O que resta ao corpo : disputas de sentido em textualidades sobre assassinatos de travestis e transexuais

• Autor(a) principal: Dayane do Carmo Barretos
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/45647
• topic: Norma de gênero; Corpos; Disputas de sentido; Textualidades; Travestis e transexuais

Neste trabalho nos interessa investigar os sentidos em disputa que são configurados pelas textualidades que tratam de assassinatos de travestis e transexuais em Minas Gerais, que contribuem para a constituição vulnerabilidades a que os corpos dissidentes são submetidos. Para tanto, partimos do pressuposto de que tais textualidades são atravessadas pelas dinâmicas sociais e conformadas pelas relações de poder, principalmente no que se refere às normas de gênero. Entendemos as normas de gênero como ferramentas das redes de poder que enredam os corpos na sociedade, determinando os parâmetros de normalidade e, consequentemente, os desvios. Sendo assim, voltar o olhar para as produções que tratam de assassinatos, ou seja, para o fim máximo de condenação dos corpos desviantes, é uma forma de buscar vestígios das operações dessas normas. Para cercar essas questões, iniciamos as reflexões teóricas abordando o gênero e a norma de gênero, em uma ótica que evidencia a vinculação entre eles na conformação dos corpos na sociedade. Os estudos queer e a perspectiva decolonial nos auxiliam a pensar na constituição da diferença no esteio das relações de poder. A partir de uma abordagem de inspiração foucaultiana e butleriana, avançamos nas discussões sobre poder, acionando os debates sobre necropolítica e precariedade, que nos permitem compreender melhor a violência, principalmente aquela direcionada às pessoas trans. Nosso movimento analítico promove um olhar disposicional para investigar as textualidades do corpus. Uma vez que o interesse aqui é descortinar as operações normativas em atuação por meio da configuração de sentidos, optamos por um procedimento metodológico que destacasse a instabilidade e o caráter provisório, móvel e deslizante desses sentidos apropriados textualmente. Para tanto, coletamos um material de análise que consiste em matérias jornalísticas apontadas como fonte pelos mapas de assassinatos de travestis e transexuais desenvolvidos pela Associação de Travestis e Transexuais (ANTRA) nos anos de 2017 e 2018, os Registros de Eventos de Defesa Social (REDS) elaborados por agentes da segurança pública do mesmo período em Minas Gerais e que tratam desses assassinatos, e também os dossiês produzidos pela ANTRA que não só reúnem dados sobre os crimes, mas consistem em uma contraprodução que questiona o contexto de matabilidade. O intuito foi realizar uma análise das textualidades que compõem esse material, de modo que fosse possível enxergar recorrências, disputas e outras pistas que nos auxiliassem a compreender as redes de vulnerabilidades que cercam os corpos trans e travestis em nossa sociedade.