A performance da memória e as trabalhadoras domésticas: um estudo entre Antropologia e Ciência da Informação na exposição de longa duração do museu Muquifu

• Autor(a) principal: Samanta Coan
• Data de Publicação: 2022
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/49712
• topic: Trabalhadora doméstica; Performance da memória; Museu comunitário; Muquifu; Etnografia; Ciência da informação; Etnologia; Museus etnológicos; Memória; Antropologia

Esta tese é resultado de pesquisa realizada no Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu), inaugurado por um grupo de moradores do Aglomerado Santa Lúcia (também conhecido como Morro do Papagaio) no dia 20 de novembro de 2012. É categorizado como museu comunitário e de território, que atua com acervo doado ou emprestado pela comunidade. No contexto do Muquifu, o foco investigativo foi em três exposições de longa duração: Doméstica, da escravidão à extinção – uma antologia do quartinho de empregada no Brasil [2013]; Uniformes de domésticas: da escravidão aos dias atuais [2015]; e Presente de Patroa [2018]. Para a análise, é abordada a performance da memória da empregada doméstica e problematizada a interseccionalidade de gênero, raça e classe como fator determinante (historicamente e no presente) da condição de vida e experiência de subalternização de mulheres negras trabalhadoras e moradoras de favela em Belo Horizonte. Assim, a proposta da tese é contribuir com uma “descrição densa” dessas exposições, objetivando evidenciar a importância do projeto de museus comunitários e de territórios, como o Muquifu, que assumem o compromisso de salvaguardar e divulgar as representações de memórias (objetos valorizados como acervo e patrimônio museal), colaborando com a produção de fontes informacionais e de registro – da história oral e de vida de pessoas marginalizadas que habitam as favelas ou periferias – , valiosas para a leitura a contrapelo da história oficial. Nesse intuito, a tese se apoia no aporte teórico dos estudos da performance e os registros pós-coloniais e decoloniais – com destaque para as produções feministas –, entre outras leituras complementares. Para discutir a noção de memória acionada no contexto expositivo do Muquifu, nossa referência foi as reflexões sobre arquivo e repertório de Diana Taylor (2013), a vocalidade nas escritas de Paul Zumthor (1993, 2018), cuja centralidade é o corpo em performance, e na história oral de Della Pollock (2005; 2008). Quanto aos recursos metodológicos, o trabalho consistiu em: pesquisa de fontes bibliográfica e documental (levantamento e consulta a produções teóricas e especializadas na temática da tese); pesquisa de campo orientada pelo método etnográfico da observação participante e participação observante junto ao Coletivo Muquifu; realização de entrevistas semi-estruturadas com mulheres que doaram e/ou escreveram relatos sobre o trabalho doméstico remunerado na exposição, bem como conversas informais com equipe do Muquifu e público visitante das exposições. Esse trabalho investigativo partiu das seguintes indagações: o que essas pessoas, ao acessarem às exposições do núcleo do trabalho doméstico remunerado, estavam performando? O que elas têm a dizer sobre si por meio do objeto museal e sobre a empregada doméstica? Como esse Museu oportuniza a agência e as diferentes identidades de si, desses participantes, por meio dos arquivos e repertórios? Como as trabalhadoras afetam os produtores desse Museu em suas concepções expográficas ao longo do tempo? Conclui-se que esse “museu comunitário em processo” busca que seu discurso político sobre o tema seja assimilado pelo público-visitante.