Reconhecimento e redistribuição na luta urbana por moradia: o caso da ocupação organizada Eliana Silva

• Autor(a) principal: Laura Renno Tenenwurcel
• Data de Publicação: 2017
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-AS9FJG
• topic: Moradia; Redistribuição; Desigualdade; Luta social; Reconhecimento; Ciência política; Conflito social; Direito à moradia; Movimento de Ocupação Eliana Silva

As lutas por moradia são manifestações concretas da desigualdade que acomete o Brasil. Temática sempre presente nas discussões dos urbanistas, essas lutas têm sido interpretadas quase sempre pela perspectiva marxista, focada na questão da desigualdade de renda. Entretanto, a complexidade da sociedade sugere que as injustiças têm raízes variadas e que limitar qualquer luta a seu aspecto distributivo parece insuficiente. Por isso, compreender a luta por moradia requer abordá-la, integrando aspectos de redistribuição e de reconhecimento. Tendo em vista a vigente limitação e o enorme potencial de investigação das lutas por moradia, esta dissertação se propôs a avançar na discussão, a partir de quatro etapas: (1) sistematização das principais abordagens já realizadas em torno no problema; (2) aproximação das principais vertentes teóricas que exploram o conceito de reconhecimento na interpretação da justiça social; (3) levantamento do contexto histórico que conforma o cenário de injustiças de acesso à moradia no Brasil; e (4) conexão teoria-empiria que pudesse mostrar as novas possibilidades de interpretação da luta por moradia, proporcionadas pela aproximação prática com elementos-chave das teorias do reconhecimento. A conexão teoria-empiria foi alcançada a partir da análise qualitativa do conteúdo discursivo de entrevistas realizadas com moradores da ocupação urbana organizada Eliana Silva, que trouxe avanços em dois aspectos: (1) ao colocar em diálogo as teorias de reconhecimento de Axel Honneth e de Nancy Fraser, contribuiu para o fortalecimento do conceito ainda em disputa na ciência política. (2) ao aproximar tais teorias à prática social da Eliana Silva iluminou alguns elementos novos na interpretação da luta por moradia, sendo eles: (a) a identificação de desrespeitos como fonte de indignação e motivadores da ação, descartando a limitação da luta à mera persecução de interesses; (b) a compreensão da intersubjetividade como elemento chave para a formação de identidades e evolução moral dos sujeitos; (c) a importância da incorporação do reconhecimento na análise da desigualdade de acesso à moradia, que amplia a leitura da casa como liberdade, cidadania e estima, que aparecem imbricadas ao seu conteúdo material; (d) a reinterpretação das ambivalências da luta por moradia à luz das teorias do reconhecimento; (e) o potencial emancipatório da luta por moradia nas autorrelações práticas dos sujeitos e; (f) simultaneamente, a incapacidade destas ações práticas de transformação da estrutura de valoração social, que assegura a permanência de algumas injustiças.