambicano, desde o tempo colonial, por meio de um projeto político e cultural gerado a partir da luta pela independência, centrado na denúncia do colonialismo, em Terra sonâmbula; e na elaboração sonhadora de um projeto de liberdade para os povos ainda subjugados pela intervenção estrangeira, em O último voo do flamingo. Nessa dimensão coletiva, ouve-se a denúncia da improbidade administrativa e delineiam-se os traços da cultura local, nos quais as mulheres são consideradas pilares da estrutura sociocultural, o que nos levou a analisar como as instâncias enunciativas constroem o ethos de mulher e como essa mulher percebe os imaginários sociodiscursivos da nação moçambicana. Para efetuar a análise, identificamos as vozes dessas mulheres e promovemos associações entre os ethé dessas personagens com os imaginários sociodiscursivos. Tendo como fio condutor o ethos que se constrói por meio do discurso e demanda a interação entre enunciador e interlocutor, vimos que a construção dos ethé das personagens mulheres busca a adesão de seus interlocutores, valendose de estratégias argumentativas e persuasivas, de representações sociodiscursivas, saberes de crença e de outros elementos instituídos nos discursos. Situamos esses ethé e os relacionamos entre si, a partir de um espelhamento e amparados pelo contexto sociocultural e histórico de Moçambique. Dessa maneira, esta pesquisa alicerça-se nas interfaces entre a Linguística, mais especificamente a Análise do Discurso, e o ethos no discurso literário. Como arcabouço teórico, contamos com os estudos de Maingueneau (2011, 2008a, 2006, 2005a, 2001), Amossy (2005) e Charaudeau (2011, 2009, 2007), além de recorrermos a Perelman, Platão, Aristóteles, Isócrates e Cícero, para melhor entendimento do conceito de ethos. Para tratar do conceito de nação, valemo-nos dos trabalhos de Anderson (2008, 1989), Hobsbawm ([1917] 1990) e Renan (1990). A partir desses teóricos, realizamos, ao mesmo tempo, uma análise qualitativa, linguístico-discursiva e interdisciplinar dos ethé presentes no corpus. Como resultado desta pesquisa, temos que o discurso literário de Couto é, em suma, a própria sociedade moçambicana frente a um grande espelho, mirando-se, vendo cada um a imagem de si e de todos, e que a escrita coutiana, por meio do discurso de suas personagens, funciona como auxiliar de uma memória necessária para se traçar o ethos individual e a simbolização da cultura moçambicana, o sentimento de pertencimento a um grupo, a uma cultura, revelando-nos, portanto, traços que compõem o mosaico identitário de Moçambique.
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Nessa dimensão coletiva, ouve-se a denúncia da improbidade administrativa e delineiam-se os traços da cultura local, nos quais as mulheres são consideradas pilares da estrutura sociocultural, o que nos levou a analisar como as instâncias enunciativas constroem o ethos de mulher e como essa mulher percebe os imaginários sociodiscursivos da nação moçambicana. Para efetuar a análise, identificamos as vozes dessas mulheres e promovemos associações entre os ethé dessas personagens com os imaginários sociodiscursivos. Tendo como fio condutor o ethos que se constrói por meio do discurso e demanda a interação entre enunciador e interlocutor, vimos que a construção dos ethé das personagens mulheres busca a adesão de seus interlocutores, valendose de estratégias argumentativas e persuasivas, de representações sociodiscursivas, saberes de crença e de outros elementos instituídos nos discursos. Situamos esses ethé e os relacionamos entre si, a partir de um espelhamento e amparados pelo contexto sociocultural e histórico de Moçambique. Dessa maneira, esta pesquisa alicerça-se nas interfaces entre a Linguística, mais especificamente a Análise do Discurso, e o ethos no discurso literário. Como arcabouço teórico, contamos com os estudos de Maingueneau (2011, 2008a, 2006, 2005a, 2001), Amossy (2005) e Charaudeau (2011, 2009, 2007), além de recorrermos a Perelman, Platão, Aristóteles, Isócrates e Cícero, para melhor entendimento do conceito de ethos. Para tratar do conceito de nação, valemo-nos dos trabalhos de Anderson (2008, 1989), Hobsbawm ([1917] 1990) e Renan (1990). A partir desses teóricos, realizamos, ao mesmo tempo, uma análise qualitativa, linguístico-discursiva e interdisciplinar dos ethé presentes no corpus. Como resultado desta pesquisa, temos que o discurso literário de Couto é, em suma, a própria sociedade moçambicana frente a um grande espelho, mirando-se, vendo cada um a imagem de si e de todos, e que a escrita coutiana, por meio do discurso de suas personagens, funciona como auxiliar de uma memória necessária para se traçar o ethos individual e a simbolização da cultura moçambicana, o sentimento de pertencimento a um grupo, a uma cultura, revelando-nos, portanto, traços que compõem o mosaico identitário de Moçambique.Sleepwalking Land (1995a) and The Last Flight of the Flamingo (2000), by Mia Couto, present social, historical and cultural elements of Mozambique and pose questions regarding the Mozambican peoples national identity. Their narratives record and expand the intrinsic relationship with politics that marked Mozambican literature since colonial times. This is done, in Sleepwalking Land, through a political and cultural project that arose in the context of the struggle for independence, centered in the indictment of colonialism; and, in The Last Flight of the Flamingo, through the dreaming conception of a project of freedom for peoples still under the yoke of foreign intervention. In this collective dimension, one can hear the denunciation of official misconduct and observe the traits of the local culture, in which women are considered pillars of the sociocultural structure. That has led us to analyze how the enunciative instances construct the womans ethos and how this woman perceives Mozambican sociodiscursive imaginaries. In order to conduct such analysis, we identify the voices of these women and associate these characters ethe with socio-discursive imaginaries. Having as guiding principle the ethos that is constructed through discourse and demands the interaction between enunciator and interlocutor, we see that the construction of the characters ethe seeks their interlocutors adherence. It does so through argumentative and persuasive strategies, socio-discursive representations, belief information and other instituted elements in discourse. We situate those ethe and relate them to each other, using mirroring and basing ourselves on the Mozambican sociocultural and historical context. Therefore, the research takes place in the interface between Linguistics, more specifically discourse analysis, and ethos in literary discourse. Our theoretical framework is composed by studies by Maingueneau (2011, 2008a, 2006, 2005a, 2001), Amossy (2005) and Charaudeau (2011, 2009, 2007). Additionally, we have turned to Perelman, Plato, Aristoteles, Isocrates and Cicero, in order to reach a better understanding of the concept of ethos. For the concept of nation, we have drawn on the works of Anderson (1989, 2008), Hobsbawm ([1917] 1990) and Renan (1990). Based on these authors, we have carried out an analysis at once qualitative, linguistic-discursive and interdisciplinary of the ethe present in the corpus. As a result of the research, we have found Coutos literary discourse to be, in short, Mozambican society looking at itself in a great mirror, in which each one can see their own image as well as that of others. We have also found that Coutos writing, through its characters discourse, functions as a mnemonic, helping to outline individual ethos, the Mozambican cultures symbolization and the sense of belonging to a group or a culture, thus revealing traits of the Mozambican complex of identities.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGCouto, Mia , 1955- Terra sonâmbula Crítica e interpretaçãoMulheres e literaturaAnálise do discursoEstratégia discursivaCouto, Mia , 1955- Último voo do flamingo Crítica e interpretaçãoElocuçãoEthosImaginários sociodiscursivosMia CoutoMulherNaçãoEthosOs ethé de mulheres moçambicanas em obras de Mia Coutoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINAL1657d.pdfapplication/pdf2833292https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-AP5MSR/1/1657d.pdfcc0040d84924d3b6d00b7cc0a5cb4d05MD51TEXT1657d.pdf.txt1657d.pdf.txtExtracted texttext/plain545039https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-AP5MSR/2/1657d.pdf.txtfb7c72164a5b573eae388fd3eb8d535fMD521843/LETR-AP5MSR2019-11-14 09:45:40.898oai:repositorio.ufmg.br:1843/LETR-AP5MSRRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T12:45:40Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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