Reconstruindo o Tekoha Guaiviry

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Janaína Cardoso de Souza Ferreira
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/50260
Resumo: Esta dissertação discorre sobre a reconstrução de um território tradicional (tekoha) do povo kaiowá, no Mato Grosso do Sul, município de Aral Moreira: o tekoha Guaiviry. Trata-se de uma área de retomada indígena, reocupada pelos Kaiowá em novembro de 2011. Dado o período incipiente de reestruturação, percebe-se que tudo está ainda em processo de construção. Partimos do pressuposto de que as relações entre famílias compõem e estruturam Guaiviry. As relações de intimidade, mutualidade e confiança ocorrem dentro do fogo doméstico, ou seja, dentro da família nuclear. Porém, cabe a ressalva de que no conceito de fogo doméstico podem ser incluídos parentes consanguíneos, aliados e filhos adotivos. Percebemos que a figura do rezador é central tanto para a ocupação quanto para a estruturação e manutenção do tekoha. Os moradores de Guaiviry atribuem a resistência de Guaiviry e a permanência dos moradores nesse local ao poder do rezador principal: Romildo Fernandes. Porém, Guaiviry se diferencia em vários aspectos das reservas e dos paradigmas tradicionais encontrados entre os Kaiowá. Fernandes concebe como errônea a reza nas sementes ou no produto das colheitas. Sendo assim, ele não realiza alguns rituais tidos como tradicionais entre os Kaiowá, como o avati kyry (cerimônia do milho novo), nem kunumi pepy (cerimônia de perfuração dos lábios dos garotos). Para explicar essas ausências, Fernandes nos fornece explicações que apontam para o caráter nocivo de tais práticas para o bem-viver entre os Kaiowá. Seguindo essas pistas, procuramos entender quais são os elementos centrais para se ter uma vida boa entre os Kaiowá. De acordo com Romildo, a chicha, os cantos e danças do guahu e do kotyhu, a agricultura e as rezas longas das quintas-feiras são capazes de alcançar aquele objetivo. Sendo assim, lançamos algumas hipóteses de interpretação para tentar entender a configuração sócio-política e cosmológica de Guaiviry. Da mesma forma que a reestruturação de Guaiviry está em processo, acreditamos que nossas interpretações só podem ter um caráter provisório. Porém, ainda assim, nosso esforço parece válido na medida em que mostra um dos caminhos possíveis de se construir um tekoha. O que está em questão é a construção de um tipo de vida idealizado, sonhado, há gerações, desde a expulsão dos pais e avós da atual "liderança" daquele tekoha. Porém, esse processo é feito dentro da configuração social típica dos Kaiowá, segundo a qual, a intimidade e a mutualidade são facilmente encontradas no fogo doméstico, mas precisam ser forjadas na construção de uma totalidade chamada tekoha Guaiviry. A noção de totalidade é alcançada através de rituais, em torno do rezador, e na luta contra inimigos comuns.
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Percebemos que a figura do rezador é central tanto para a ocupação quanto para a estruturação e manutenção do tekoha. Os moradores de Guaiviry atribuem a resistência de Guaiviry e a permanência dos moradores nesse local ao poder do rezador principal: Romildo Fernandes. Porém, Guaiviry se diferencia em vários aspectos das reservas e dos paradigmas tradicionais encontrados entre os Kaiowá. Fernandes concebe como errônea a reza nas sementes ou no produto das colheitas. Sendo assim, ele não realiza alguns rituais tidos como tradicionais entre os Kaiowá, como o avati kyry (cerimônia do milho novo), nem kunumi pepy (cerimônia de perfuração dos lábios dos garotos). Para explicar essas ausências, Fernandes nos fornece explicações que apontam para o caráter nocivo de tais práticas para o bem-viver entre os Kaiowá. Seguindo essas pistas, procuramos entender quais são os elementos centrais para se ter uma vida boa entre os Kaiowá. De acordo com Romildo, a chicha, os cantos e danças do guahu e do kotyhu, a agricultura e as rezas longas das quintas-feiras são capazes de alcançar aquele objetivo. Sendo assim, lançamos algumas hipóteses de interpretação para tentar entender a configuração sócio-política e cosmológica de Guaiviry. Da mesma forma que a reestruturação de Guaiviry está em processo, acreditamos que nossas interpretações só podem ter um caráter provisório. Porém, ainda assim, nosso esforço parece válido na medida em que mostra um dos caminhos possíveis de se construir um tekoha. O que está em questão é a construção de um tipo de vida idealizado, sonhado, há gerações, desde a expulsão dos pais e avós da atual "liderança" daquele tekoha. Porém, esse processo é feito dentro da configuração social típica dos Kaiowá, segundo a qual, a intimidade e a mutualidade são facilmente encontradas no fogo doméstico, mas precisam ser forjadas na construção de uma totalidade chamada tekoha Guaiviry. A noção de totalidade é alcançada através de rituais, em torno do rezador, e na luta contra inimigos comuns.This paper is about a reconstruction of a tekoha kaiowá, in Mato Grosso do Sul, in the city of Aral Moreira: the tekoha Guaiviry. This is an area that was retaken by the Indians and it was reoccupied by the Kaiowá in November 2011. We realized that everything is still in a process of construction. We assumed that the relationship among families contribute and structure Guaiviry. The relationship of intimacy, mutuality and confidence among families happen by the domestic fire, in other words, inside the nuclear family. However, into the concept of domestic fire it might be included relatives by blood, friends and foster children. We noticed that the image of the praying man is central as much as for occupation, structuring and maintenance of tekoha. Guaiviry residents believe that their gains and permanence at this place of conflict is because of the praying man: Romildo Fernandes. Guaiviry is different in many aspects of the reserves and traditional paradigms found between the Kaiowá. Fernandes thinks it is wrong to pray in the seeds or in the products of the harvest. Thus, he doesn’t make some rituals that are traditional between the Kaiowá such as the avati kyry (the fresh corn ceremony), neither kunumi pepy (the ceremony of boys’ lips perforation). Fernandes explains that these rituals are dangerous for the good living between the Kaiowá. Following these tracks, we try to understand what are the main elements for having a good life between the Kaiowá. According to Romildo, the chichas, the songs and dances of guahu and kotyhu, the agriculture and the long prays of Thursdays are capable to achieve that goal. Thus, we introduced some hypothesis of interpretation to try to understand the socio-political and cosmological configuration of Guaiviry. The same way that Guaiviry reconstruction is in process, we believe that our interpretations can only be temporary. However, our effort seems to be valid as far as it shows us one of the possible ways to build a tekoha. What is in question is the construction of an idealized kind of life that was dreamed for generations, since their parents and grandparents were expelled of that tekoha. However, their process is made inside the social configuration that is typical of the Kaiowá and easily find in the intimacy and mutuality of the domestic fire, but they need to be forged in the construction of a totality called tekoha Guaiviry. This notion of totality is achieved through the rituals around the praying man in the fight against common enemies.CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorporUniversidade Federal de Minas GeraisPrograma de Pós-Graduação em AntropologiaUFMGBrasilFAF - DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIAAntropologia - TesesIndigenas - TesesEtnologia - TesesAcampamentos indigenas - TesesGuarani-KaiowáTekohaGuaiviryRezadorTerritórioReconstruindo o Tekoha Guaiviryinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALDissertação de antropologia Janaína pdf.pdfDissertação de antropologia Janaína pdf.pdfapplication/pdf2239252https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/50260/1/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20de%20antropologia%20Jana%c3%adna%20pdf.pdf573bf30b8f6dde5b6d43e939ecae4a48MD51LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-82118https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/50260/2/license.txtcda590c95a0b51b4d15f60c9642ca272MD521843/502602023-02-22 06:46:45.447oai:repositorio.ufmg.br:1843/50260TElDRU7Dh0EgREUgRElTVFJJQlVJw4fDg08gTsODTy1FWENMVVNJVkEgRE8gUkVQT1NJVMOTUklPIElOU1RJVFVDSU9OQUwgREEgVUZNRwoKQ29tIGEgYXByZXNlbnRhw6fDo28gZGVzdGEgbGljZW7Dp2EsIHZvY8OqIChvIGF1dG9yIChlcykgb3UgbyB0aXR1bGFyIGRvcyBkaXJlaXRvcyBkZSBhdXRvcikgY29uY2VkZSBhbyBSZXBvc2l0w7NyaW8gSW5zdGl0dWNpb25hbCBkYSBVRk1HIChSSS1VRk1HKSBvIGRpcmVpdG8gbsOjbyBleGNsdXNpdm8gZSBpcnJldm9nw6F2ZWwgZGUgcmVwcm9kdXppciBlL291IGRpc3RyaWJ1aXIgYSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIChpbmNsdWluZG8gbyByZXN1bW8pIHBvciB0b2RvIG8gbXVuZG8gbm8gZm9ybWF0byBpbXByZXNzbyBlIGVsZXRyw7RuaWNvIGUgZW0gcXVhbHF1ZXIgbWVpbywgaW5jbHVpbmRvIG9zIGZvcm1hdG9zIMOhdWRpbyBvdSB2w61kZW8uCgpWb2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBjb25oZWNlIGEgcG9sw610aWNhIGRlIGNvcHlyaWdodCBkYSBlZGl0b3JhIGRvIHNldSBkb2N1bWVudG8gZSBxdWUgY29uaGVjZSBlIGFjZWl0YSBhcyBEaXJldHJpemVzIGRvIFJJLVVGTUcuCgpWb2PDqiBjb25jb3JkYSBxdWUgbyBSZXBvc2l0w7NyaW8gSW5zdGl0dWNpb25hbCBkYSBVRk1HIHBvZGUsIHNlbSBhbHRlcmFyIG8gY29udGXDumRvLCB0cmFuc3BvciBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gcGFyYSBxdWFscXVlciBtZWlvIG91IGZvcm1hdG8gcGFyYSBmaW5zIGRlIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiB0YW1iw6ltIGNvbmNvcmRhIHF1ZSBvIFJlcG9zaXTDs3JpbyBJbnN0aXR1Y2lvbmFsIGRhIFVGTUcgcG9kZSBtYW50ZXIgbWFpcyBkZSB1bWEgY8OzcGlhIGRlIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gcGFyYSBmaW5zIGRlIHNlZ3VyYW7Dp2EsIGJhY2stdXAgZSBwcmVzZXJ2YcOnw6NvLgoKVm9jw6ogZGVjbGFyYSBxdWUgYSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIMOpIG9yaWdpbmFsIGUgcXVlIHZvY8OqIHRlbSBvIHBvZGVyIGRlIGNvbmNlZGVyIG9zIGRpcmVpdG9zIGNvbnRpZG9zIG5lc3RhIGxpY2Vuw6dhLiBWb2PDqiB0YW1iw6ltIGRlY2xhcmEgcXVlIG8gZGVww7NzaXRvIGRlIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gbsOjbywgcXVlIHNlamEgZGUgc2V1IGNvbmhlY2ltZW50bywgaW5mcmluZ2UgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgZGUgbmluZ3XDqW0uCgpDYXNvIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBjb250ZW5oYSBtYXRlcmlhbCBxdWUgdm9jw6ogbsOjbyBwb3NzdWkgYSB0aXR1bGFyaWRhZGUgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzLCB2b2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBvYnRldmUgYSBwZXJtaXNzw6NvIGlycmVzdHJpdGEgZG8gZGV0ZW50b3IgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzIHBhcmEgY29uY2VkZXIgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIEluc3RpdHVjaW9uYWwgZGEgVUZNRyBvcyBkaXJlaXRvcyBhcHJlc2VudGFkb3MgbmVzdGEgbGljZW7Dp2EsIGUgcXVlIGVzc2UgbWF0ZXJpYWwgZGUgcHJvcHJpZWRhZGUgZGUgdGVyY2Vpcm9zIGVzdMOhIGNsYXJhbWVudGUgaWRlbnRpZmljYWRvIGUgcmVjb25oZWNpZG8gbm8gdGV4dG8gb3Ugbm8gY29udGXDumRvIGRhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBvcmEgZGVwb3NpdGFkYS4KCkNBU08gQSBQVUJMSUNBw4fDg08gT1JBIERFUE9TSVRBREEgVEVOSEEgU0lETyBSRVNVTFRBRE8gREUgVU0gUEFUUk9Dw41OSU8gT1UgQVBPSU8gREUgVU1BIEFHw4pOQ0lBIERFIEZPTUVOVE8gT1UgT1VUUk8gT1JHQU5JU01PLCBWT0PDiiBERUNMQVJBIFFVRSBSRVNQRUlUT1UgVE9ET1MgRSBRVUFJU1FVRVIgRElSRUlUT1MgREUgUkVWSVPDg08gQ09NTyBUQU1Cw4lNIEFTIERFTUFJUyBPQlJJR0HDh8OVRVMgRVhJR0lEQVMgUE9SIENPTlRSQVRPIE9VIEFDT1JETy4KCk8gUmVwb3NpdMOzcmlvIEluc3RpdHVjaW9uYWwgZGEgVUZNRyBzZSBjb21wcm9tZXRlIGEgaWRlbnRpZmljYXIgY2xhcmFtZW50ZSBvIHNldSBub21lKHMpIG91IG8ocykgbm9tZXMocykgZG8ocykgZGV0ZW50b3IoZXMpIGRvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28sIGUgbsOjbyBmYXLDoSBxdWFscXVlciBhbHRlcmHDp8OjbywgYWzDqW0gZGFxdWVsYXMgY29uY2VkaWRhcyBwb3IgZXN0YSBsaWNlbsOnYS4KRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2023-02-22T09:46:45Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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