A dinâmica fluvial quaternária e a configuração do modelado do relevo no contato entre a depressão do Rio Pomba e o Planalto de Campos das Vertentes - Zona da Mata de Minas Gerais

• Autor(a) principal: Leticia Augusta Faria de Oliveira
• Data de Publicação: 2012
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/IGCC-9QJT47
• topic: Zona da Mata de Minas Gerais; Luminescência Opticamente Estimulada (LOE); Geomorfologia fluvial; Neotectônica; Bacia do Rio Pomba; Relevo Mata, Zona da (MG); Geomorfologia Mata, Zona da (MG); Hidrografia Mata, Zona da (MG)

O estudo das formações superficiais aluviais na reconstituição de eventos geomorfológicos é uma ferramenta metodológica importante para a compreensão dos fatores condicionantes da evolução da rede de drenagem durante o Quaternário tardio. A dinâmica fluvial é bastante sensível a alterações endógenas e exógenas, e os depósitos podem guardar registros das condições tectônicas e climáticas vigentes nos períodos sin e pós deposicionais. A evolução da rede de drenagem está intimamente conectada com os processos de esculturação das vertentes e a compreensão acerca da configuração espaço-temporal da rede hidrográfica fornece informações determinantes sobre a evolução do relevo. Na Zona da Mata de Minas Gerais, a alta bacia do Rio Pomba (afluente de margem esquerda do baixo curso do Rio Paraíba do Sul) apresenta diferenças na morfologia das vertentes em áreas de litologia semelhante e livres de controle estrutural conhecido. A configuração do modelado do relevo regional sugere o papel decisivo dos processos fluviais na gênese de dois compartimentos morfológicos distintos: a Depressão Escalonada dos Rios Pomba-Muriaé e o Planalto de Campos das Vertentes (PROJETO RADAMBRASIL, 1983). Essa dissertação avalia a influência da dinâmica fluvial na configuração da depressão em seu contato com o planalto, bem como na porção deste pertencente à mencionada bacia. Por meio do levantamento, caracterização, interpretação e datação dos depósitos fluviais atuais e pretéritos dos principais cursos dágua que drenam ambos os compartimentos morfológicos, foi possível discutir a influência de fatores antrópicos, estruturais, tectônicos e climáticos sobre a dinâmica fluvial, bem como a influência desta sobre o modelado do relevo da área de estudo. Regionalmente, a geomorfologia fluvial é marcada pela ocorrência de três conjuntos de níveis fluviais abandonados: i) níveis cerca de 25 m acima do rio atual, identificados apenas nas porções dos vales próximas à escarpa da Serra da Mantiqueira; ii) níveis entre 15 e 20 m acima da lâmina dágua, sendo que essa altura aumenta em direção à jusante. A ocorrência dos depósitos desse nível varia de vale para vale, embora se perceba um padrão regional de distribuição dos mesmos; iii) terraços espessos (em média 10 m de espessura) que margeiam praticamente toda a calha, e no qual as planícies, de amplitudes anômalas em vários trechos, encontram-se embutidas ou encaixadas. A disposição e características dos níveis fluviais indicam que a sua gênese esteve condicionada por uma tectônica diferencial de blocos durante o Quaternário tardio. Foram comuns os processos de captura fluvial, por meio dos quais cursos dágua pertencentes à bacia do Rio Pomba capturaram canais pertencentes à bacia do Rio Doce. Esses processos seriam responsáveis pela incorporação de áreas do Planalto de Campos das Vertentes à bacia do Rio Pomba. A disposição dos trechos das calhas em corredeiras obedece a condicionamento estrutural ou tectônico e a incisão recente dos altos cursos sugere uma continuidade do avanço da Depressão do Rio Pomba sobre o Planalto de Campos das Vertentes. A morfologia das planícies se deve à combinação de fatores antrópicos e tectônicos, além de ser influenciada pela morfologia da bacia do Rio Pomba. A datação dos depósitos aluviais via método de Luminescência Opticamente Estimulada (LOE) se mostrou útil e adequada para datar episódios recentes de deposição aluvial (planícies e terraços fluviais). Cinco dentre os seis depósitos de planície datados obtiveram entre 1.500 (± 250) e 6.000 (± 750) anos de idade, sendo as planícies de baixo curso mais velhas que as de alto curso. Nesse período, o encaixamento do canal no trecho próximo ao ponto de coleta foi nulo ou inferior a 1 metro. A idade de 16.000 (± 1.500) anos obtida para um dos depósitos de planície do Rio São Manuel (bastante divergente, portanto, das demais) pode ter sido ocasionada pelo zeramento parcial da luminescência dos grãos de quartzo anteriormente à deposição, em decorrência da proximidade entre o local da coleta e a escarpa da Serra da Mantiqueira. Para o nível de terraço datado, foi obtida a idade de 11.800 (± 1.000) anos, durante os quais houve um encaixamento de 4 metros do curso dágua. Características da área de estudo, na qual são frequentes os processos de coluvionamento, podem limitar o alcance temporal desse método, que seria eficiente para a datação de episódios mais antigos de deposição fluvial apenas em regiões de vertentes mais estáveis.