Rompimento da barragem de mineração em Brumadinho/MG: Vivências e trajetórias ocupacionais de idosos em um contexto de desastre

• Autor(a) principal: Marcelo Brandão de Souza
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/62629
• topic: Desastre Humano;; Reconstrução Pós-Desastre;; Envelhecimento;; Pessoas Idosas;; Terapia Ocupacional.; Desastre; Reconstrução; Idosos; Terapia ocupacional

Introdução: As ocorrências de desastres estão se tornando mais frequente nos últimos anos, o que acarreta graves consequências para as vidas humanas, para o meio ambiente, para a economia e para a sociedade como um todo, tornando uma crescente preocupação para gestores públicos, pesquisadores e profissionais da saúde. Populações e comunidades afetadas por desastres, podem sofrer mudanças críticas e significativas em suas vidas, incluindo restrições em ocupações importantes e necessárias para a manutenção da vida cotidiana. Este contexto é preocupante entre as pessoas idosas que se encontram entre os grupos mais vulneráveis em situações de desastres. Objetivo: Compreender as experiências e as trajetórias ocupacionais das pessoas idosas que vivenciaram o desastre do rompimento da barragem de mineração ocorrido em Brumadinho/MG em 2019. Método: Estudo exploratório, com delineamento transversal e com uso da história oral temática como coleta de dados. A seleção da amostra se deu por conveniência, através da técnica de amostragem bola de neve e utilizou como recurso o informante-chave como facilitador para compor o perfil específico de participantes. As entrevistas foram realizadas individualmente e contou com a participação de 17 idosos com média de idade de 72 anos e residentes na cidade de Brumadinho, Minas Gerais (MG). Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas com autorização dos participantes. Foi utilizado o software MAXQDA para armazenamento, organização e codificação dos dados. A análise dos dados foi realizada empregando a análise de conteúdo, utilizando as unidades temáticas para descrever de forma objetiva e concisa o conteúdo manifestado na entrevista. Finalizou o processo com a técnica de triangulação, como estratégia de validação das informações adquiridas. Resultados: A análise das narrativas dos idosos permitiu construir duas categorias, ambas com quatro subcategorias: 1) (Re)vivendo o desastre: A) Lembranças e Sentimentos, B) Memórias dos que se foram, C) Espiritualidade, D) Revolta com a Empresa. 2) Mudanças no Cotidiano e no Bem-Estar: A) Efeitos na Saúde Física e Mental, B) Rupturas em Ocupações após o Rompimento, C) Restrições no Convívio Social e nas Relações Pessoais, D) Ressignificando as Ocupações após o Rompimento. Os idosos resgataram as lembranças do desastre, relembraram as perdas dos seus entes queridos, buscaram equilíbrio mental e emocional através da espiritualidade e demonstraram sentimento de revolta e indignação relacionado a Empresa responsável pela barragem. Diante do estresse vivenciado, houve alterações no quadro de saúde e comprometimento na saúde mental dos idosos. As atividades rotineiras antes do rompimento estavam centradas no cuidado da vida doméstica, trabalho e atividades significativas. Houve mudanças nas atividades do cotidiano, principalmente no lazer, como: redução da participação ao frequentar lugares públicos, restrição do convívio com os amigos e familiares e dos horários para sair de casa. Apesar de terem enfrentado um momento tão desafiador em suas vidas, os idosos demonstraram, conseguir reconstruir e redescobrir suas vidas em atividades significativas, permitindo assim, um sentimento de bem-estar ao se envolver em suas ocupações. Considerações finais: Ressalta a necessidade de políticas públicas destinadas a desastres e voltadas especificamente para as pessoas idosas, visto ser incipiente no cenário nacional e pelo fato, dos idosos pertencerem ao grupo de maior vulnerabilidade. Espera se que as evidências obtidas por meio desta pesquisa apresentem respaldo científico para a Terapia Ocupacional, fortalecendo ainda mais a ocupação humana como estratégia de enfrentamento às populações afetadas por desastres, contribuindo para a promoção da saúde e bem-estar.