Ecologia histórica aplicada à gestão ambiental comunitária da terra indígena Maxakali, Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marco Túlio da Silva Ferreira
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-99QG4H
Resumo: Ao longo dos últimos séculos, o processo de perda da diversidade sócio-cultural vem sendo acompanhado pela erosão da diversidade genética global (humana e não-humana). Os povos indígenas falantes da família lingüística maxakali vêm assistindo ao histórico processo dedevastação ambiental que ocorreu e ainda ocorre na mata atlântica brasileira. Além de verem suas matas reduzidas, os descendentes pan-maxakalis sobreviventes se viram confinados a um território extremamente diminuto para seus hábitos nômades e sua agricultura itinerante, não sem vários problemas que afetam a qualidade ambiental da área. A introdução, pela sociedade pecuarista que passa a dominar a região a partir da segunda metade do século XIX, do capimcolonião(Megathyrsus maximus (Jacq.) B.K.Simon & S.W.L.Jacobs Poaceae), econsequentemente de seu manejo através do fogo, obriga os maxakalis a conviver com esta espécie invasora. No entanto, ao invés de reduzir sua abundância, o manejo do regime de queima do colonião desenvolvido pelos maxakalis (um tanto quanto diferente do empregadopara a simples rebrota de pastagens), tem se mostrado ambientalmente deletério, favorecendo a expansão das áreas desta gramínea adaptada ao fogo, ao atingir as bordas do fragmento florestal,um processo que vêm anualmente empobrecendo a biodiversidade local, já bastante impactada. A ausência da floresta material traz impactos diretos na ecologia simbólica do grupo, em que se destaca a erosão intergeracional de saberes ambientais. Logo, os maxakalis se vêem atualmente diante do dilema de adequar suas práticas ecológico-econômicas de manejo e significação da biodiversidade e da paisagem (extensivas, nômades, e dependentes de grandes áreas de floresta) a um território hoje insuficiente para suprir as demandas de um contingente demográfico em franca expansão. Faz-se necessária, portanto, uma sensibilização agroecológica junto aos maxakalis, como catalisador para um processo de gestão ambiental e territorial comunitária, que vise à conservação dos recursos naturais dos quais esta comunidade depende, tanto material quanto simbolicamente. Porém, para que isto se torne possível, e para que haja um envolvimento intelectual ativo dos principais actantes em jogo (os maxakalis), é preciso primeiro compreender a Ecologia (enquanto scientia e enquanto praxis) desta manifestação cultural única no planeta, de forma que ela possa se refletir num planejamento estratégico em longo prazo, do manejo ambiental da área protegida. Neste contexto, o presente estudo descreve a Ecologia Maxakali visando à elaboração de um plano futuro de gestão ambiental comunitária da Terra Indígena Maxakali.
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Logo, os maxakalis se vêem atualmente diante do dilema de adequar suas práticas ecológico-econômicas de manejo e significação da biodiversidade e da paisagem (extensivas, nômades, e dependentes de grandes áreas de floresta) a um território hoje insuficiente para suprir as demandas de um contingente demográfico em franca expansão. Faz-se necessária, portanto, uma sensibilização agroecológica junto aos maxakalis, como catalisador para um processo de gestão ambiental e territorial comunitária, que vise à conservação dos recursos naturais dos quais esta comunidade depende, tanto material quanto simbolicamente. Porém, para que isto se torne possível, e para que haja um envolvimento intelectual ativo dos principais actantes em jogo (os maxakalis), é preciso primeiro compreender a Ecologia (enquanto scientia e enquanto praxis) desta manifestação cultural única no planeta, de forma que ela possa se refletir num planejamento estratégico em longo prazo, do manejo ambiental da área protegida. Neste contexto, o presente estudo descreve a Ecologia Maxakali visando à elaboração de um plano futuro de gestão ambiental comunitária da Terra Indígena Maxakali.Throughout the last centuries, socio-cultural diversity loss has been accompanied side by side by global genetic (human and non-human) diversity erosion. The indigenous peoples whose languages belong to the maxakali linguistic family have witnessed the historical process ofenvironmental destruction that still takes place in the Brazilian Atlantic rainforest. Not only confronted with extremely reduced forested areas, the extant pan-maxakali descendants are faced with a severely small territory, which jeopardizes their nomadic habits and swidden agriculture, and greatly endangers environmental quality of the area. The introduction, in the area, of African guinea-grass (Megathyrsus maximus (Jacq.) B.K.Simon & S.W.L.Jacobs Poaceae) and its fire management techniques by the cattle breeder hegemonic surrounding society has forced the maxakali to have to live together and manage this invasive species, often using fire to control it. However, instead of decreasing its abundance, the fire regime management developed by the maxakali (which has striking differences between the one practiced by cattle breeders) has been causing severe environmental damage, whilst favoring the expansion of fire-prone guinea-grass areas when fire hits forest borders, a process which has annually diminishing already impoverished local biodiversity. Absence of the physical forest may bring significant impacts in their symbolic ecology, in which the inter-generational loss of environmental knowledge is the most salient. Therefore, the maxakali presently face the dilemma of adapting their ecological and economical practices of biodiversity landscape management and symbolic interpretation (which are nomadic, extensive, and highly dependent on large forested areas) to a territory that is presently insufficient to meet the demands of a rapidly expanding population. Thus, it becomes necessary to perform an agroecologicalsensibilization towards these people, in order to catalyze a process of community-based environmental and territorial management, aimed at preserving the resources of which their culture depends, both symbolic and materially. Nevertheless, to make this possible with direct intellectual involvement by the main stakeholders (that is, the maxakali), it is first necessary to comprehend this unique cultures Ecology (both as scientia and as praxis), in a way that it may be reflected in a long-term environmental management strategic planning for the protectedarea. In this sense, the present study is aimed at bringing a description of the Maxakali Ecology that may later contribute for a community-based environmental management plan of the Maxakali indigenous territory.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGEcologiaEcologiaConservação e Manejo da Vida SilvestreEcologia histórica aplicada à gestão ambiental comunitária da terra indígena Maxakali, Minas Geraisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdissert_final_ferreira_mt.pdfapplication/pdf4407281https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-99QG4H/1/dissert_final_ferreira_mt.pdf4cea9f74c4a5068b206a367459701aadMD51TEXTdissert_final_ferreira_mt.pdf.txtdissert_final_ferreira_mt.pdf.txtExtracted texttext/plain423386https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-99QG4H/2/dissert_final_ferreira_mt.pdf.txt31207c8da64d94540f0adb999b9bb1a1MD521843/BUOS-99QG4H2019-11-14 19:31:55.672oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-99QG4HRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T22:31:55Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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