Necropolítica nos trópicos: exceção, colonialidade e raça na invenção da Ibero-América

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Thaísa Maria Rocha Lemos
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B9HJWX
Resumo: Procuro neste trabalho realizar uma leitura do conceito agambeniano de vida nua sob uma perspectiva descolonial, com vistas a acompanhar a construção da tradição de opressão ontológica exercida sobre aqueles que carregam em seu corpo feridas abertas pelo colonialismo e que não podem se suturar em virtude dos exercícios de violência reiterados pela colonialidade. Operando a partir da hipótese de que a possibilidade de que determinados corpos se tornassem depositários preferenciais do que Giorgio Agamben denomina de vida nua e derivada das políticas de inimizade construídas a partir da expansão ultramarítima europeia do século XVI, busco interpelar a estrutura jurídico-político ocidental a fim de mostrar que a maneira pela qual a raça assumiu o caráter de uma forma singular de depredação e submetimento da vida a um poder de morte (necropolítica), se mostrando, portanto, juntamente com a colonialidade, como o fator que permite a estabilização da gestão exceptiva da vida. A constatação desta premissa nos leva, por sua vez, ao reconhecimento de que o desejo de apartheid e as fantasias de extermínio que assistimos hoje aflorar em nossa sociedade, longe de serem fenômenos inauditos e extrínsecos à nossa democracia liberal, não são novos e tem se metamorfoseado ao longo da história. No primeiro capítulo, busco demonstrar como o espaço colonial se afigura como uma positivade histórica no qual houve a estabilização da exceção sob a forma-campo. No segundo capítulo, proponho uma análise acerca da construção do léxico político ocidental inerente ao Estado principalmente no que tange à sua categoria de cidadão , buscando revelar as suas conexões ocultas com a matriz de poder colonial. Por fim, no terceiro capítulo, analiso o modo como práticas segregacionistas e genocidas que se movem contra corpos negros não se constituem enquanto antagonistas às sociedades democráticas, mas se consubstanciam enquanto sua face noturna - a que nos cabe desvelar caso estejemos interessados em propiciar a instauração, em linguagem benjaminiana, de um verdadeiro estado de exceção.
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Operando a partir da hipótese de que a possibilidade de que determinados corpos se tornassem depositários preferenciais do que Giorgio Agamben denomina de vida nua e derivada das políticas de inimizade construídas a partir da expansão ultramarítima europeia do século XVI, busco interpelar a estrutura jurídico-político ocidental a fim de mostrar que a maneira pela qual a raça assumiu o caráter de uma forma singular de depredação e submetimento da vida a um poder de morte (necropolítica), se mostrando, portanto, juntamente com a colonialidade, como o fator que permite a estabilização da gestão exceptiva da vida. A constatação desta premissa nos leva, por sua vez, ao reconhecimento de que o desejo de apartheid e as fantasias de extermínio que assistimos hoje aflorar em nossa sociedade, longe de serem fenômenos inauditos e extrínsecos à nossa democracia liberal, não são novos e tem se metamorfoseado ao longo da história. No primeiro capítulo, busco demonstrar como o espaço colonial se afigura como uma positivade histórica no qual houve a estabilização da exceção sob a forma-campo. No segundo capítulo, proponho uma análise acerca da construção do léxico político ocidental inerente ao Estado principalmente no que tange à sua categoria de cidadão , buscando revelar as suas conexões ocultas com a matriz de poder colonial. Por fim, no terceiro capítulo, analiso o modo como práticas segregacionistas e genocidas que se movem contra corpos negros não se constituem enquanto antagonistas às sociedades democráticas, mas se consubstanciam enquanto sua face noturna - a que nos cabe desvelar caso estejemos interessados em propiciar a instauração, em linguagem benjaminiana, de um verdadeiro estado de exceção.In this work I intend to carry out a reading of the agambenian concept of bare life in a decolonial perspective, in order to accompany the construction of the tradition of ontological oppression exerted on those who carry in their bodies wounds opened by colonialism and which can not be sutured by virtue of the exercises of violence reiterated by coloniality. Operating from the hypothesis that the possibility that certain bodies would become preferential custodians of what Giorgio Agamben calls bare life is derived from the policies of enmity built from the European ultramarine expansion of the sixteenth century, I seek to challenge the Western legal-political structure in order to show the way in which race has assumed the character of a singular form of depredation and submission of life to a power of death (necropolitics), showing itself, together with coloniality, as the factor that allows the stabilization of the exceptional management of life. The confirmation of this premise leads us, in turn, to the recognition that the "desire for apartheid" and the "fantasies of extermination" that we are witnessing today in our society, far from being an unprecedented phenomena, extrinsic to our liberal democracy, are not new and has metamorphosed throughout history. In the first chapter, I try to demonstrate how the colonial space appears as a historical positivity in which there was the stabilization of the exception in the form-camp. In the second chapter, I propose an analysis of the construction of the Western political lexicon inherent to the state - especially in relation to its category of citizen -, seeking to reveal its hidden connections with the matrix of colonial power. Finally, in the third chapter, I analyze the way in which segregationist and genocidal practices that move against black bodies do not constitute themselves as antagonists to democratic societies, but are consubstantiate as their "nocturnal face" - the one that we should unveil if we are interested in propitiating the establishment, in Benjaminian language, of a true state of exception.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGColoniasDireitoNegros SegregaçãoEstado de exceçãoPós-colonialismoVidas NuasColonialidadeNecropolíticaExceçãoNecropolítica nos trópicos: exceção, colonialidade e raça na invenção da Ibero-Américainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o___thaisa_lemos___versao_final.pdfapplication/pdf1160484https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-B9HJWX/1/disserta__o___thaisa_lemos___versao_final.pdf2e1fe4ba2ddd7b8c17259a64747c749fMD51TEXTdisserta__o___thaisa_lemos___versao_final.pdf.txtdisserta__o___thaisa_lemos___versao_final.pdf.txtExtracted texttext/plain395253https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-B9HJWX/2/disserta__o___thaisa_lemos___versao_final.pdf.txtd60ea04ac42e078f58f57c377bedf4bfMD521843/BUOS-B9HJWX2019-11-14 07:02:22.084oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-B9HJWXRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T10:02:22Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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