Sofrimento, responsabilização e desejo: uma análise dos processos decorrentes das mudanças de moradia no âmbito do Programa Vila Viva Belo Horizonte

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Luana Dias Motta
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9VFGLH
Resumo: Em 2004, a Prefeitura de Belo Horizonte inicia o Programa Vila Viva, um conjunto de ações integradas com vistas à urbanização, desenvolvimento social e regularização fundiária de vilas e favelas. Atualmente, é o maior programa de urbanização de favelas em curso no país e opera numa lógica que reconhece a favela como ocupação consolidada. Ainda que pareça fora de propósito problematizar tal Programa, considerei pertinente colocar a seguinte questão: o que significa, especialmente para as pessoas do lugar, não mais erradicar a favela? Seguindo esse questionamento, esta pesquisa reflete sobre a forma como o Vila Viva está estruturado, bem como seus objetivos e sua lógica, revelando que ele está estreitamente relacionado aos mecanismos do biopoder, um poder que tem como objeto e objetivo a vida, que deve fazer viver. Para compreender como esses mecanismos de poder são concretizados no processo de implementação dessa política de inclusão na cidade e vivenciados pelas pessoas do lugar, realizei entrevistas com pessoas removidas de suas casas e reassentadas em apartamentos no âmbito do Vila Viva no Aglomerado da Serra. Os relatos dos moradores sobre esse processo são marcados tanto pelos sentimentos de sofrimento e saudade como por afirmações de que a mudança para o apartamento foi algo positivo, o que revela a ambiguidade que perpassa a forma como o Vila Viva é experienciado pelos moradores removidos. Mas, ao contrário do que eu esperava encontrar, o sofrimento e a saudade estavam relacionados menos à coerção direta do que à modulação dos desejos e da conduta dos moradores. Em outras palavras, a construção de um afinamento entre o governo do outro e o governo de si é que possibilitou a adesão dos moradores ao Programa, apesar do sofrimento e da saudade por terem deixado suas casas, seus vizinhos e seus modos de vida. Se, por um lado, ter o desejo e a subjetividade como centro desse governo do outro contribui para perpetuar o sofrimento e responsabiliza os moradores pela inadequação e pelos problemas nos apartamentos, por outro, isso significa que o governo de si não se ajusta perfeitamente ao governo do outro, como demonstram as práticas não esperadas e proibidas nos prédios.
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Seguindo esse questionamento, esta pesquisa reflete sobre a forma como o Vila Viva está estruturado, bem como seus objetivos e sua lógica, revelando que ele está estreitamente relacionado aos mecanismos do biopoder, um poder que tem como objeto e objetivo a vida, que deve fazer viver. Para compreender como esses mecanismos de poder são concretizados no processo de implementação dessa política de inclusão na cidade e vivenciados pelas pessoas do lugar, realizei entrevistas com pessoas removidas de suas casas e reassentadas em apartamentos no âmbito do Vila Viva no Aglomerado da Serra. Os relatos dos moradores sobre esse processo são marcados tanto pelos sentimentos de sofrimento e saudade como por afirmações de que a mudança para o apartamento foi algo positivo, o que revela a ambiguidade que perpassa a forma como o Vila Viva é experienciado pelos moradores removidos. Mas, ao contrário do que eu esperava encontrar, o sofrimento e a saudade estavam relacionados menos à coerção direta do que à modulação dos desejos e da conduta dos moradores. Em outras palavras, a construção de um afinamento entre o governo do outro e o governo de si é que possibilitou a adesão dos moradores ao Programa, apesar do sofrimento e da saudade por terem deixado suas casas, seus vizinhos e seus modos de vida. Se, por um lado, ter o desejo e a subjetividade como centro desse governo do outro contribui para perpetuar o sofrimento e responsabiliza os moradores pela inadequação e pelos problemas nos apartamentos, por outro, isso significa que o governo de si não se ajusta perfeitamente ao governo do outro, como demonstram as práticas não esperadas e proibidas nos prédios.In 2004, the municipal administration of Belo Horizonte launched the Vila Viva Program, a set of integrated actions aiming at the urbanization, social development and regularization of slums and villages. Nowadays, Vila Viva is the largest urbanization program in the country and it works within a logic that recognizes the slums as established settlement in the city. Although it seems at first sight pointless to problematize this Program I considered it important to ask the question: what means, especially for local dwellers, do not eradicate the slum? Following this question, this research analyzes how Vila Viva, its logic and purposes are structured, revealing that the Program is closely related to the mechanisms of biopower, a power which has life as its object and objective. In order to understand how these mechanisms of power work along the implementation of such policy of inclusion in the city and how they are experienced by local dwellers, I conducted interviews with people removed from their homes and resettled in Vila Vivas apartments in Aglomerado da Serra, one of the biggest slums in Belo Horizonte. The residents´ narratives about this process are marked by feelings of sorrow and longing as well as positive assertions about the change. Hence, ambiguity pervades how Vila Viva is experienced by residents. However, contrary to what I expected to find there, the feelings of sorrow and logging were not related to direct coercion but to the modulation of desires and conducts. In other words, the construction of an alignment between the government of the other and the government of the self was what made possible the compliance of dwellers to the Program, despite their feelings of sorrow and longing for leaving their old houses, their neighbors and their livelihood. If, on the one hand, having the desire and the subjectivity as the center of these practices of government helps to perpetuate the suffering, as the dwellers are made responsible for the inadequacy of apartments and its problems, on the other hand, this means that the government of the self does not adjust perfectly to the government of the other, as it is shown by the non-expected and prohibited practices in the new buildings.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGSociologiaPrograma Vila Viva (Belo Horizonte, MG)BiopoliticaSofrimentoPlanejamento urbanoSociologiaProgramaSofrimentoPlanejamento urbanoBiopolíticaVila Viva Belo HorizonteSofrimento, responsabilização e desejo: uma análise dos processos decorrentes das mudanças de moradia no âmbito do Programa Vila Viva Belo Horizonteinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_final_biblioteca_central_cd.pdfapplication/pdf15094620https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9VFGLH/1/disserta__o_final_biblioteca_central_cd.pdfd8ef3f5d2ac56029342007789cf9b83fMD51TEXTdisserta__o_final_biblioteca_central_cd.pdf.txtdisserta__o_final_biblioteca_central_cd.pdf.txtExtracted texttext/plain371612https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9VFGLH/2/disserta__o_final_biblioteca_central_cd.pdf.txtfe84936ee84790bbdc3433ea11f384f3MD521843/BUOS-9VFGLH2019-11-14 18:24:21.794oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-9VFGLHRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T21:24:21Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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