Corre um rio de lembranças nas encantadas lavadeiras de Almenara: cotidiano, memória e oralidade nos cantos de trabalho

• Autor(a) principal: Jéssica Parreiras Marroques
• Data de Publicação: 2022
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/44192
• topic: lavadeiras; cantos de trabalho; memória; práticas cotidianas; Lazer; Cultura popular

As memórias constroem retalhos. O que importa para a memória, é o trabalho da costura, no remendo de um rio largo de afetos, que nos constrói. Onde eu nasci, passa um rio. Onde a maioria de nós nascemos, crescemos e vivemos ainda passa um rio. Eles vagueiam pelo chão, andam debaixo da terra e do concreto, nos sobrevoam em nuvens, sussurrando em resistência a materialidade de diversos ofícios, práticas, ritos e encantamentos que submergem e o habitam. Suas águas revelam as vidas e histórias das mulheres lavadeiras, que guardam na tecitura de suas narrativas, a sabedoria dos cantos, dos cheiros, da natureza, dos tecidos e das técnicas em seu cotidiano. Desta forma, esta pesquisa ensaística se costura ao entorno do cantar em contexto de trabalho, em coro, coletivo, enquanto expressão e experiência cultural pelas mulheres que compõem o Coral das lavadeiras de Almenara, na região do Vale do Jequitinhonha/MG. Aqui proponho o entrelaçamento e a reflexão do ato de cantar, lavar roupas e do trabalho em coletivo, práticas estas que se correlacionam com o universo do trabalho e do lazer, da alegria, dos sonhos, da brincadeira, das conquistas e realizações pessoais destas mulheres. Em um fio de memória que liga a prática do cantar às águas e ao ofício de lavadeira. Trabalho este que nos remete ao diálogo entre passado e presente na história da escravidão de mulheres negras diaspóricas ao ato diário de reprodução e manutenção da vida através do trabalho doméstico.