Narrativas do negro na tv: o que dizem as crianças?

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Agnaldo Afonso de Sousa
Data de Publicação: 2009
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/FAEC-858PNS
Resumo: O trabalho em questão tem por objetivo discutir os processos de recepção vivenciados por crianças tendo por referência as narrativas sobre o negro na TV. A pesquisa foi realizada com 62 crianças na faixa etária de 09 a 12 anos, estudantes da 3ª e 4ª série de uma escola pública da rede municipal localizada na Grande Belo Horizonte. Partindo do pressuposto de que a criança estabelece uma relação ativa com a TV e da existência de uma narrativa sobre o negro, marcada historicamente pela sua ausência e apresentação em plano secundário, buscamos compreender como as crianças percebem e recebem essas narrativas, quais são as narrativas privilegiadas, quais são os elementos de identificação e quais mediações fazem parte deste processo de recepção. Como principais referências teóricas nos baseamos em estudiosos da cultura, como Stuart Hall e Nestor Canclini, nos estudos que relacionam mídia e educação, como o de Rosa Maria Bueno Fischer e Renato Ortiz e nos trabalhos que analisam historicamente a participação do negro no espaço midiático, como o de Joel Zito Araújo. Ao abordarem a TV como um meio de comunicação que produz e reproduz cultura, através de narrativas visuais e escritas, esses estudos apontam esse veiculo midiático como de fundamental importância, na atualidade, na construção das identidades. De um ponto de vista metodológico optamos por uma abordagem qualitativa, com a participação interventiva do pesquisador na proposição de tarefas para reflexão. As atividades envolveram a apresentação e discussão de programas televisivos, preenchimento de questionário e análise de artefatos relacionados à mídia Trazemos como elementos conclusivos a constatação de que, enquanto receptores ativos, as crianças percebem as mudanças ocorridas na forma de narrativa do negro ocasionada por diversos fatores, entre eles, as pressões dos movimentos sociais e própria descoberta do negro enquanto grupo consumidor por parte da publicidade. As crianças explicam pela via do preconceito racial a pouca presença do negro na TV. No conjunto com outras narrativas (do homossexual, do belo, etc.) a questão moral se apresenta como elemento de recusa e a questão cômica como fator de aceitação da narrativa para a maioria das crianças, independente de uma classificação étnica. A recepção que a criança faz de narrativas sobre o negro se reveste de uma complexidade relacionada aos diversos processos de mediação que nela se encontra: numa troca cambiante se encontram a própria constituição do que é ser negro; o imaginário social que diz respeito a um lugar de inferioridade para o negro que ainda se encontra presente tanto na mente das crianças quanto daqueles que produzem as narrativas; a religião; a representação hegemônica de beleza baseada nas características físicas do branco europeu que ainda é seguida e alardeada pela mídia; e as diversas vivências pelas quais a criança está submetida. Um grande número de falas que afirmam o desconhecimento ou identificação com a narrativa sobre o negro (não conhece, não gosta) dizem também de um deslugar para o negro, que é concomitante com a própria realidade histórica de sua narrativa. A constatação desse deslugar nos impõe a necessidade de continuarmos avançando na luta por uma TV que insira a diferença e repercuta em um tipo de ação política voltada para a transformação. Finalmente, no que diz respeito às crianças negras auto declaradas na pesquisa, embora haja necessidade de mais estudos que foquem este grupo unicamente, nos arriscamos a dizer, com base nos dados, que a narrativa do negro na TV ainda não se traduz numa ação afirmativa para a construção da identidade destas crianças
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Como principais referências teóricas nos baseamos em estudiosos da cultura, como Stuart Hall e Nestor Canclini, nos estudos que relacionam mídia e educação, como o de Rosa Maria Bueno Fischer e Renato Ortiz e nos trabalhos que analisam historicamente a participação do negro no espaço midiático, como o de Joel Zito Araújo. Ao abordarem a TV como um meio de comunicação que produz e reproduz cultura, através de narrativas visuais e escritas, esses estudos apontam esse veiculo midiático como de fundamental importância, na atualidade, na construção das identidades. De um ponto de vista metodológico optamos por uma abordagem qualitativa, com a participação interventiva do pesquisador na proposição de tarefas para reflexão. As atividades envolveram a apresentação e discussão de programas televisivos, preenchimento de questionário e análise de artefatos relacionados à mídia Trazemos como elementos conclusivos a constatação de que, enquanto receptores ativos, as crianças percebem as mudanças ocorridas na forma de narrativa do negro ocasionada por diversos fatores, entre eles, as pressões dos movimentos sociais e própria descoberta do negro enquanto grupo consumidor por parte da publicidade. As crianças explicam pela via do preconceito racial a pouca presença do negro na TV. No conjunto com outras narrativas (do homossexual, do belo, etc.) a questão moral se apresenta como elemento de recusa e a questão cômica como fator de aceitação da narrativa para a maioria das crianças, independente de uma classificação étnica. A recepção que a criança faz de narrativas sobre o negro se reveste de uma complexidade relacionada aos diversos processos de mediação que nela se encontra: numa troca cambiante se encontram a própria constituição do que é ser negro; o imaginário social que diz respeito a um lugar de inferioridade para o negro que ainda se encontra presente tanto na mente das crianças quanto daqueles que produzem as narrativas; a religião; a representação hegemônica de beleza baseada nas características físicas do branco europeu que ainda é seguida e alardeada pela mídia; e as diversas vivências pelas quais a criança está submetida. Um grande número de falas que afirmam o desconhecimento ou identificação com a narrativa sobre o negro (não conhece, não gosta) dizem também de um deslugar para o negro, que é concomitante com a própria realidade histórica de sua narrativa. A constatação desse deslugar nos impõe a necessidade de continuarmos avançando na luta por uma TV que insira a diferença e repercuta em um tipo de ação política voltada para a transformação. Finalmente, no que diz respeito às crianças negras auto declaradas na pesquisa, embora haja necessidade de mais estudos que foquem este grupo unicamente, nos arriscamos a dizer, com base nos dados, que a narrativa do negro na TV ainda não se traduz numa ação afirmativa para a construção da identidade destas criançasThe main goal of this paper is to discuss the reception process lived by children, referencing the presentation of the Black ethnic on TV. The reseach has been developed with 62 children from 9 to 12 years old, coursing the 3rd and 4th grade of a public school in the Grande Belo Horizonte metropolitan zone. Starting from an active relationship between children and TV principle and the existence of an historically Black ethnic defined by its lack and sidelined, it hopes to understand how do children cognize and receive these expressions, which ones are privileged, which are the recognition elements and which mediations are part of this acceptance process. Having with basic theoretical references, we've based on culture scholars like Stuart Hall and Nestor Canclini, on studies that relate media and education like Rosa Maria Bueno Fischer and Renato Ortiz and the works that make an historical analysis of the Black ethnic participation inside the media space, like Joel Zito Araújos work. When making an approach of the TV as a media that produces and reproduces culture through visual and written expressions, these works point to this media vehicle as a primal on identities construction. From a methodological point of view, we´ve choose a qualitative approach with the researchers interventional participation on tender the tasks for reflection. The activities enfold the presentation and discussion of TV programs, form filling and media-related artifacts. It brings as conclusive elements, the averment of while being active receptors, children perceive changes happened on Black ethnic expressions caused by several factors like social movements pressure and by own discovery, by advertisement, by Black ethnic as a consumer group and also explained by the racial prejudice and deficient presence of the Black ethnic on TV. In the group with other expressions (homosexuals, beautys, etc.) the moral issue appears as an exclusionary element and the comic issue as an acceptance factor of the childrens majority, not depending on an ethnic classification. The childrens perception relationship about the Black ethnic takes a complexity, facing to the several mediation processes founded: in an exchange are founded the own constitution, the social imaginative that refers to an inferior place that is still found present, both on childrens mind as on those who produces TV expressions, the religion, an hegemonic beauty representation based on European Caucasian followed and splurged by the media and several experiences which the children are submitted. A great number of speeches that assert the ignorance or identification with the Black ethnic expression (doesn´t know, doesn´t like) also presents an unplace for the Black ethnic which is concurrent with the own historical reality of its expression. The finding of this unplace forces us to the need of keeping moving ahead on a fight for a TV that inserts the difference and has repercussions in a kind of politic action pointed to the transformation. Finally, related to black children self-declared of the research, though the need of more study groups focused in this unique group, we risk saying, based on data, that Black ethnic expression on TV doesnt bring any affirmative action for the development of these children yet.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGRelações raciaisEducaçãoIdentidade etnicaTelevisãoRecepçãoRelações raciaisNarrativa do negroCriançaIdentidadeNarrativas do negro na tv: o que dizem as crianças?info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_agnaldo.pdfapplication/pdf1242185https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/FAEC-858PNS/1/disserta__o_agnaldo.pdf83c9be36b00cb4304150442acd6e8228MD51TEXTdisserta__o_agnaldo.pdf.txtdisserta__o_agnaldo.pdf.txtExtracted texttext/plain292549https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/FAEC-858PNS/2/disserta__o_agnaldo.pdf.txt13085e103799d2d092f8e065455da66bMD521843/FAEC-858PNS2019-11-14 21:13:05.001oai:repositorio.ufmg.br:1843/FAEC-858PNSRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-15T00:13:05Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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