A construção de mundos na literatura não-realista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Julio Cesar Jeha
Data de Publicação: 1991
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9E5GXM
Resumo: Esta tese se desenvolve ao longo de uma linha semiótica noestudo de sistemas modeladores na literatura não realista. A primeiraparte trata da ação do signo na natureza e na esfera específica do ser humano. Para o signo é indiferente se o objeto ao qual ele se refere existe na natureza ou apenas na cognição do organismo que o experiência. Essa característica do signo torna possível aos animais iludir e ser iludido e, mais tarde, ao ser humano, imaginar e criar seres sem correlativos na fisicalidade. Surgem daí a linguagem e todas as instituições que dela dependem. Dizendo de outra maneira, dessa possibilidade da ação dos signos nasce a cultura, pela qual o ser humano transcende as barreiras de uma herança biológica e os limites do mundo físico. A segunda parte analisa o que essa indiferença na significação implica para a literatura, principalmente para a teoria da mimese. Por um lado, o conhecimento sempre se dá por comparação ou contraste: o absolutamente novo é inconhecível. Por outro, o ser humano se distingue dos outros animais ao se tornar capaz de desligar as relações de suas bases e términos e religá-las a outras bases ou términos. A ação do signo sempre tem um tanto de mimese, ao repetir um objeto ou um interpretante, e um tanto de poiese, ao fazer surgir algo que até então não existia na experiência. Na criação literária (como em toda criação) predomina a poiesea capacidade específica do ser humano de jogar com as relações. Isso nos permite definir a fantasia na literatura como uma divergência intencional de uma realidade definida por consenso. A terceira parte se concentra nos modelos ou sistemas que modelam a experiência e a criação de novos mundos, quer esses venham a existir fisicamente ou apenas como possibilidades. Dentre esses sistemas modeladores, a língua -- a linguagem desviada para a comunicaçãoaparece como a origem de todos os outros, quer eles sejam formas de governo, crenças religiosas ou teorias científicas e filosóficas sobre o ser e seus modos de conhecimento e de existência. Aqui comparam-se textos das mais diversas extrações, sem qualquer preocupação com gêneros, períodos ou fortuna crítica, em uma análise comparativa do funcionamento dos quatro principais sistemas modeladorespercepção, língua, religião e ciênciana criação de mundos possíveis e impossíveis. Conclui-se que a mímese da literatura fantástica é de interpretante, e não de objeto, como a mímese figurativa e especular da literatura realista.
id UFMG_51b08c5ef0fe99890109a06aad26ac07
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-9E5GXM
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Julio Cesar Machado PintoSolange Ribeiro de OliveiraSilvia Simone AnspachEneida Maria de SouzaRuth Junqueira Silviano BrandaoJulio Cesar Jeha2019-08-09T16:14:26Z2019-08-09T16:14:26Z1991-10-04http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9E5GXMEsta tese se desenvolve ao longo de uma linha semiótica noestudo de sistemas modeladores na literatura não realista. A primeiraparte trata da ação do signo na natureza e na esfera específica do ser humano. Para o signo é indiferente se o objeto ao qual ele se refere existe na natureza ou apenas na cognição do organismo que o experiência. Essa característica do signo torna possível aos animais iludir e ser iludido e, mais tarde, ao ser humano, imaginar e criar seres sem correlativos na fisicalidade. Surgem daí a linguagem e todas as instituições que dela dependem. Dizendo de outra maneira, dessa possibilidade da ação dos signos nasce a cultura, pela qual o ser humano transcende as barreiras de uma herança biológica e os limites do mundo físico. A segunda parte analisa o que essa indiferença na significação implica para a literatura, principalmente para a teoria da mimese. Por um lado, o conhecimento sempre se dá por comparação ou contraste: o absolutamente novo é inconhecível. Por outro, o ser humano se distingue dos outros animais ao se tornar capaz de desligar as relações de suas bases e términos e religá-las a outras bases ou términos. A ação do signo sempre tem um tanto de mimese, ao repetir um objeto ou um interpretante, e um tanto de poiese, ao fazer surgir algo que até então não existia na experiência. Na criação literária (como em toda criação) predomina a poiesea capacidade específica do ser humano de jogar com as relações. Isso nos permite definir a fantasia na literatura como uma divergência intencional de uma realidade definida por consenso. A terceira parte se concentra nos modelos ou sistemas que modelam a experiência e a criação de novos mundos, quer esses venham a existir fisicamente ou apenas como possibilidades. Dentre esses sistemas modeladores, a língua -- a linguagem desviada para a comunicaçãoaparece como a origem de todos os outros, quer eles sejam formas de governo, crenças religiosas ou teorias científicas e filosóficas sobre o ser e seus modos de conhecimento e de existência. Aqui comparam-se textos das mais diversas extrações, sem qualquer preocupação com gêneros, períodos ou fortuna crítica, em uma análise comparativa do funcionamento dos quatro principais sistemas modeladorespercepção, língua, religião e ciênciana criação de mundos possíveis e impossíveis. Conclui-se que a mímese da literatura fantástica é de interpretante, e não de objeto, como a mímese figurativa e especular da literatura realista.This dissertation follows a semiotic line in the study of modeling systems in non-realist literature. The first part deals with the action of the sign in nature and in the specifically human sphere. To the sign it is indifferent whether the object to which it refers exists in nature or only in the cognition of the experiencing organism. This characteristic of the sign enables animals to deceive and be deceived and, later, it enables humans to imagine and create beings without physical correlatives. Also from this characteristic arise language and all postlinguistic institutions. In other words, this possibility of the action of the sign gives birth to culture, by which the human being transcends the barriers of a biological heritage and the limits of the physical world. The second part analyses what this indifference in signification implies to literature, mainly to the theory of mimesis. On the one hand, cognition always occurs through comparison or contrast: the absolutely new is not cognizable. On the other, the human being distinguishes himself from other animals as he becomes able to disconnect relations from their bases and fundaments and reconnect them to other bases or fundaments. The action of the sign always contains some mimetic element, as it repeats an object or an interpretant, and some poietic element, as it brings about something that did not exist in experience. In literary creation (as in any creation) poiesisthe capacity specific to human beings of playing with relationspredominates. This enables us to define fantasy in literature as an intentional tlivorgence from a reality defined by consensus. The third part focuses on the models or modeling systems which model experience and the creation of new worlds, whetlier they come into existence physically or only as possibilities. Within these modeling systems, languageas deviated to communication appears as the origin of all the others, be they forms of government, religious beliefs, or scientific and philosophical theories about being and its ways of cognition and existence. Here texts from widely different sources are compared without any preoccupation with genres, periods or critical fortiine, in a comparative analysis of the working of the four main modeling systemsperception, language, religion, and sciencein the creation of possible and impossible worlds. The conclusion is that the mimesis in fantastic literature is one of interpretant and not one of object, as in the figurative and specular mimesis of realist literature.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGFicção fantástica História e críticaMimese na literaturaSemiótica e literaturaCriação (Literária, artística, etc)Estudos LiteráriosA construção de mundos na literatura não-realistainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALtese_juliocesarjeha.pdfapplication/pdf11790201https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9E5GXM/1/tese_juliocesarjeha.pdf3a0cd09254ef1a852547faf7413d5c24MD51TEXTtese_juliocesarjeha.pdf.txttese_juliocesarjeha.pdf.txtExtracted texttext/plain536255https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9E5GXM/2/tese_juliocesarjeha.pdf.txt239fce262323a59f567ad556adba535cMD521843/BUBD-9E5GXM2019-11-14 08:03:39.22oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-9E5GXMRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T11:03:39Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv A construção de mundos na literatura não-realista
title A construção de mundos na literatura não-realista
spellingShingle A construção de mundos na literatura não-realista
Julio Cesar Jeha
Estudos Literários
Ficção fantástica História e crítica
Mimese na literatura
Semiótica e literatura
Criação (Literária, artística, etc)
title_short A construção de mundos na literatura não-realista
title_full A construção de mundos na literatura não-realista
title_fullStr A construção de mundos na literatura não-realista
title_full_unstemmed A construção de mundos na literatura não-realista
title_sort A construção de mundos na literatura não-realista
author Julio Cesar Jeha
author_facet Julio Cesar Jeha
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Julio Cesar Machado Pinto
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Solange Ribeiro de Oliveira
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Silvia Simone Anspach
dc.contributor.referee3.fl_str_mv Eneida Maria de Souza
dc.contributor.referee4.fl_str_mv Ruth Junqueira Silviano Brandao
dc.contributor.author.fl_str_mv Julio Cesar Jeha
contributor_str_mv Julio Cesar Machado Pinto
Solange Ribeiro de Oliveira
Silvia Simone Anspach
Eneida Maria de Souza
Ruth Junqueira Silviano Brandao
dc.subject.por.fl_str_mv Estudos Literários
topic Estudos Literários
Ficção fantástica História e crítica
Mimese na literatura
Semiótica e literatura
Criação (Literária, artística, etc)
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Ficção fantástica História e crítica
Mimese na literatura
Semiótica e literatura
Criação (Literária, artística, etc)
description Esta tese se desenvolve ao longo de uma linha semiótica noestudo de sistemas modeladores na literatura não realista. A primeiraparte trata da ação do signo na natureza e na esfera específica do ser humano. Para o signo é indiferente se o objeto ao qual ele se refere existe na natureza ou apenas na cognição do organismo que o experiência. Essa característica do signo torna possível aos animais iludir e ser iludido e, mais tarde, ao ser humano, imaginar e criar seres sem correlativos na fisicalidade. Surgem daí a linguagem e todas as instituições que dela dependem. Dizendo de outra maneira, dessa possibilidade da ação dos signos nasce a cultura, pela qual o ser humano transcende as barreiras de uma herança biológica e os limites do mundo físico. A segunda parte analisa o que essa indiferença na significação implica para a literatura, principalmente para a teoria da mimese. Por um lado, o conhecimento sempre se dá por comparação ou contraste: o absolutamente novo é inconhecível. Por outro, o ser humano se distingue dos outros animais ao se tornar capaz de desligar as relações de suas bases e términos e religá-las a outras bases ou términos. A ação do signo sempre tem um tanto de mimese, ao repetir um objeto ou um interpretante, e um tanto de poiese, ao fazer surgir algo que até então não existia na experiência. Na criação literária (como em toda criação) predomina a poiesea capacidade específica do ser humano de jogar com as relações. Isso nos permite definir a fantasia na literatura como uma divergência intencional de uma realidade definida por consenso. A terceira parte se concentra nos modelos ou sistemas que modelam a experiência e a criação de novos mundos, quer esses venham a existir fisicamente ou apenas como possibilidades. Dentre esses sistemas modeladores, a língua -- a linguagem desviada para a comunicaçãoaparece como a origem de todos os outros, quer eles sejam formas de governo, crenças religiosas ou teorias científicas e filosóficas sobre o ser e seus modos de conhecimento e de existência. Aqui comparam-se textos das mais diversas extrações, sem qualquer preocupação com gêneros, períodos ou fortuna crítica, em uma análise comparativa do funcionamento dos quatro principais sistemas modeladorespercepção, língua, religião e ciênciana criação de mundos possíveis e impossíveis. Conclui-se que a mímese da literatura fantástica é de interpretante, e não de objeto, como a mímese figurativa e especular da literatura realista.
publishDate 1991
dc.date.issued.fl_str_mv 1991-10-04
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-09T16:14:26Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-09T16:14:26Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9E5GXM
url http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9E5GXM
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9E5GXM/1/tese_juliocesarjeha.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9E5GXM/2/tese_juliocesarjeha.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 3a0cd09254ef1a852547faf7413d5c24
239fce262323a59f567ad556adba535c
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803589224073527296