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Andrea Mara MacedoLuciana de Oliveira AndradeBianca Silvana ZingalesJulio ScharfsteinDaniella Castanheira BartholomeuMarcela Segatto do Carmo2019-08-12T11:34:45Z2019-08-12T11:34:45Z2013-05-15http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B2DMRJA doença de Chagas ainda é responsável por altos índices de mortalidade e morbidade na América Latina. O Trypanosoma cruzi, seu agente etiológico é uma espécie muito polimórfica tendo sido recentemente classificada em seis linhagens ou DTUS principais (TcI-VI). Os aspectos epidemiológicos associados aos diferentes DTUs ainda não estão bem definidos, mas já há evidências de associação com a distribuição geográfica, ciclos de transmissão e aspectos clínicos da doença. Todavia, mais de um século após a descoberta da doença de Chagas, muitas questões ainda precisam ser esclarecidas acerca de sua patogênese, diagnóstico e tratamento. Os esforços do nosso grupo de pesquisa têm sido focados no desenvolvimento de metodologias para a caracterização do T. cruzi e sua aplicação no estudo da epidemiologia molecular da doença de Chagas. Há alguns anos o grupo propôs o Modelo Histotrópico Clonal da doença de Chagas como uma tentativa para explicar a dificuldade de se demonstrar estreita correlação entre aspectos genéticos do parasito e características clínicas dos pacientes. Três aspectos constituem a base desse modelo: populações naturais de T. cruzi são multiclonais; clones distintos do parasito possuem tropismo tecidual diferencial; e métodos convencionais de análise implicam no crescimento in vitro das populações isoladas de parasitos, o que tende a favorecer o crescimento de alguns indivíduos. Neste trabalho procuramos desenvolver ou aperfeiçoar procedimentos moleculares que nos permitissem elucidar a complexidade de populações de T. cruzi tanto in vitro quanto aquelas presentes diretamente em tecidos de pacientes portadores da cardiopatia chagásica crônica grave. Para dissecar a complexidade de isolados de T. cruzi, nós adaptamos uma metodologia originalmente descrita para estudos genéticos de espermatozoides individuais, para separar e caracterizar células únicas dos parasitos. Esta abordagem permitiu-nos identificar completamente a complexidade de três isolados naturais de T. cruzi e estimar a contribuição relativa de cada subpopulação. Por exemplo, foi possível pela primeira vez identificar e quantificar a presença de clones similares a Be-62 dentro da Be-78, ambas isoladas da Berenice, primeira paciente de Carlos Chagas, portadora do mal de Chagas. Ademais, essa metodologia permitiu resolver de uma vez por todas as controvérsias sobre a questão de multiclonalidade X aneuplodia para populações de T. cruzi. Outro aspecto investigado foi a forma de reprodução do T. cruzi. Devido à escassez de evidências da sexualidade em T. cruzi, tem sido amplamente aceito que a reprodução do parasita é essencialmente clonal, com recombinação genética pouco frequente. Baseado em marcadores nucleares e mitocondriais e parâmetros de genética populacional, analisamos, em um trabalho colaborativo com dois outros alunos de doutorado dos programas de pós-graduação em Bioinformática e Parasitologia, dois grupos de isolados de T. cruzi: um proveniente diferentes regiões da América Latina e outros obtidos exclusivamente de pacientes do Estado de Minas Gerais. Nossos resultados, ao contrário daqueles majoritariamente encontrados na literatura, não suportam uma estrutura de população essencialmente clonal para T. cruzi, ao menos para TcII coexistindo em uma mesma área geográfica, sugerindo que as trocas genéticas entre cepas estreitamente relacionadas geograficamente são mais frequentes do que inicialmente esperado. Quanto ao variável curso clínico da doença de Chagas, o envolvimento cardíaco é a manifestação mais grave e em geral a mais frequente. O transplante de coração (HTx) é uma das poucas alternativas para fase final da doença de Chagas crônica cardíaca (DCC), ainda assim a reativação da infecção permanece como uma das principais complicações. Nos últimos seis anos, mais de 100 HTx foram realizados no hospital da UFMG e desses, cerca de 50% foram de pacientes que portadores de DCC. Após o HTx, os pacientes são submetidos a biópsias periódicas para monitorar rejeição do transplante e reativação da doença de Chagas e, em média 50% dos pacientes chagásicos transplantados desenvolvem reativação da infecção. Como as amastigotas raramente são encontradas nas análises histopatológicas das biópsias é muito difícil obter o diagnóstico diferencial entre o processo inflamatório resultante da rejeição do enxerto e de reativação da infecção. Para contornar essas limitações foi nosso objetivo desenvolver estratégias baseadas em PCR para a identificação e caracterização do DNA de T. cruzi em corações explantados, biópsias de acompanhamento e outros tecidos obtidos de pacientes transplantados. No total foram até agora analisados 42 pacientes, totalizando 430 amostras. DNA de T. cruzi foi detectado em 120 amostras. Em 57 amostras foi identificada a presença de TcII, um caso de TcVI, um caso parcialmente identificado como TcV ou TcVI, 27 como TcII ou TcVI, uma infecção mista de TcII + TcVI e três casos com TcI. Demonstramos pela primeira vez a presença de T. cruzi no tecido adiposo de pacientes com DCC, sugerindo que este possa funcionar como um dos tecidos reservatórios de parasitos, contribuindo para a reativação da doença. Ainda, além das reações para genotipagem, a caracterização da diversidade genética das populações de T. cruzi presentes nos tecidos dos pacientes foi feita por LSSP-PCR. O polimorfismo nas assinaturas de kDNA foi demonstrado entre os parasitos de diferentes pacientes e até mesmo em diferentes secções cardíacas de um mesmo paciente, denotando a presença de mais de um clone de T. cruzi infectando simultaneamente um mesmo paciente. A técnica de LSSP-PCR tem sido muito utilizada para o estudo da diversidade genética de T. cruzi, mas após um levantamento da literatura observamos que iniciadores diferentes tem sido utilizados nas análises de polimorfismo do kDNA de T. cruzi, embora publicados com nomes semelhantes. Para avaliar o impacto da sequência do iniciador sobre os perfis obtidos por LSSP-PCR nós comparamos a impressão digital do kDNA de três cepas de referência de T. cruzi usando oito iniciadores diferentes. Os resultados mostraram claramente que mesmo pequenas modificações na sequência de oligonucleotídeos podem alterar significativamente a assinatura de kDNA de uma cepa. Finalmente, em um estudo retrospectivo e cego com nove pacientes, seis que já haviam apresentado reativação da infecção e três que até dois anos após o transplante não reativaram, demonstramos que a estratégia de diagnóstico molecular proposta neste trabalho é adequada para diferenciar precocemente casos de reativação da infecção. Resultados positivos foram detectados já nas primeiras biópsias de acompanhamento, antecedendo de 1-18 meses a reativação clínica. Esses resultados indicam que a utilização de PCR para os alvos de minicírculos e rDNA 24S é uma boa estratégia para o diagnóstico precoce da reativação da infecção pelo T. cruzi, com potencial para auxiliar os médicos nas decisões de tratamento antes do início da reativação clínica da doença de ChagasChagas disease is still responsible for high morbidity and mortality rates in Latin America. Trypanosoma cruzi, its etiological agent, is a very polymorphic species and has recently been classified into six major lineages or DTUs (TcI-VI). The epidemiological features associated with different DTUs are not well defined, but there is already evidence of association with their geographical distribution, transmission cycles and clinical aspects of the disease. However, more than a century after the discovery of Chagas disease, many questions still need to be clarified regarding its pathogenesis, diagnosis and treatment. The efforts of our research group have been focused on the development of methodologies for the characterization of T. cruzi and its application in the study of molecular epidemiology of Chagas disease. A few years ago we proposed the Clonal Histotropic Model of Chagas disease in attempt to explain difficulties in demonstrating tight correlation between genetic aspects of the parasite and the clinical outcome of patients. Three aspects constitute the basis of this model: natural populations of T. cruzi are multiclonal; distinct parasite clones have differential tissue tropisms, and conventional methods of analysis imply the in vitro growth of isolated parasite populations, which may favor growth of some individuals. In this work we intended to develop or optimize molecular procedures to elucidate the complexity of T. cruzi populations both in vitro and those directly present in tissues of patients whelming severe chronic Chagas heart disease. To dissect the complexity of T. cruzi isolates, we adapted a method originally described for analyzing single spermatozoids, to sort and to characterize the parasite single cells. This approach allowed us to completely identify the complexity of three natural T. cruzi isolates and to estimate the relative contribution of each subpopulation. For example, it was possible, for the first time, to identify and quantify the presence of clones similar to Be-62 inside the Be-78 strain, both isolated from Berenice, Carlos Chagas first patient carrier of "Chagas malady". Furthermore, this methodology has settled the controversy regarding multiclonality X aneuploidy for T. cruzi populations. Another aspect investigated was the T. cruzi reproduction mode. Due to the lack of evidence of sexuality in T. cruzi, it has been widely accepted that the parasite's reproduction is essentially clonal with infrequent genetic recombination. Based on nuclear and mitochondrial markers and population genetic parameters, we analyzed, in a collaborative work with two other students from the Bioinformatics and Parasitology PhD programs, two groups of T. cruzi isolates: one from different regions of Latin America and other obtained exclusively from patients belonging to the state of Minas Gerais. Our results, unlike those generally found in literature, does not support an essentially clonal population structure for T. cruzi, at least for TcII coexisting in the same geographic area, suggesting that genetic exchange between geographically closely related strains are more frequent than initially expected. Regarding the variable clinical course of Chagas disease, cardiac involvement is in general the most serious and frequent manifestation. Heart transplantation (HTx) is one of the few alternatives for end-stage chronic Chagas heart disease (CHD), yet the reactivation of the infection remains a major complication. In the last six years, more than 100 HTx were carried out in the UFMG hospital and of those, about 50% of patients were suffering from CHD. After HTx, patients undergo periodic biopsies to monitor transplant rejection and reactivation of Chagas disease and on average 50% of the transplanted patients develop reactivation of the infection. As amastigotes are rarely found in histopathological analyses of the biopsies is very difficult to get differential diagnosis between the inflammatory process resulting from allograft rejection and infection reactivation. To overcome these limitations our aim was to develop PCR-based strategies for the identification and characterization of T. cruzi DNA in the explanted hearts, follow-up endomyocardial biopsies and other tissues obtained from the transplanted patients. A total of 42 patients were examined so far, totaling 430 samples. DNA of T. cruzi was detected in 120 samples. In 57 samples we found the presence of TcII, one case of TcVI, one case partially identified as TcV or TcVI, 27 as TcII or TcVI, one mixed infection of TcII + TcVI, and three samples with TcI. We demonstrated for the first time the presence of T. cruzi in the adipose tissue of patients with CHD, suggesting that this tissue may be functioning as reservoir, which contributes to the recrudescence of infection. Besides the genotyping, the characterization of the genetic diversity of T. cruzi populations presented in the patients tissues was made by LSSP-PCR. We found polymorphisms in kDNA signatures among parasites from different patients and even in different cardiac sections of the same patient, indicating the presence of more than one T. cruzi clone simultaneously infecting the same patient. The LSSP-PCR technique has been widely used to study the genetic diversity of T. cruzi, but after a survey in the literature we found that different primers, although published with similar names, have been used for the polymorphism analyses of T. cruzi kDNA. To assess the impact of the primer sequence on the profiles obtained by LSSP-PCR we compared the kDNA fingerprint of three T. cruzi reference strains using eight different primers. The results clearly showed that even small changes in the oligonucleotides sequence could significantly alter the kDNA signature of a strain. Finally, in a retrospective and blinded study with nine patients, six who had already reactivated the infection and three that until two years after HTx have not experienced reactivation, we demonstrated that the molecular diagnosis strategy herein proposed is suitable for the early detection of infection reactivation. Positive results were detected within the first follow-up biopsies, preceding 1-18 months the clinical reactivation. These results indicate that the use of PCR targeting minicircles and rDNA 24S is a good strategy to the early diagnosis of Chagas disease reactivation with potential to assist physicians in treatment decisions before onset of reactivationUniversidade Federal de Minas GeraisUFMGBiologia molecularChagas, Doença dePatologia molecularBioquímica e imunologiaTrypanosoma cruziBioquimica e ImunologiaFerramentas moleculares para a detecção e genotipagem do Trypanosoma cruzi: aplicação em estudos populacionais do parasito e da epidemiologia da doença de Chagas cardíacainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALtese_completa_marcela_segatto_do_carmo.pdfapplication/pdf4280137https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-B2DMRJ/1/tese_completa_marcela_segatto_do_carmo.pdfff4483c73657b36a44b0ae4d767624a8MD51TEXTtese_completa_marcela_segatto_do_carmo.pdf.txttese_completa_marcela_segatto_do_carmo.pdf.txtExtracted texttext/plain631783https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-B2DMRJ/2/tese_completa_marcela_segatto_do_carmo.pdf.txt54ebc2efc9e9e80601bb93801292309cMD521843/BUOS-B2DMRJ2019-11-14 17:42:44.363oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-B2DMRJRepositório InstitucionalPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T20:42:44Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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