Sistema de produção em casas de farinha: uma contribuição ao processo de consolidação da indicação geográfica da farinha Uarini

• Autor(a) principal: Raylene Rodrigues de Sena
• Data de Publicação: 2019
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/33599
• topic: Casas de farinha; Farinha Uarini; Indicação Geográfica; Reputação; Administração da produção; Farinha como alimento; Qualidade dos produtos

Sabe-se que, em maior ou menor proporção, a mandioca faz parte do cardápio da mesa dos brasileiros, sobretudo, em forma de farinha. Nas regiões Norte e Nordeste do Brasil a farinha de mandioca compõe porção significativa das refeições diárias. Estas são as regiões onde mais se consome o produto, e onde o mesmo representa, para a maioria dos produtores locais, a principal fonte de renda. No estado do Amazonas estão reunidas várias comunidades de pequenos produtores rurais e indígenas que produzem farinhas artesanais nas tradicionais Casas de Farinha. Com a industrialização da produção da farinha de mandioca, especialmente no sul e sudeste do Brasil, comunidades do município amazonense de Tefé e entorno estão se mobilizando para manter a tradição do processo de produção artesanal e, ao mesmo tempo, garantir competitividade no mercado. Nesse sentido, concentraram esforços na implementação de mudanças e adequações nos procedimentos de produção nas Casas de Farinha a fim de atender às exigências estruturais e sanitárias do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) para concessão do registro de Indicação Geográfica (IG). Este caminho conduziu ao reconhecimento da já conhecida e popular Farinha Uarini produzida naquela região, culminando com a aprovação de sua IG em agosto de 2019. Com o intuito de conhecer melhor o trabalho dos produtores da Farinha Uarini e acompanhar o processo de mudanças implementadas para atender às exigências para obtenção da IG, esta pesquisa delimitou quatro municípios amazonenses como área de abrangência da IG da Farinha Uarini: Tefé, Uarini, Alvarães e Maraã. O objetivo central deste estudo foi analisar, qualitativamente, o significado da aquisição da IG da Farinha Uarini como instrumento de contribuição na emergência de novas configurações de cadeias produtivas, adentrando o espaço de sua produção tradicional tendo, como pano de fundo, as novas condições mercadológicas proporcionadas pela obtenção da IG. Os resultados da pesquisa apontaram que as mudanças eventualmente implementadas no processo de produção da Farinha Uarini, voltadas para a obtenção da IG, poderão contribuir não somente para promover o produto, mas, também, para preservar a cultura, a história e a tradição das Casas de Farinha e do “saber fazer” dos produtores; com isso, será possível propiciar aos trabalhadores das casas de farinha um sustento com melhores condições de trabalho e qualidade de vida, já que determinadas mudanças preveem a redução de esforço físico e de inalação de fumaça durante a produção da farinha. É possível, ainda, que a IG, a partir das exigências uma vez cumpridas para sua obtenção, confira maior efetividade à divulgação da Farinha Uarini junto aos consumidores, principalmente, de fora do estado do Amazonas, ao mesmo tempo – e sobretudo - combatendo informações distorcidas sobre a qualidade do produto e a apropriação indevida do nome e da popularidade da Farinha Uarini por parte de outras marcas. Sob esta perspectiva, o monitoramento do processo de produção se faz necessário de modo a garantir o cumprimento regular das exigências previstas pela IG, bem como a justa reputação da Farinha Uarini. Da mesma forma, é preciso assegurar o engajamento dos produtores nos municípios envolvidos disponibilizando a eles os devidos suportes técnico, administrativo e financeiro.