A emergência de professoras travestis e transexuais na escola: heteronormatividade e direitos nas figurações sociais contemporâneas

• Autor(a) principal: Marco Antonio Torres
• Data de Publicação: 2012
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-99GHDH
• topic: Direitos; Figuração social; Processo social; Heteronormatividade; Travestis; Educação; Transexuais; Normas de gênero; Psicologia social; Professoras; Travestis; Professores; Educação; Transexuais; Psicologia social; Psicologia

A presente tese defende que a emergência de professoras transexuais e travestis está relacionada ao aumento crescente do gradiente de informalidade, algo que pode ser localizado desde os inícios do século XX. Durante este período, surgiram demandas de LGBT (Lésbicas,Gays, Bissexual, Travestis e Transexuais), por direitos e reconhecimento, que têm experimentado um aumento substancial nas últimas décadas. Este aumento está relacionado a mudanças no regime de emoção em que grupos passaram a disputar acerca da legitimidade daquelas demandas. As relações de grupos e sujeitos envolvidos nessas disputas podem ser compreendidas ao que Norbert Elias definiu como uma figuração do tipo estabelecidosoutsiders. A emergência de professoras trans, como parte do grupo de outsiders, suscitou a questão central da pesquisa, isto é, como essas professoras ingressaram e permaneceram na profissão docente. Possíveis respostas a essa questão estão relacionadas com o aumento dasdemandas de LGBT e processos sociais em que outsiders podem ser normalizados ou reconhecidos, ou ambas as alternativas. O surgimento de professoras transexuais e travestis está relacionado, entre outras coisas, à direção do processo social em que as alterações do regime de emoção foram identificadas. Na presente pesquisa o conceito de processo social permitiu a análise dos direitos LGBT, como demandas de direito e de reconhecimento, e a persistência da heteronormatividade na escola. A pesquisa foi realizada pela análise de discursos de dois corpora empíricos, um deles consiste de dois documentos que foram elaborados por grupos nas políticas de direitos humanos e o outro é formado pelas entrevistas com sete professoras trans. Essas análises constituem a base para a compreensão da entrada e manutenção das trans na profissão docente. Neste contexto, a relação das professoras trans com o movimento social LGBT e o desenvolvimento de identidades políticas e coletivas é um indicativo da direção do processo social. Devido à heteronormatividade, os outsiders podem ser submetidos aos monopólios do afeto e dos direitos nas interdependências emocionais, especialmente pela normalização dos seus corpos historicamente marcados pelo estigma da doença e da prostituição. Pode-se considerar que as professoras trans incorporaram contradições entre a busca para se adequar às normas de gênero e a luta contra a naturalização do gênero que foi naturalizada por aquelas normas. A negociação necessária entre essas professoras e a escola e delas com os movimentos sociais LGBT são fatores necessários à permanência das trans na profissão docente. As redes de solidariedade e a articulação de uma identidade coletiva ou política dessas professoras pode se constituir como um divisor de águas nas relações entre educação e pessoas trans.