Negócio de impacto social, melhorias habitacionais e mercado financeiro: a moradia dos pobres como oportunidade de renda

• Autor(a) principal: Thaís Matos Moreno
• Data de Publicação: 2022
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/47926
• topic: Habitações; Empreendedorismo social; Mulheres; Pobres; Habitações; Empreendedorismo social; Mulheres; Pobres; Habitação

A pesquisa tem por objetivo analisar criticamente as dinâmicas, consequências e contradições de um negócio de impacto social no setor de melhorias habitacionais nas periferias: o caso da Vivenda. Trata-se de uma empresa que encontrou na inadequação edilícia (uma das categorias do déficit habitacional) uma oportunidade de renda e foi responsável pela emissão da primeira debênture de impacto social do Brasil. Seu discurso é pautado no empreendedorismo social como suposta resolução para problemas sociais. A empresa tem atuado como plataforma de financiamento de reformas domésticas em várias regiões do país, oferecendo crédito a juros para famílias de baixa renda e articulando-as com escritórios de arquitetura e outros agentes da construção. Como o déficit habitacional é predominantemente feminino, a clientela das reformas geridas pela Vivenda também é sobretudo de mulheres. Investigo tanto as estratégias financeiras da empresa quanto sua atuação concreta nos territórios. Balizas para isso são teorias acerca da financeirização, da vida cotidiana e da autoprodução de moradias, bem como teorias feministas. Para a coleta de dados sobre a empresa, recorri a fontes bibliográficas, lives, sites, matérias de jornais e redes sociais, e entrevistei arquitetas(os) de escritórios associados à plataforma da empresa. Além disso, realizei uma série de entrevistas com mulheres de baixa renda que adquiriram serviços oferecidos pela empresa, buscando compreender suas experiências quanto aos ganhos ou perdas de autonomia, à efetividade das reformas, às consequências da dívida contraída e às táticas cotidianas de gestão financeira. A análise dos dados coletados não apontam para a solução de problemas sociais, mas sim para a estruturação de um mercado de reformas de baixa complexidade associado ao mercado financeiro e desvinculado do Estado e das políticas públicas. Trata-se do estreitamento da financeirização com os territórios periféricos, encarando-os como uma nova frente de valorização do capital. Ao final da pesquisa, investigo ainda algumas iniciativas que considero brechas emancipatórias frente a este cenário. Elas são valiosas por mostrarem que o comprometimento com alguma forma de emancipação social ainda é possível.