Desfechos em saúde bucal de indivíduos com síndrome de Down relatados por seus pais e cuidadores

• Autor(a) principal: Julya Ribeiro Campos
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/61897
• topic: Síndrome de Down; Saúde bucal; Autoeficácia; Halitose; Sangramento gengival; Assistência odontológica para pessoas com deficiências; Síndrome de Down; Assistência odontológica para pessoas com deficiências; Autoeficácia; Saúde bucal; Halitose

Condições bucais como agenesias, dentes conóides, má-oclusão, traumatismos dentários, halitose, doenças periodontais, alterações da língua, hábitos de babar e ficar com a boca aberta podem estar presentes em indivíduos com síndrome de Down (SD) e mobilizar atitudes de rejeição social. Pais/ cuidadores de indivíduos com SD enfrentam grande demanda de cuidados direcionados ao filho com deficiência e podem apresentar alto estresse e comprometimento da qualidade de vida. Este estudo objetivou analisar a associação de fatores sociodemográficos e biopsicossociais com a saúde bucal de indivíduos com SD em 4 desfechos principais: 1) halitose na SD relatada pelos pais/cuidadores; 2) sangramento gengival na SD relatado pelos pais/cuidadores; 3) estresse percebido e auto eficácia geral percebida dos pais/cuidadores; 4) acesso ao atendimento odontológico para indivíduos com SD. Foi desenvolvido um estudo observacional transversal (COEP UFMG protocolo CAAE #22814919.5.0000.5149), com um grupo de pais/cuidadores de indivíduos com SD matriculados nas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs) do estado de Minas Gerais. Os pais/cuidadores responderam um questionário estruturado online abordando questões de saúde bucal de seus filhos, variáveis socioeconômicas, individuais, comportamentais e impacto da pandemia da COVID-19. Além disso, foram também aplicadas a versão curta do Parental-Caregiver Perceptions Questionnaire (P-CPQ), a versão curta Perceived Stress Scale (PSS) e o General Perceived Self-Efficacy Scale (GPSS). A associação de variáveis de interesse e os desfechos de interesse do estudo foram avaliadas por análises univariadas e multivariadas (Statistical Package for Social Science - SPSS® versão 22.0). A amostra total compreendeu 257 pais/cuidadores (idade média 48,69±13,26 anos) de indivíduos com SD [idade média 18,71±14,01 (0–56)]. Os principais resultados mostraram que: 1) A ocorrência de halitose (34,4%; n=78) foi associada à: (a) em indivíduos com SD ≤18 anos – percepção negativa da saúde bucal (OR=3,09; p=0,015); (b) em indivíduos com SD >18 anos – sangramento gengival (OR=4.53; p=0,001), ausência de escovação da língua (OR=4,50; p=0,004), percepção negativa da saúde bucal (OR=2,72; p=0,012); 2) A ocorrência de sangramento gengival (34,4%; n=85) foi associada à: halitose (OR=4,69; p=0,001), percepção negativa da saúde bucal (OR=7,72; p=0,033) e a um efeito protetor do uso de fio dental (OR=0,16; p=0,005) e visita ao dentista nos últimos 6 meses (OR=0,12; p=0,015); 3) O estresse percebido dos pais/cuidadores (score 17,84±5,75) foi associado a: (a) estresse médio – hábito de morder dedos / roer unhas pelos indivíduos com SD (OR=2,05; p=0,038), dificuldades na higiene bucal (OR=2,39; p=0,011) e a um efeito protetor da auto-eficácia média (OR=0,12; p<0,001) e alta (OR=0,38; p=0,046); (b) estresse alto – impacto negativo da pandemia do COVID-19 nas finanças da família (OR=3,00; p=0,005) e um efeito protetor da auto-eficácia média (OR=0,25; p=0,006) e alta (OR=0,05; p<0,001). 4) O acesso ao atendimento odontológico (82,61%; n=209) foi associado à idade >18 anos (OR=0,17; p=0,02), maior renda familiar (OR=2,65; p=0,010), menor escolaridade dos pais (OR=0,47; p=0,009) e uso de fio dental (OR=4,94; p=0,001). Pode-se concluir que halitose e sangramento gengival relatados pelos pais/cuidadores apresentaram uma ocorrência considerável nos indivíduos com SD e foram associados principalmente a práticas de higiene bucal e uma percepção negativa da saúde bucal. O estresse percebido dos pais/cuidadores pode ser considerado mediano e associado principalmente a dificuldades nas práticas de higiene bucal, sendo que a autoeficácia apresentou um efeito protetor. Práticas de higiene devem ser orientadas neste grupo para melhoria da saúde bucal. O acesso ao atendimento odontológico foi alto e associado a boas práticas de higiene bucal. Características sociais como a baixa renda familiar e baixa escolaridade dos pais/cuidadores podem atuar como uma barreira a este atendimento.