Polinização e estrutura do androceu em Solanum luridifuscescens bitter (Clado cyphomandra solanaceae): a morfologia da antera prediz a estratégia de polinização?

• Autor(a) principal: Bruno Fernandes Falcao
• Data de Publicação: 2015
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9WVFNZ
• topic: Cyphomandropsis; Vibração; Secreção; Pneumático; Mata Atlântica; Vibração; Secreção; Botânica; Solanum luridifuscescens; Mata Atlântica; Polinização

As flores do gênero Solanum, em geral, possuem anteras rígidas e amarelas, que contrastam com a cor do perianto, não produzem néctar, e oferecem o pólen seco como único recurso, caracterizando a síndrome de pólen. Os principais polinizadores são abelhas fêmeas que transmitem vibrações às anteras, provocando a liberação de pólen através dos pequenos poros apicais. Neste trabalho, estudamos uma população de Solanum luridifuscescens Bitter que foge a esse padrão, suas flores apresentam anteras flexíveis, cobertas por papilas roxas, que não contrastam com a cor da corola. Essas características lembram algumas espécies proximamente relacionadas que exibem o mecanismo pneumático de polinização, por meio do qual machos de abelhas da tribo Euglossini, causam a compressão das paredes delgadas das anteras e, inadvertidamente, provocam a liberação de pólen sem aplicar vibrações às flores. Nesse tipo de interação, os perfumes florais, além de atuarem como os principais atrativos, também são o principal recurso floral, o que caracteriza a síndrome de perfume. No capítulo 1 investigamos a biologia reprodutiva e a polinização da população em questão, sendo o principal objetivo determinar a ocorrência desse mecanismo. As flores possuem antese diurna, são hermafroditas, pentâmeras, de corola roxa estrelada. Duram em média cinco dias, se fecham todas as noites e o estile cresce durante a antese. Fêmeas de seis espécies de abelhas visitaram as flores e vibraram as anteras para coletar pólen. Machos de Euglossini podem visitar as flores, mas sem provocar liberação de pólen, dessa forma nossos estudos mostraram o mecanismo pneumático operando somente em resposta a estímulos artificiais. Em Solanum luridifuscescens, uma espécie polinizada por abelhas fêmeas que coletam pólen por vibração, a conquista do princípio pneumático pode representar um estágio evolutivo intermediário entre um Solanum típico e aqueles polinizados por machos de Euglossini. No capítulo 2 analisamos o caráter glandular das anteras da espécie, com o objetivo de elucidar sua morfologia intracelular, buscando evidenciar se as papilas que revestem as anteras constituem osmóforos. Rápido consumo de amido, característica marcante em tecidos secretores de perfume, foi observado no material analisado. As papilas epidérmicas do conectivo que cobrem a face abaxial das anteras possuem características comumente encontradas em tecidos osmogênicos: citoplasma denso e rico em organelas, núcleo conspícuo, numerosas mitocôndrias, e gotas lipídicas no citoplasma durante a antese. Pequenas vesículas se fundem no interior dos numerosos plastídeos até formar uma grande estrutura globular. Diversas cisternas de retículo endoplasmático liso são encontradas junto aos plastídeos e à membrana plasmática. Uma substância amorfa, de elétron-densidade moderada e textura heterogênea foi encontrada junto à cutícula. A liberação parece ocorrer por processos écrinos, mas o sítio exato de transporte para o exterior não foi localizado. Embora os testes com Sudan tenham sido positivos e as evidências ultraestruturais indiquem que as células secretam substâncias de natureza lipídica, possivelmente terpenos, futuras análises ainda são necessárias para se confirmar a natureza química dos compostos produzidos. A aquisição do princípio pneumático de polinização e a evolução do conectivo secretor podem ter ocorrido mais de uma vez no clado Cyphomandra, tendo em vista o não monofiletismo das seções que o compõem.