Como os adultos aprendem a ler?: evidências de um estudo com adultos pouco alfabetizados e crianças com a mesma habilidade de leitura

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marcela Fulanete Correa
Data de Publicação: 2009
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/TMCB-7WUNZE
Resumo: O objetivo do presente estudo consistiu em investigar se a alfabetização de adultos é afetada pelos mesmos processos cognitivos que governam a alfabetização de crianças. Participaram do estudo 61 adultos, com idade entre 16 e 80 anos, matriculados em classes iniciais de programas de alfabetização tardia na cidade de Belo Horizonte, MG. O estudo também incluiu 61 crianças com desenvolvimento típico individualmente emparelhadas aos adultos em função da habilidade de leitura de palavras. A idade das crianças variava entre 6 e 9 anos e todas estavam matriculadas em turmas de primeira a terceira série de uma escola pública localizada na mesma cidade dos adultos. Todos os participantes foram submetidos a tarefas que avaliavam as habilidades de leitura, escrita e matemática, o conhecimento do nome das letras, a consciência fonológica, a nomeação seriada rápida, a memória verbal de curto-prazo, a inteligência verbal e a habilidade de codificação ortográfica. Os resultados sugeriram que, relativamente às crianças, adultos aprendendo a ler e a escrever em português apresentam dificuldades na segmentação dos sons que compõem a fala. Com efeito, uma análise dos erros cometidos pelos adultos e pelas crianças em uma tarefa experimental de escrita revelou que, ao contrário das crianças, a maioria dos erros cometidos pelos adultos consistiu no que Ehri (1992) tem denominado de escritas parcialmente alfabéticas ou incompletas. No entanto, a despeito dessas dificuldades, nossos resultados revelaram que adultos em processo de alfabetização são sensíveis às regras de correspondência letra-som e, tal como as crianças, baseiam-se em processos fonológicos para aprender a ler e a escrever. De fato, análises de regressão revelaram que tanto a consciência fonológica quanto a nomeação seriada rápida contribuíram significativamente para as variações na habilidade de leitura e escrita das crianças e dos adultos que participaram do presente estudo. No tocante aos correlatos da habilidade de leitura e escrita, apenas uma diferença foi encontrada entre os adultos e as crianças. Especificamente, variações na inteligência verbal não se correlacionaram com variações na habilidade de leitura e escrita entre os adultos. Por outro lado, a inteligência verbal contribuiu significativamente para as variações na habilidade de leitura e escrita das crianças, mesmo após termos controlado o efeito de diferenças individuais em habilidades importantes. Finalmente, os adultos incluídos nesse estudo apresentaram uma dificuldade expressiva na grafia de palavras contendo regularidades letra-som de natureza morfossintática, sugerindo que, além de dificuldades fonológicas, adultos com pouca escolaridade apresentam dificuldades com o componente morfossintático da linguagem.
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Todos os participantes foram submetidos a tarefas que avaliavam as habilidades de leitura, escrita e matemática, o conhecimento do nome das letras, a consciência fonológica, a nomeação seriada rápida, a memória verbal de curto-prazo, a inteligência verbal e a habilidade de codificação ortográfica. Os resultados sugeriram que, relativamente às crianças, adultos aprendendo a ler e a escrever em português apresentam dificuldades na segmentação dos sons que compõem a fala. Com efeito, uma análise dos erros cometidos pelos adultos e pelas crianças em uma tarefa experimental de escrita revelou que, ao contrário das crianças, a maioria dos erros cometidos pelos adultos consistiu no que Ehri (1992) tem denominado de escritas parcialmente alfabéticas ou incompletas. No entanto, a despeito dessas dificuldades, nossos resultados revelaram que adultos em processo de alfabetização são sensíveis às regras de correspondência letra-som e, tal como as crianças, baseiam-se em processos fonológicos para aprender a ler e a escrever. De fato, análises de regressão revelaram que tanto a consciência fonológica quanto a nomeação seriada rápida contribuíram significativamente para as variações na habilidade de leitura e escrita das crianças e dos adultos que participaram do presente estudo. No tocante aos correlatos da habilidade de leitura e escrita, apenas uma diferença foi encontrada entre os adultos e as crianças. Especificamente, variações na inteligência verbal não se correlacionaram com variações na habilidade de leitura e escrita entre os adultos. Por outro lado, a inteligência verbal contribuiu significativamente para as variações na habilidade de leitura e escrita das crianças, mesmo após termos controlado o efeito de diferenças individuais em habilidades importantes. Finalmente, os adultos incluídos nesse estudo apresentaram uma dificuldade expressiva na grafia de palavras contendo regularidades letra-som de natureza morfossintática, sugerindo que, além de dificuldades fonológicas, adultos com pouca escolaridade apresentam dificuldades com o componente morfossintático da linguagem.The present study investigated whether the same cognitive processes are involved in beginning literacy acquisition by children and adults. Sixty-one Brazilian adults, enrolled in a literacy program in a major Brazilian city, participated in the study. They ranged in age from 16 to 80years. Sixty-one typically developing 1st, 2nd and 3rd graders also participated in the study. They varied in age from 6 to 9 years, and were individually matched with the 61 adults on the basis of word reading ability. All participants were administered tasks that evaluated reading,spelling and arithmetic abilities, letter-name knowledge, phonological awareness, rapid serial naming, verbal short-term memory, verbal intelligence, and orthographic coding skills. Results suggested that, relative to children of the same reading level, adults learning to read in Portuguese present difficulties in sound segmentation. Indeed, an analysis of the participants responses on an experimental spelling task revealed that, unlike the childrens errors, most of the errors made by the adults consisted of what Ehri (1992) has dubbed partial alphabeticspellings. However, in spite of these difficulties, our results strongly suggest that adults in literacy programs are sensitive to letter-sound regularities in words and, similar to children, rely on phonological coding skills to learn to read and spell. In fact, regression analyses showed thatvariations in phonological awareness and rapid serial naming contributed significantly to variations in the reading and spelling ability of the children and adults who participated in the present study. As far as the correlates of word reading and spelling ability are concerned, onlyone difference was found between the adults and the children. Specifically, variations in verbal intelligence were not correlated with variations in reading and spelling ability among the adults. On the other hand, variations in verbal intelligence accounted for a unique portion of the variance in reading and spelling skills among the children, even after we controlled for the effect of individual differences in theoretically important abilities. Finally, the adults who participated in the present study found it particularly difficult to spell words containing soundswhose spelling depends on the syntactic category of the word, suggesting that, in addition to phonological difficulties, adults with low literacy skills have difficulty with the morphosyntactic component of language.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGAlfabetização de adultosAlfabetizaçãoPsicolingüísticaPsicologiacriançaleituraadultosalfabetizadosPsicologiaComo os adultos aprendem a ler?: evidências de um estudo com adultos pouco alfabetizados e crianças com a mesma habilidade de leiturainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALcomo_os_adultos_aprendem_a_ler__marcela_fulanete_corr_a.pdfapplication/pdf664629https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/TMCB-7WUNZE/1/como_os_adultos_aprendem_a_ler__marcela_fulanete_corr_a.pdf876e19fc9e62c41a1f5e52ebdac5ce59MD51TEXTcomo_os_adultos_aprendem_a_ler__marcela_fulanete_corr_a.pdf.txtcomo_os_adultos_aprendem_a_ler__marcela_fulanete_corr_a.pdf.txtExtracted texttext/plain204113https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/TMCB-7WUNZE/2/como_os_adultos_aprendem_a_ler__marcela_fulanete_corr_a.pdf.txt7ceaaf1b68e332d1c4e04548aba9a5f5MD521843/TMCB-7WUNZE2019-11-14 18:50:10.03oai:repositorio.ufmg.br:1843/TMCB-7WUNZERepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T21:50:10Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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