A natureza e as manifestações do desejo na República de Platão

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Juliano Paccos Caram
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-AE7MM2
Resumo: A presente tese defende a distinção entre os gêneros ou princípios de ação constitutivos da alma, apresentados e discutidos por Platão no âmbito de sua República, e as diversas manifestações do desejo (), expressas como modulações da alma em sua totalidade e que, por conseguinte, exprimem-se a partir de certa conformação destes mesmos gêneros. O trabalho visa demonstrar de que maneira a natureza do desejo na alma, bem como sua origem, inscrevem-se para além deles, inclusive e especialmente do gênero desiderativo da alma () e da irracionalidade que lhe é própria. A , e por extensão os demais termos correlatos que recobrem a noção de desejo no âmbito do diálogo, distinta do , parece-nos mais corretamente compreendida se tomada em seu caráter relacional, ou seja, como resultado não de um único gênero anímico, mas da relação entre os gêneros que constituem a alma, o que possibilita inscrevê-la tanto na direção de um prazer imediato as repleções em geral -, quanto visando prazeres mediados pelo conhecimento e pela sabedoria. Como congênere à própria ação, o desejo surge como força propulsora na interação entre o corpo e a alma, que move o indivíduo como um todo em sua busca de satisfação ora por vias irracionais, ora por via da racionalidade. Fundamentalmente, o homem, unidade corpo-alma, deseja e seu modo de desejar exprime sempre uma certa disposição dos gêneros anímicos; logo, do seu modo de exercer sua atividade de animação. Como resultado desta constituição dos diversos modos de desejar, promove a ação que obterá ou não seu resultado esperado diante da organização e reorganização dos princípios anímicos que constituem o indivíduo e que o dispõe ao exercício de suas funções na polis. Não se trata, por exemplo, de afirmar que o tirano é um homem que age mal porque se deixa conduzir pelo gênero desiderativo de sua alma ou por desejos exclusivos deste, mas o é porque a organização de seu composto corpóreo-anímico manifesta um desvio de função que o faz desejar conteúdos menos nobres. Do mesmo modo, o filósofo não deve ser entendido como um homem que age bem porque se move de acordo com desejos exclusivos do gênero raciocinativo () de sua alma, mas o é porque seu modo de desejar encontra-se orientado por motivos racionais, engendrando um movimento em seu composto corpo-alma como um todo, de acordo com esses mesmos motivos. Logo, a verificação da validade de nossa hipótese pressupõe que investiguemos e sejamos capazes de demonstrar como o desejo se comporta na alma e como se manifesta a partir dela, sendo sumamente necessário à ação humana e, inclusive e especialmente, à práxis filosófica, pois é através dele que se pode alcançar o verdadeiro conhecimento e sabedoria
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A , e por extensão os demais termos correlatos que recobrem a noção de desejo no âmbito do diálogo, distinta do , parece-nos mais corretamente compreendida se tomada em seu caráter relacional, ou seja, como resultado não de um único gênero anímico, mas da relação entre os gêneros que constituem a alma, o que possibilita inscrevê-la tanto na direção de um prazer imediato as repleções em geral -, quanto visando prazeres mediados pelo conhecimento e pela sabedoria. Como congênere à própria ação, o desejo surge como força propulsora na interação entre o corpo e a alma, que move o indivíduo como um todo em sua busca de satisfação ora por vias irracionais, ora por via da racionalidade. Fundamentalmente, o homem, unidade corpo-alma, deseja e seu modo de desejar exprime sempre uma certa disposição dos gêneros anímicos; logo, do seu modo de exercer sua atividade de animação. Como resultado desta constituição dos diversos modos de desejar, promove a ação que obterá ou não seu resultado esperado diante da organização e reorganização dos princípios anímicos que constituem o indivíduo e que o dispõe ao exercício de suas funções na polis. Não se trata, por exemplo, de afirmar que o tirano é um homem que age mal porque se deixa conduzir pelo gênero desiderativo de sua alma ou por desejos exclusivos deste, mas o é porque a organização de seu composto corpóreo-anímico manifesta um desvio de função que o faz desejar conteúdos menos nobres. Do mesmo modo, o filósofo não deve ser entendido como um homem que age bem porque se move de acordo com desejos exclusivos do gênero raciocinativo () de sua alma, mas o é porque seu modo de desejar encontra-se orientado por motivos racionais, engendrando um movimento em seu composto corpo-alma como um todo, de acordo com esses mesmos motivos. Logo, a verificação da validade de nossa hipótese pressupõe que investiguemos e sejamos capazes de demonstrar como o desejo se comporta na alma e como se manifesta a partir dela, sendo sumamente necessário à ação humana e, inclusive e especialmente, à práxis filosófica, pois é através dele que se pode alcançar o verdadeiro conhecimento e sabedoriaCette thèse défend lidée de la distinction entre les genres ou les principes de laction qui sont constitutifs de lâme, présentés et discutés par Platon dans la République, et les diverses manifestations du désir exprimées comme des modulations de lâme dans sa totalité et, par conséquence, sexprimant à partir dune certaine conformation de ces genres. Le travailcherche à démontrer la manière par laquelle la nature du désir dans lâme, ainsi que son origine, sinscrivent au-delà de ceux-ci, y compris et spécialement au-delà de la faculté appétitive de lâme () et de lirrationalité qui lui est propre. Dans ce dialogue, l et par extension les autres termes corrélés qui recouvrent la notion de désir - notiondistincte de l - nous semble plus justement comprise si envisagée dans son aspect relationnel, à savoir comme le résultat non pas dun seul principe animique mais de la relation entre les principes qui constituent lâme, ce qui permet de linscrire aussi bien dans la direction dun plaisir immédiat les remplissements en général - , que dans les plaisirs que la connaissance et la sagesse procurent. Le désir, congénère de laction elle-même, surgit comme une force de propulsion dans linteraction entre le corps et lâme qui meut lindividu comme un tout, dans sa quête de satisfaction, par des voies qui sont soit rationnelles, soit irrationnelles. Fondamentalement, lhomme, unité corps-âme, désire et, comme conséquence des diverses modalités du désir, laction quils promeuvent obtiendra ou non le résultat escompté face à lorganisation et à la réorganisation des principes animiques constituant lindividu et le disposant à lexercice de ses fonctions dans la polis. Il ne sagit pas ici daffirmer que le tyran agit mal parce quil se laisse conduire par la faculté appétitive de sonâme ou par des désirs qui sont propres à cette faculté, mais parce que lorganisation de ce composé corporel-animique manifeste une détournement de fonction lui faisant désirer des contenus moins nobles. De même, le philosophe ne doit pas être compris comme un homme agissant bien parce quil suit les désirs de son âme relevant exclusivement du genre rationnel(), mais parce que sa manière de désirer est orientée par des motifs rationnels, engendrant un mouvement dans lensemble de son composé corps-âme, en harmonie avec ces désirs eux-mêmes. Aussi, la vérification de la validité de notre hypothèse présuppose que nous cherchions, et soyons capables de démontrer, comment le désir se comporte dans lâme et comment il se manifeste à partir delle. Ce désir est impérativement nécessaire à laction humaine et, principalement à la praxis philosophique puisque cest par son trûchement que lon peut atteindre la vraie connaissance et la sagesse.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGAlmaDesejoPlatãoFilosofiaPlatãoRepúblicaAlmaCorpoAçãoDesejoPlatãoA natureza e as manifestações do desejo na República de Platãoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALtese___juliano_caram__vers_o_final_.pdfapplication/pdf3549459https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AE7MM2/1/tese___juliano_caram__vers_o_final_.pdfba6cde1089e9d68fafed0042b72762ffMD51TEXTtese___juliano_caram__vers_o_final_.pdf.txttese___juliano_caram__vers_o_final_.pdf.txtExtracted texttext/plain661159https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AE7MM2/2/tese___juliano_caram__vers_o_final_.pdf.txt2230eef466e54a1ebb894650eb0d6bdaMD521843/BUOS-AE7MM22019-11-14 03:46:52.157oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-AE7MM2Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T06:46:52Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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