Um dos novos rostos da histeria: os sintomas anoréxicos como resposta ao discurso do capitalismo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2011 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFMG |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B2QQ5B |
Resumo: | Embora atualmente pareça existir certo desinteresse pela histeria, resulta inegável a contribuição da mesma a historia da psicanálise, a qual surge precisamente do empenho de Freud em decifrar o sintoma histérico. Mas em que pode contribuir atualmente a histeria? Na contemporaneidade a repressão sexual se transformou, depois da liberação sexual no final do século XX, em uma superexposição sexual. O mestre contemporâneo nos apresenta, por meio da ciência, uma infinidade de produtos, objetos para nos satisfazer. Trata-se de uma proposta de gozo completo que escapa á perda do gozo presente no regime ou na dimensão fálica. Para o discurso capitalista não existe falta que não possa ser satisfeita pelo ultimo gadget, para o mercado não há objeto perdido senão objeto a ser produzido e consumido. Porém, o sintoma resiste. Presenciamos o aparecimento de epidemias de doenças mentais, modas de patologias já existentes. A psiquiatria atual, utilizando o que parece ser uma fonte interminável de nomes cada vez mais descritivos e que significam cada vez menos, sustenta o modelo de um discurso universitário esvaziado das particularidades dos sujeitos e de qualquer tentativa de sentido. Essas neo-epidemias contemporâneas tomaram o lugar do laço social atualmente fraturado. Esses sujeitos se identificam a seu sintoma: são anoréxicos, depressivos, etc. A nomeação os inclui num grupo e dá consistência ao seu sintoma, colocando a ênfase no universal e não no particular dele. Não estamos diante de uma forma da identificação histérica, de desejo a desejo, mas diante do que poderíamos denominar de uma comunidade do gozo. Essas comunidades tem feito um uso especial das novas formas de comunicação, em especial da Internet, proliferando grupos, foros, websites e chats que reúnem grupos de pessoas identificadas em gozos específicos. Nosso interesse vai se centrar no crescimento significativo de sujeitos que tem se identificado ao sintoma anoréxico. A partir da análise de duas autobiografias de sujeitos que se nomeiam a si próprios como anoréxicos (Cielo Latini e Lori Gottlieb), se vincula o discurso que sustenta seu sintoma com uma relação particular com o gozo e o Outro. Procuramos nessa relação particular mostrar a forma com que alguns sujeitos histéricos fazem uso do sintoma anoréxico para demandar ao Outro. Postulamos a hipótese da existência de uma forma de anorexia (que não exclui outras formas), que chamaremos de transitória, que está marcada por essa demanda ao Outro, como forma de preservar seu desejo. Diante da imposição do discurso capitalista, como novo mestre, do dever gozar, a histeria responde com o sintoma. Nesses casos, o sintoma anoréxico reivindica o direito ao gozo, mostrando desde seu extremo, que sempre há uma falha no gozo. A proposta de um gozo universal e absoluto enfrenta-se inevitavelmente no particular do sujeito |
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Jesus SantiagoAngela Maria Resende VorcaroLucia Grossi dos SantosErnesto Andres Anzalone Vazquez2019-08-09T21:35:39Z2019-08-09T21:35:39Z2011-02-14http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B2QQ5BEmbora atualmente pareça existir certo desinteresse pela histeria, resulta inegável a contribuição da mesma a historia da psicanálise, a qual surge precisamente do empenho de Freud em decifrar o sintoma histérico. Mas em que pode contribuir atualmente a histeria? Na contemporaneidade a repressão sexual se transformou, depois da liberação sexual no final do século XX, em uma superexposição sexual. O mestre contemporâneo nos apresenta, por meio da ciência, uma infinidade de produtos, objetos para nos satisfazer. Trata-se de uma proposta de gozo completo que escapa á perda do gozo presente no regime ou na dimensão fálica. Para o discurso capitalista não existe falta que não possa ser satisfeita pelo ultimo gadget, para o mercado não há objeto perdido senão objeto a ser produzido e consumido. Porém, o sintoma resiste. Presenciamos o aparecimento de epidemias de doenças mentais, modas de patologias já existentes. A psiquiatria atual, utilizando o que parece ser uma fonte interminável de nomes cada vez mais descritivos e que significam cada vez menos, sustenta o modelo de um discurso universitário esvaziado das particularidades dos sujeitos e de qualquer tentativa de sentido. Essas neo-epidemias contemporâneas tomaram o lugar do laço social atualmente fraturado. Esses sujeitos se identificam a seu sintoma: são anoréxicos, depressivos, etc. A nomeação os inclui num grupo e dá consistência ao seu sintoma, colocando a ênfase no universal e não no particular dele. Não estamos diante de uma forma da identificação histérica, de desejo a desejo, mas diante do que poderíamos denominar de uma comunidade do gozo. Essas comunidades tem feito um uso especial das novas formas de comunicação, em especial da Internet, proliferando grupos, foros, websites e chats que reúnem grupos de pessoas identificadas em gozos específicos. Nosso interesse vai se centrar no crescimento significativo de sujeitos que tem se identificado ao sintoma anoréxico. A partir da análise de duas autobiografias de sujeitos que se nomeiam a si próprios como anoréxicos (Cielo Latini e Lori Gottlieb), se vincula o discurso que sustenta seu sintoma com uma relação particular com o gozo e o Outro. Procuramos nessa relação particular mostrar a forma com que alguns sujeitos histéricos fazem uso do sintoma anoréxico para demandar ao Outro. Postulamos a hipótese da existência de uma forma de anorexia (que não exclui outras formas), que chamaremos de transitória, que está marcada por essa demanda ao Outro, como forma de preservar seu desejo. Diante da imposição do discurso capitalista, como novo mestre, do dever gozar, a histeria responde com o sintoma. Nesses casos, o sintoma anoréxico reivindica o direito ao gozo, mostrando desde seu extremo, que sempre há uma falha no gozo. A proposta de um gozo universal e absoluto enfrenta-se inevitavelmente no particular do sujeitoAlthough currently there seems to be certain disinterest in hysteria, still persists its undeniable contribution to the history of psychoanalysis, which arises precisely from the Freud efforts to decipher the hysterical symptom. However, what can be nowadays the hysteria contribution? Today, sexual repression became, after the sexual liberation of the late twentieth century, in a sexual overexposure. The contemporary master shows us, through science, a multitude of products, objects that try to satisfy us. This is a proposal for full jouissance that escapes from the lack of jouissance in the present phallic. For the capitalist discourse there is a lack that can not be satisfied by the latest gadget, there is no lost object for the market, but an object to be produced and consumed. However, the symptom resists. We witness the emergence of mental illness "epidemics", existing pathologies "fashions". The current Psychiatry, using what appears to be an endless source of names that being more descriptive means less and less, supports the model of a university discourse stripped of particularities of the subject and of any attempt of meaning. These neo-epidemics have taken the place of the social bond currently fractured. These subjects identify their own symptoms: they are anorexic, depressed, etc.. The nomination includes a group and the consistency of their symptoms, emphasizing the universal and the not particular of them. It is not a way of hysterical identification, from desire to desire, but what could be termed as a community of jouissance. These communities have made special use of new forms of communication, especially the Internet, proliferating groups, forums, websites and chat rooms that bring together groups of people identified in specific jouissances. In this sense our interest will focus on the subject of significant growth that has been identified with the anorexic symptom. Accordingly, from the analysis of two autobiographies of individuals who nominate themselves as anorexic (Cielo Latini and Lori Gottlieb), binds the discourse that sustains their symptoms in a particular relationship with the jouissance and the Other. We look at this particular relationship, showing how some of the hysterical subjects, use anorexic symptom to demand the Other. We postulate the existence of a form of anorexia (which does not exclude other forms), that we will call "transitional," which is marked by this demand to the Other as a way to preserve their desire. Before the imposition of the capitalist discourse as a new master, as a "should" jouir, the hysteria answers from the symptom. In such cases, the anorexic symptom claims the "right" to jouissance showing from the extreme, that there is always a lack. The proposal for a universal and absolute jouissance, inevitably faces the particularity of the subjectUniversidade Federal de Minas GeraisUFMGAnorexiaCapitalismoPsicanálisePsicologiaAnorexiaPsicanáliseHisteriaDiscurso capitalistaNovos sintomasUm dos novos rostos da histeria: os sintomas anoréxicos como resposta ao discurso do capitalismoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_ernesto_anzalone_vazquez.pdfapplication/pdf1888581https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-B2QQ5B/1/disserta__o_ernesto_anzalone_vazquez.pdf75335e0c8c190cf85bc13c395270df15MD51TEXTdisserta__o_ernesto_anzalone_vazquez.pdf.txtdisserta__o_ernesto_anzalone_vazquez.pdf.txtExtracted texttext/plain254310https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-B2QQ5B/2/disserta__o_ernesto_anzalone_vazquez.pdf.txt6e6fc4463acb8be9758ddd4f530e3761MD521843/BUOS-B2QQ5B2019-11-14 04:05:39.888oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-B2QQ5BRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T07:05:39Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false |
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Embora atualmente pareça existir certo desinteresse pela histeria, resulta inegável a contribuição da mesma a historia da psicanálise, a qual surge precisamente do empenho de Freud em decifrar o sintoma histérico. Mas em que pode contribuir atualmente a histeria? Na contemporaneidade a repressão sexual se transformou, depois da liberação sexual no final do século XX, em uma superexposição sexual. O mestre contemporâneo nos apresenta, por meio da ciência, uma infinidade de produtos, objetos para nos satisfazer. Trata-se de uma proposta de gozo completo que escapa á perda do gozo presente no regime ou na dimensão fálica. Para o discurso capitalista não existe falta que não possa ser satisfeita pelo ultimo gadget, para o mercado não há objeto perdido senão objeto a ser produzido e consumido. Porém, o sintoma resiste. Presenciamos o aparecimento de epidemias de doenças mentais, modas de patologias já existentes. A psiquiatria atual, utilizando o que parece ser uma fonte interminável de nomes cada vez mais descritivos e que significam cada vez menos, sustenta o modelo de um discurso universitário esvaziado das particularidades dos sujeitos e de qualquer tentativa de sentido. Essas neo-epidemias contemporâneas tomaram o lugar do laço social atualmente fraturado. Esses sujeitos se identificam a seu sintoma: são anoréxicos, depressivos, etc. A nomeação os inclui num grupo e dá consistência ao seu sintoma, colocando a ênfase no universal e não no particular dele. Não estamos diante de uma forma da identificação histérica, de desejo a desejo, mas diante do que poderíamos denominar de uma comunidade do gozo. Essas comunidades tem feito um uso especial das novas formas de comunicação, em especial da Internet, proliferando grupos, foros, websites e chats que reúnem grupos de pessoas identificadas em gozos específicos. Nosso interesse vai se centrar no crescimento significativo de sujeitos que tem se identificado ao sintoma anoréxico. A partir da análise de duas autobiografias de sujeitos que se nomeiam a si próprios como anoréxicos (Cielo Latini e Lori Gottlieb), se vincula o discurso que sustenta seu sintoma com uma relação particular com o gozo e o Outro. Procuramos nessa relação particular mostrar a forma com que alguns sujeitos histéricos fazem uso do sintoma anoréxico para demandar ao Outro. Postulamos a hipótese da existência de uma forma de anorexia (que não exclui outras formas), que chamaremos de transitória, que está marcada por essa demanda ao Outro, como forma de preservar seu desejo. Diante da imposição do discurso capitalista, como novo mestre, do dever gozar, a histeria responde com o sintoma. Nesses casos, o sintoma anoréxico reivindica o direito ao gozo, mostrando desde seu extremo, que sempre há uma falha no gozo. A proposta de um gozo universal e absoluto enfrenta-se inevitavelmente no particular do sujeito |
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