Incesto fraterno: raízes arcaicas de seu aparecimento na infância e adolescência

• Autor(a) principal: Cynthia da Conceicao Tannure
• Data de Publicação: 2018
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B88FCV
• topic: Psicanálise; Arcaico; Infância; Incesto Fraterno; Adolescência; Psicanálise; Incesto; Infância e juventude; Psicologia

Desde os escritos de Freud, a temática do incesto tornou-se de extrema relevância para a investigação psicanalítica. Tendo em vista sua problematização, abriu-se uma série de interrogantes acerca da gênese de sua proibição, das condições familiares e pessoais que levam à instalação e à vigência de práticas incestuosas. Nessa via, o ponto de origem do presente estudo surgiu a partir da nossa experiência clínica no Projeto CAVAS/UFMG (Projeto de pesquisa e extensão com crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual), por meio do qual tivemos acesso a alguns intrigantes casos de incesto fraterno, inseridos em um contexto familiar de cuidados parentais negligentes, violentos e, algumas vezes, também incestuosos. Partimos da hipótese de que esses cuidados parentais precários, ao serem internalizados, foram determinantes para o modo como cada uma dessas crianças canalizou suas demandas pulsionais e seus desejos, diante das exigências de sua realidade psíquica. Optamos, assim, por investigar as raízes arcaicas da possível relação existente entre os investimentos primários que falharam em conter e apaziguar as excitações e a escolha do vínculo fraterno como destino viável para tais fins. Seguindo a trilha da pesquisa psicanalítica que envolve uma reflexão constante entre a teoria estabelecida e os desafios colocados pelas observações clínicas dos movimentos psíquicos observados em determinado contexto cultural iniciamos nosso estudo reunindo as ideias freudianas sobre organização e interdição dos desejos incestuosos, a partir do complexo de Édipo e do Complexo de castração, assim como sobre as particularidades das relações fraternas e da história de sedução vivida na infância entre irmãos com idades próximas. Nesse percurso, privilegiamos a perspectiva psicanalítica, que estuda e compreende o funcionamento psíquico por meio da internalização das relações da criança com seus objetos, em interação com suas defesas e pulsões. Assim, aproveitamos as contribuições de autores, como Melanie Klein, René Kaës, Luís Hornstein e Rosa Jaitin, que permitem compreender o incesto fraterno a partir dos aspectos arcaicos da relação com a mãe e da impossibilidade de se separar desta. Da relação entre esse fusionamento insatisfatório, que não cria recursos internos para contenção e apaziguamento das excitações, e da falta de obstáculos que impeçam a renúncia aos objetos familiares, advêm necessidades primitivas que se atualizam nas relações com os irmãos e irmãs. Desse modo, o incesto, em correspondência com o funcionamento do complexo fraterno arcaico, terá um colorido em que se destacam o sentimento invejoso e as necessidades narcísicas. Procuramos entrelaçar essas ideias com a frequente ocorrência das atuações incestuosas, quando um dos irmãos se encontra na entrada da adolescência período da vida em que se rearranjam as internalizações resultantes das relações da primeira infância.