Ser-tão Cerrado de Guimarães Rosa: espaço movimentante

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gabriel Túlio de Oliveira Barbosa
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/IGCC-A85K7R
Resumo: O escritor João Guimarães Rosa, além de toda a elaboração estética, do significado mítico-místico e da profunda concepção psicológica de seus personagens, deixa transparecer também em sua obra uma preocupação sobre as questões sociais e ambientais que envolvem o cenário regional, nacional e universal do sertão, que também é o mundo. No projeto literário do autor, o sertão e o Cerrado transcendem seus destinos de moldura narrativa, para se conformarem em personagens co-protagonistas das narrações. Um espaço-palco permeado por uma rica e sofrida história, um mundo muito misturado no coração do país. Apesar de evidenciar um continuum espacial em todas as suas narrativas, existem nuances socioespaciais intercaladas entre os livros do autor. Selecionamos nesta pesquisa três momentos ficcionais e alegóricos deste espaço movimentante: a) o sistema jagunço de Grande Sertão: veredas; b) os gerais em movimento de Corpo de Baile; c) e o mundo maquinal de Primeiras Estórias. As nuances ficcionais são reflexos das transformações dos gerais, desde a decadência do jaguncismo no final do século XIX e início do século XX, passando pelo desenvolvimento getulista nos anos 40 e 50, até a inauguração de Brasília, no início da década de 1960. O autor, contudo, não pode acompanhar as intensas transformações do Cerrado nas décadas subsequentes à sua morte em 1967. As mudanças de matrizes de racionalidades levadas pela modernização para o ambiente artístico de Rosa induziram profundas modificações na dinâmica dos recursos naturais e no sistema de uso da terra. Desta forma, objetivou-se nesta pesquisa, além da análise das obras de Guimarães Rosa, conceber uma experiência sensorial com o sertão rosiano na atualidade para absorver sabedorias in locu e compreender de que maneira se articula este espaço movente. A vivência de campo contribuiu para a escritura de sete episódios/insights, contextualizando os três momentos ficcionais de Grande Sertão: veredas, Corpo de Baile e Primeiras Estórias e suas relações com o sertão presente. Concluiu-se que apesar das pressões externas, a cidade não acaba com o sertão. A matéria vertente integradora do ser-tão cerrado continuará a conduzir sua alma, enquanto for dimensão da vida humana, de existência, onde é percebido, vivido e afetivamente experienciado pelos sertanejos. E é de dentro deste lugar onde deve estar o núcleo de resistência que represente uma resposta veemente às tentativas de homogeneização do espaço. Vimos alguns exemplos de resistências socioambientais, cujas propostas locais partem da inspiração na matriz literária de Guimarães Rosa, capaz de transmitir, iluminar e estimular um olhar artístico para o espaço, tal como lentes para uma percepção cativante da realidade.
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spelling Bernardo Machado GontijoJose Antonio Souza de DeusClaudinei LourencoGabriel Túlio de Oliveira Barbosa2019-08-14T10:24:58Z2019-08-14T10:24:58Z2013-06-11http://hdl.handle.net/1843/IGCC-A85K7RO escritor João Guimarães Rosa, além de toda a elaboração estética, do significado mítico-místico e da profunda concepção psicológica de seus personagens, deixa transparecer também em sua obra uma preocupação sobre as questões sociais e ambientais que envolvem o cenário regional, nacional e universal do sertão, que também é o mundo. No projeto literário do autor, o sertão e o Cerrado transcendem seus destinos de moldura narrativa, para se conformarem em personagens co-protagonistas das narrações. Um espaço-palco permeado por uma rica e sofrida história, um mundo muito misturado no coração do país. Apesar de evidenciar um continuum espacial em todas as suas narrativas, existem nuances socioespaciais intercaladas entre os livros do autor. Selecionamos nesta pesquisa três momentos ficcionais e alegóricos deste espaço movimentante: a) o sistema jagunço de Grande Sertão: veredas; b) os gerais em movimento de Corpo de Baile; c) e o mundo maquinal de Primeiras Estórias. As nuances ficcionais são reflexos das transformações dos gerais, desde a decadência do jaguncismo no final do século XIX e início do século XX, passando pelo desenvolvimento getulista nos anos 40 e 50, até a inauguração de Brasília, no início da década de 1960. O autor, contudo, não pode acompanhar as intensas transformações do Cerrado nas décadas subsequentes à sua morte em 1967. As mudanças de matrizes de racionalidades levadas pela modernização para o ambiente artístico de Rosa induziram profundas modificações na dinâmica dos recursos naturais e no sistema de uso da terra. Desta forma, objetivou-se nesta pesquisa, além da análise das obras de Guimarães Rosa, conceber uma experiência sensorial com o sertão rosiano na atualidade para absorver sabedorias in locu e compreender de que maneira se articula este espaço movente. A vivência de campo contribuiu para a escritura de sete episódios/insights, contextualizando os três momentos ficcionais de Grande Sertão: veredas, Corpo de Baile e Primeiras Estórias e suas relações com o sertão presente. Concluiu-se que apesar das pressões externas, a cidade não acaba com o sertão. A matéria vertente integradora do ser-tão cerrado continuará a conduzir sua alma, enquanto for dimensão da vida humana, de existência, onde é percebido, vivido e afetivamente experienciado pelos sertanejos. E é de dentro deste lugar onde deve estar o núcleo de resistência que represente uma resposta veemente às tentativas de homogeneização do espaço. Vimos alguns exemplos de resistências socioambientais, cujas propostas locais partem da inspiração na matriz literária de Guimarães Rosa, capaz de transmitir, iluminar e estimular um olhar artístico para o espaço, tal como lentes para uma percepção cativante da realidade.The writer João Guimarães Rosa, beyond all the aesthetic elaboration, the mythical and mystical meanings and the deep psychological conception of his characters, also reveals in his work a concern on social and environmental issues involving the regional, national and universal setting of the sertão. In the author's literary project, the sertão (hinterland) and the Brazilian Cerrado transcend their narrative-framing destinations, to conform themselves into coprotagonists of the stories. A space which is at the same time metaphysical and geographical, permeated by a rich and painful history; a very mixed world in the heart of the country. Despite the evidence of a "spatial continuum" in all his narratives, there are socio-spatial nuances interposed among the author's books. We have selected in this research three fictional and allegorical moments of this moving space in Rosas fiction: a) the jagunços system from Grande Sertão: Veredas; b) the gerais in motion from Corpo de Baile; c) and the machinal world from Primeiras Estórias. The fictional nuances are reflexes of the transformations in the space of the sertão, since the decay of the jagunços system in the late nineteenth century and early twentieth century, through the administration of Getúlio Vargas in the 1940s and 1950s, and up to the inauguration of Brasília, in the early 1960s. The author, however, wasnt able to follow up the intense transformations to the Brazilian Cerrado that took place throughout the decades after his death in 1967. The changes in the rationality matrixes undertaken by modernization into Rosas artistic environment induced profound modifications in the dynamics of the natural resources and in the land use system. Thereby, this research aimed, besides the analysis of the works of Guimarães Rosa, to conceive a sensory experience with Rosas sertão at the present time to absorb wisdoms in loco and comprehend the ways in which this moving space articulates itself. The field work experience contributed for the writing of seven episodes/insights, contextualizing the three fictional moments from Grande Sertão: Veredas, Corpo de Baile and Primeiras Estórias and their connections with the present sertão. Its been concluded that despite the external pressure, the city does not end the sertão. The outpouring matter that integrates the sertão/Cerrado will continue to conduct its soul, as long as it continues to be the dimension of human life, of existence, where it is perceived, undergone and affectively experienced by the hinterlanders. It is within this place that should be the resistance core to represent a vehement answer to the attempts of making the space homogenous. We have seen some examples of socio-environmental resistance, whose local proposals come with the inspiration from the literary matrix of Guimarães Rosa, capable of transmitting, illuminating and stimulating an artistic view over the space, like lenses for a captivating perception of the reality.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGRosa, João Guimarães, 1908-1967CerradosLiteratura brasileiraGeografiaGeografiaSertãoGuimarães RosaCerradoLiteraturaSer-tão Cerrado de Guimarães Rosa: espaço movimentanteinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_gabriel_t_lio_de_oliveira_b._2013.pdfapplication/pdf6892571https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/IGCC-A85K7R/1/disserta__o_gabriel_t_lio_de_oliveira_b._2013.pdf92f6eb3fbe0e8c83170b2ed1718122b3MD51TEXTdisserta__o_gabriel_t_lio_de_oliveira_b._2013.pdf.txtdisserta__o_gabriel_t_lio_de_oliveira_b._2013.pdf.txtExtracted texttext/plain455044https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/IGCC-A85K7R/2/disserta__o_gabriel_t_lio_de_oliveira_b._2013.pdf.txt4727c830b7deb32688a300c039caef8fMD521843/IGCC-A85K7R2019-11-14 13:22:33.356oai:repositorio.ufmg.br:1843/IGCC-A85K7RRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T16:22:33Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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