Invocação para o fim: o sertão como arquivo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Natália de Sousa Moura
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/35234
Resumo: Questionando as formas de conhecer, mapear e arquivar instituídas pelo pensamento moderno, o presente trabalho busca, a partir do pensamento de Denise Ferreira da Silva e Diana Taylor, articular a desorientação como possibilidade de enfrentamento e escape aos modos modernos de conhecer. A produção e transmissão do conhecimento que definem o mundo tal como o conhecemos, derivadas do arquivo escrito, assim como sua própria inscrição na História, são mediadas por sistemas de orientação cartesianos, lineares, binários e arbitrários, os quais ditam o que fica de fora e o que está dentro, a que ou quem destina-se o passado, presente e futuro. Essa construção de pensamento se dá a partir da instituição e ficcionalização de um modelo a ser seguido que tem sua consolidação na invasão e colonização dos territórios conhecidos hoje como América(s) pelos europeus e na expropriação de corpos pela escravização, com a criação do Outro racial e cultural em oposição à um Eu universal. Entendendo que a descolonização não é uma metáfora (TUCK, YANG, 2012), ou seja, não é um novo modo de nomear justiça, mas sim algo articulado com a destruição da ideia de mundo que nos foi dado a conhecer (FERREIRA DA SILVA, 2019; MOMBAÇA, 2019), vinculo esta escrita a uma prática de estudo e imaginação radicais, no contexto advindo de lugares (e corpos) marcados como fins de mundo, selvagens, atrasados, demoníacos, empoeirados, infernais, isto é, sobreviventes dos fins, e vislumbro a ficcionalização de outros mundos possíveis fora da lógica moderna. Seu terreno ficcional principal é Lisieux, distrito do sertão noroeste do Ceará, nordeste do Brasil, um fim de mundo. Em sua história oficial, a Igreja consta como marco de origem (60 anos) e segue uma ideia de tempo linear e de progresso estabelecidos desde a colonização. O arquivo que narra a história é então congelado em uma sequência arbitrária, seus limites são impostos em linhas imaginárias que seguem lógicas determinadas por quem tem poder, ou seja, Igreja e proprietários de terra. Porém, dada sua posição como e no sertão, há sempre algo que escapa, que borra a visão, que não pode ser totalmente verificado, onde o próprio chão que pisamos fala de uma estrutura de tempo muito mais longa do que a que o nosso corpo compreende. Seu arquivo é vivo, se articula mais como aparição, performance (incorporação) e imaginação do que enquanto verdade, documento e instituição “arquiváveis” e capturáveis. Um arquivo radical, impermanente, desorientador, ameaçador, premonitório e infinito.
id UFMG_d31a9c57c164eceec408d2a0ec8eca30
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/35234
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Frederico Canutohttp://lattes.cnpq.br/6054798443325592Gabriela Leandro PereiraRenata Moreira Marquezhttp://lattes.cnpq.br/3226794937201124Natália de Sousa Moura2021-03-18T11:37:15Z2021-03-18T11:37:15Z2020-12-07http://hdl.handle.net/1843/35234Questionando as formas de conhecer, mapear e arquivar instituídas pelo pensamento moderno, o presente trabalho busca, a partir do pensamento de Denise Ferreira da Silva e Diana Taylor, articular a desorientação como possibilidade de enfrentamento e escape aos modos modernos de conhecer. A produção e transmissão do conhecimento que definem o mundo tal como o conhecemos, derivadas do arquivo escrito, assim como sua própria inscrição na História, são mediadas por sistemas de orientação cartesianos, lineares, binários e arbitrários, os quais ditam o que fica de fora e o que está dentro, a que ou quem destina-se o passado, presente e futuro. Essa construção de pensamento se dá a partir da instituição e ficcionalização de um modelo a ser seguido que tem sua consolidação na invasão e colonização dos territórios conhecidos hoje como América(s) pelos europeus e na expropriação de corpos pela escravização, com a criação do Outro racial e cultural em oposição à um Eu universal. Entendendo que a descolonização não é uma metáfora (TUCK, YANG, 2012), ou seja, não é um novo modo de nomear justiça, mas sim algo articulado com a destruição da ideia de mundo que nos foi dado a conhecer (FERREIRA DA SILVA, 2019; MOMBAÇA, 2019), vinculo esta escrita a uma prática de estudo e imaginação radicais, no contexto advindo de lugares (e corpos) marcados como fins de mundo, selvagens, atrasados, demoníacos, empoeirados, infernais, isto é, sobreviventes dos fins, e vislumbro a ficcionalização de outros mundos possíveis fora da lógica moderna. Seu terreno ficcional principal é Lisieux, distrito do sertão noroeste do Ceará, nordeste do Brasil, um fim de mundo. Em sua história oficial, a Igreja consta como marco de origem (60 anos) e segue uma ideia de tempo linear e de progresso estabelecidos desde a colonização. O arquivo que narra a história é então congelado em uma sequência arbitrária, seus limites são impostos em linhas imaginárias que seguem lógicas determinadas por quem tem poder, ou seja, Igreja e proprietários de terra. Porém, dada sua posição como e no sertão, há sempre algo que escapa, que borra a visão, que não pode ser totalmente verificado, onde o próprio chão que pisamos fala de uma estrutura de tempo muito mais longa do que a que o nosso corpo compreende. Seu arquivo é vivo, se articula mais como aparição, performance (incorporação) e imaginação do que enquanto verdade, documento e instituição “arquiváveis” e capturáveis. Um arquivo radical, impermanente, desorientador, ameaçador, premonitório e infinito.Questioning the ways of knowing, mapping, and archiving instituted by modern thought, this thesis seeks to articulate disorientation as a possibility of coping and escaping modern ways of knowing based on Denise Ferreira da Silva’s and Diana Taylor’s thought. The production and transmission of knowledge that defines the world as we know it derives from the written archive, as well as its inscription in history, and is mediated by Cartesian, linear, binary, and arbitrary guidance systems, which dictate what remains outside and what is allowed inside, for what or who the past, present and future are destined to. This construction of thought occurs from the institution and fictionalization of a model to be followed that has its consolidation in the invasion and colonization of the territories known today as America (s) by the Europeans and in the expropriation of bodies through slavery, with the creation of the racial and cultural Other as opposed to a universal Self. I write from the deep understanding that decolonization is not a metaphor (TUCK, YANG, 2012) or, in other words, it is not a new way of naming justice, but something articulated with the destruction of the idea of the world that we have known (FERREIRA DA SILVA, 2019; MOMBAÇA, 2019). And in doing so, I connect this writing to a practice of radical research and imagination imbued by places (and bodies) marked as “ends of the world” (fins de mundo), wild, backward, demonic, dusty, infernal in the sense that they are survivors of the ends. Suddenly I can glimpse the fictionalization of other possible worlds outside modern logic. The primary fictional terrain of the thesis is Lisieux, a district in Ceará northwestern hinterland, located in Brazil northeast, an “end of the world” (fim de mundo). In its official history, the Church village stands as a landmark of origin (60 years), following an idea of linear time and progress established since colonization. Therefore, the archive that tells the village story stays frozen in an arbitrary sequence, and its limits are imposed by imaginary lines that serve the logic determined by those with power, that is, the Church and landowners. Nonetheless, this place location as and in the hinterland ensures that there is always something that escapes, that blurs the view, that cannot be entirely ascertained. The very floor where we walk on tells of a much longer time structure than that of our body can understand. Its archive is alive, articulating itself more as an apparition, performance (incorporation), and imagination than as “archivable” and capturable truth, document, and institution. It is a radical, impermanent, disorienting, threatening, premonitory, and infinite file.FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas GeraisporUniversidade Federal de Minas GeraisPrograma de Pós-Graduação em Arquitetura e UrbanismoUFMGBrasilARQ - ESCOLA DE ARQUITETURAhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/pt/info:eu-repo/semantics/openAccessSertãoColonizaçãoFim de mundoArquivoApariçãoImaginação radicalColonizationEnd of the worldArchiveApparitionRadical ImaginationInvocação para o fim: o sertão como arquivoInvocation to the end: the "sertão" as archiveinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALInvocação para o fim - o sertão como arquivo.pdfInvocação para o fim - o sertão como arquivo.pdfapplication/pdf129529245https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/35234/1/Invoca%c3%a7%c3%a3o%20para%20o%20fim%20-%20o%20sert%c3%a3o%20como%20arquivo.pdfc85790fab126feb4d05bee76e2c541b5MD51CC-LICENSElicense_rdflicense_rdfapplication/rdf+xml; charset=utf-8811https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/35234/2/license_rdfcfd6801dba008cb6adbd9838b81582abMD52LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-82119https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/35234/3/license.txt34badce4be7e31e3adb4575ae96af679MD531843/352342021-03-18 08:37:15.48oai:repositorio.ufmg.br:1843/35234TElDRU7Dh0EgREUgRElTVFJJQlVJw4fDg08gTsODTy1FWENMVVNJVkEgRE8gUkVQT1NJVMOTUklPIElOU1RJVFVDSU9OQUwgREEgVUZNRwoKQ29tIGEgYXByZXNlbnRhw6fDo28gZGVzdGEgbGljZW7Dp2EsIHZvY8OqIChvIGF1dG9yIChlcykgb3UgbyB0aXR1bGFyIGRvcyBkaXJlaXRvcyBkZSBhdXRvcikgY29uY2VkZSBhbyBSZXBvc2l0w7NyaW8gSW5zdGl0dWNpb25hbCBkYSBVRk1HIChSSS1VRk1HKSBvIGRpcmVpdG8gbsOjbyBleGNsdXNpdm8gZSBpcnJldm9nw6F2ZWwgZGUgcmVwcm9kdXppciBlL291IGRpc3RyaWJ1aXIgYSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIChpbmNsdWluZG8gbyByZXN1bW8pIHBvciB0b2RvIG8gbXVuZG8gbm8gZm9ybWF0byBpbXByZXNzbyBlIGVsZXRyw7RuaWNvIGUgZW0gcXVhbHF1ZXIgbWVpbywgaW5jbHVpbmRvIG9zIGZvcm1hdG9zIMOhdWRpbyBvdSB2w61kZW8uCgpWb2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBjb25oZWNlIGEgcG9sw610aWNhIGRlIGNvcHlyaWdodCBkYSBlZGl0b3JhIGRvIHNldSBkb2N1bWVudG8gZSBxdWUgY29uaGVjZSBlIGFjZWl0YSBhcyBEaXJldHJpemVzIGRvIFJJLVVGTUcuCgpWb2PDqiBjb25jb3JkYSBxdWUgbyBSZXBvc2l0w7NyaW8gSW5zdGl0dWNpb25hbCBkYSBVRk1HIHBvZGUsIHNlbSBhbHRlcmFyIG8gY29udGXDumRvLCB0cmFuc3BvciBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gcGFyYSBxdWFscXVlciBtZWlvIG91IGZvcm1hdG8gcGFyYSBmaW5zIGRlIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiB0YW1iw6ltIGNvbmNvcmRhIHF1ZSBvIFJlcG9zaXTDs3JpbyBJbnN0aXR1Y2lvbmFsIGRhIFVGTUcgcG9kZSBtYW50ZXIgbWFpcyBkZSB1bWEgY8OzcGlhIGRlIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gcGFyYSBmaW5zIGRlIHNlZ3VyYW7Dp2EsIGJhY2stdXAgZSBwcmVzZXJ2YcOnw6NvLgoKVm9jw6ogZGVjbGFyYSBxdWUgYSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIMOpIG9yaWdpbmFsIGUgcXVlIHZvY8OqIHRlbSBvIHBvZGVyIGRlIGNvbmNlZGVyIG9zIGRpcmVpdG9zIGNvbnRpZG9zIG5lc3RhIGxpY2Vuw6dhLiBWb2PDqiB0YW1iw6ltIGRlY2xhcmEgcXVlIG8gZGVww7NzaXRvIGRlIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gbsOjbywgcXVlIHNlamEgZGUgc2V1IGNvbmhlY2ltZW50bywgaW5mcmluZ2UgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgZGUgbmluZ3XDqW0uCgpDYXNvIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBjb250ZW5oYSBtYXRlcmlhbCBxdWUgdm9jw6ogbsOjbyBwb3NzdWkgYSB0aXR1bGFyaWRhZGUgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzLCB2b2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBvYnRldmUgYSBwZXJtaXNzw6NvIGlycmVzdHJpdGEgZG8gZGV0ZW50b3IgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzIHBhcmEgY29uY2VkZXIgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIEluc3RpdHVjaW9uYWwgZGEgVUZNRyBvcyBkaXJlaXRvcyBhcHJlc2VudGFkb3MgbmVzdGEgbGljZW7Dp2EsIGUgcXVlIGVzc2UgbWF0ZXJpYWwgZGUgcHJvcHJpZWRhZGUgZGUgdGVyY2Vpcm9zIGVzdMOhIGNsYXJhbWVudGUgaWRlbnRpZmljYWRvIGUgcmVjb25oZWNpZG8gbm8gdGV4dG8gb3Ugbm8gY29udGXDumRvIGRhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBvcmEgZGVwb3NpdGFkYS4KCkNBU08gQSBQVUJMSUNBw4fDg08gT1JBIERFUE9TSVRBREEgVEVOSEEgU0lETyBSRVNVTFRBRE8gREUgVU0gUEFUUk9Dw41OSU8gT1UgQVBPSU8gREUgVU1BIEFHw4pOQ0lBIERFIEZPTUVOVE8gT1UgT1VUUk8gT1JHQU5JU01PLCBWT0PDiiBERUNMQVJBIFFVRSBSRVNQRUlUT1UgVE9ET1MgRSBRVUFJU1FVRVIgRElSRUlUT1MgREUgUkVWSVPDg08gQ09NTyBUQU1Cw4lNIEFTIERFTUFJUyBPQlJJR0HDh8OVRVMgRVhJR0lEQVMgUE9SIENPTlRSQVRPIE9VIEFDT1JETy4KCk8gUmVwb3NpdMOzcmlvIEluc3RpdHVjaW9uYWwgZGEgVUZNRyBzZSBjb21wcm9tZXRlIGEgaWRlbnRpZmljYXIgY2xhcmFtZW50ZSBvIHNldSBub21lKHMpIG91IG8ocykgbm9tZXMocykgZG8ocykgZGV0ZW50b3IoZXMpIGRvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28sIGUgbsOjbyBmYXLDoSBxdWFscXVlciBhbHRlcmHDp8OjbywgYWzDqW0gZGFxdWVsYXMgY29uY2VkaWRhcyBwb3IgZXN0YSBsaWNlbsOnYS4KCg==Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2021-03-18T11:37:15Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Invocação para o fim: o sertão como arquivo
dc.title.alternative.pt_BR.fl_str_mv Invocation to the end: the "sertão" as archive
title Invocação para o fim: o sertão como arquivo
spellingShingle Invocação para o fim: o sertão como arquivo
Natália de Sousa Moura
Sertão
Colonização
Fim de mundo
Arquivo
Aparição
Imaginação radical
Colonization
End of the world
Archive
Apparition
Radical Imagination
title_short Invocação para o fim: o sertão como arquivo
title_full Invocação para o fim: o sertão como arquivo
title_fullStr Invocação para o fim: o sertão como arquivo
title_full_unstemmed Invocação para o fim: o sertão como arquivo
title_sort Invocação para o fim: o sertão como arquivo
author Natália de Sousa Moura
author_facet Natália de Sousa Moura
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Frederico Canuto
dc.contributor.advisor1Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/6054798443325592
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Gabriela Leandro Pereira
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Renata Moreira Marquez
dc.contributor.authorLattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/3226794937201124
dc.contributor.author.fl_str_mv Natália de Sousa Moura
contributor_str_mv Frederico Canuto
Gabriela Leandro Pereira
Renata Moreira Marquez
dc.subject.por.fl_str_mv Sertão
Colonização
Fim de mundo
Arquivo
Aparição
Imaginação radical
Colonization
End of the world
Archive
Apparition
Radical Imagination
topic Sertão
Colonização
Fim de mundo
Arquivo
Aparição
Imaginação radical
Colonization
End of the world
Archive
Apparition
Radical Imagination
description Questionando as formas de conhecer, mapear e arquivar instituídas pelo pensamento moderno, o presente trabalho busca, a partir do pensamento de Denise Ferreira da Silva e Diana Taylor, articular a desorientação como possibilidade de enfrentamento e escape aos modos modernos de conhecer. A produção e transmissão do conhecimento que definem o mundo tal como o conhecemos, derivadas do arquivo escrito, assim como sua própria inscrição na História, são mediadas por sistemas de orientação cartesianos, lineares, binários e arbitrários, os quais ditam o que fica de fora e o que está dentro, a que ou quem destina-se o passado, presente e futuro. Essa construção de pensamento se dá a partir da instituição e ficcionalização de um modelo a ser seguido que tem sua consolidação na invasão e colonização dos territórios conhecidos hoje como América(s) pelos europeus e na expropriação de corpos pela escravização, com a criação do Outro racial e cultural em oposição à um Eu universal. Entendendo que a descolonização não é uma metáfora (TUCK, YANG, 2012), ou seja, não é um novo modo de nomear justiça, mas sim algo articulado com a destruição da ideia de mundo que nos foi dado a conhecer (FERREIRA DA SILVA, 2019; MOMBAÇA, 2019), vinculo esta escrita a uma prática de estudo e imaginação radicais, no contexto advindo de lugares (e corpos) marcados como fins de mundo, selvagens, atrasados, demoníacos, empoeirados, infernais, isto é, sobreviventes dos fins, e vislumbro a ficcionalização de outros mundos possíveis fora da lógica moderna. Seu terreno ficcional principal é Lisieux, distrito do sertão noroeste do Ceará, nordeste do Brasil, um fim de mundo. Em sua história oficial, a Igreja consta como marco de origem (60 anos) e segue uma ideia de tempo linear e de progresso estabelecidos desde a colonização. O arquivo que narra a história é então congelado em uma sequência arbitrária, seus limites são impostos em linhas imaginárias que seguem lógicas determinadas por quem tem poder, ou seja, Igreja e proprietários de terra. Porém, dada sua posição como e no sertão, há sempre algo que escapa, que borra a visão, que não pode ser totalmente verificado, onde o próprio chão que pisamos fala de uma estrutura de tempo muito mais longa do que a que o nosso corpo compreende. Seu arquivo é vivo, se articula mais como aparição, performance (incorporação) e imaginação do que enquanto verdade, documento e instituição “arquiváveis” e capturáveis. Um arquivo radical, impermanente, desorientador, ameaçador, premonitório e infinito.
publishDate 2020
dc.date.issued.fl_str_mv 2020-12-07
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2021-03-18T11:37:15Z
dc.date.available.fl_str_mv 2021-03-18T11:37:15Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/35234
url http://hdl.handle.net/1843/35234
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/pt/
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/pt/
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.program.fl_str_mv Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
dc.publisher.country.fl_str_mv Brasil
dc.publisher.department.fl_str_mv ARQ - ESCOLA DE ARQUITETURA
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/35234/1/Invoca%c3%a7%c3%a3o%20para%20o%20fim%20-%20o%20sert%c3%a3o%20como%20arquivo.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/35234/2/license_rdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/35234/3/license.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv c85790fab126feb4d05bee76e2c541b5
cfd6801dba008cb6adbd9838b81582ab
34badce4be7e31e3adb4575ae96af679
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803589308545761280