Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Luisa Andrade Gomes Godoy
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/AIRR-7DGP92
Resumo: Esta dissertação toma como objeto de estudo os verbos recíprocos no português brasileiro (PB). Esses verbos se comportam de duas maneiras na sintaxe: numa forma simples, como em João e Maria conversam (na qual os participantes da reciprocidade são denotados por um argumento) e numa forma descontínua, como em João conversa com Maria (na qual os participantes da reciprocidade são denotados separadamente por dois argumentos, um deles preposicionado). A primeira parte do trabalho é uma descrição desses verbos, ainda inexplorados como classe verbal no PB. Por meio de um teste que criamos, identificamos cerca de 200 verbos recíprocos no PB, dentre os quais elegemos 126 para análise. Mostramos que esses verbos apresentam diferentes transitividades e grades temáticas. Realizamos, então, uma reflexão sobre a noção de classe verbal, assumindo, juntamente com Cançado (2005a) e outros, a hipótese de que há propriedades semânticas, presentes na informação lexical dos itens, que determinam seu comportamento sintático. No caso dos verbos recíprocos, a propriedade semântica que compartilham é a reciprocidade, que determina a alternância entre as formas simples e descontínua, independentemente da transitividade e da grade temática do verbo. Mostramos, portanto, que a reciprocidade é uma propriedade gramaticalmente relevante, e apresentamos, ainda, uma discussão sobre a natureza dessa propriedade, que parece pertencer ao componente lógico do significado do verbo. A segunda parte do trabalho é uma análise semântico-lexical da alternância simples-descontínua. Usando a proposta de Cançado (2005a) para os papéis temáticos, buscamos responder a uma questão recorrente na literatura: as formas simples e descontínua são sinônimas? Mostramos que essas formas não podem ser usadas na descrição de um mesmo evento, não sendo, pois, sinônimas. A sentença simples descreve um evento recíproco simétrico e a descontínua, um evento recíproco assimétrico. Diferenciamos, então, os conceitos de reciprocidade e simetria. Discutimos também sobre a natureza da alternância simples descontínua, que parece diferente de alternâncias estritamente sintáticas, como a ativo-passiva. A alternância dos verbos recíprocos envolve, além da variação de estruturas sintáticas, uma variação no número de argumentos na estrutura argumental. Buscando não assumir que um verbo recíproco tem duas estruturas argumentais, cada qual relacionada a uma das formas alternantes, então, propomos uma estrutura argumental única para cada verbo. Pretendemos, dessa forma, corroborar a hipótese de que um fenômeno gramatical, como o da ocorrência dos verbos recíprocos nas duas formas sintáticas, pode ser explicado de um ponto de vista semântico. Porque tratamos de aspectos semântico-lexicais relacionados a um fenômeno sintático, enfim, podemos dizer que esta pesquisa tem uma perspectiva de interface.
id UFMG_e978332a14acaffe8c9fdc65907817d8
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/AIRR-7DGP92
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Marcia Maria Cancado LimaHeliana Ribeiro de MelloAna Paula ScherLuisa Andrade Gomes Godoy2019-08-13T11:43:21Z2019-08-13T11:43:21Z2008-02-15http://hdl.handle.net/1843/AIRR-7DGP92Esta dissertação toma como objeto de estudo os verbos recíprocos no português brasileiro (PB). Esses verbos se comportam de duas maneiras na sintaxe: numa forma simples, como em João e Maria conversam (na qual os participantes da reciprocidade são denotados por um argumento) e numa forma descontínua, como em João conversa com Maria (na qual os participantes da reciprocidade são denotados separadamente por dois argumentos, um deles preposicionado). A primeira parte do trabalho é uma descrição desses verbos, ainda inexplorados como classe verbal no PB. Por meio de um teste que criamos, identificamos cerca de 200 verbos recíprocos no PB, dentre os quais elegemos 126 para análise. Mostramos que esses verbos apresentam diferentes transitividades e grades temáticas. Realizamos, então, uma reflexão sobre a noção de classe verbal, assumindo, juntamente com Cançado (2005a) e outros, a hipótese de que há propriedades semânticas, presentes na informação lexical dos itens, que determinam seu comportamento sintático. No caso dos verbos recíprocos, a propriedade semântica que compartilham é a reciprocidade, que determina a alternância entre as formas simples e descontínua, independentemente da transitividade e da grade temática do verbo. Mostramos, portanto, que a reciprocidade é uma propriedade gramaticalmente relevante, e apresentamos, ainda, uma discussão sobre a natureza dessa propriedade, que parece pertencer ao componente lógico do significado do verbo. A segunda parte do trabalho é uma análise semântico-lexical da alternância simples-descontínua. Usando a proposta de Cançado (2005a) para os papéis temáticos, buscamos responder a uma questão recorrente na literatura: as formas simples e descontínua são sinônimas? Mostramos que essas formas não podem ser usadas na descrição de um mesmo evento, não sendo, pois, sinônimas. A sentença simples descreve um evento recíproco simétrico e a descontínua, um evento recíproco assimétrico. Diferenciamos, então, os conceitos de reciprocidade e simetria. Discutimos também sobre a natureza da alternância simples descontínua, que parece diferente de alternâncias estritamente sintáticas, como a ativo-passiva. A alternância dos verbos recíprocos envolve, além da variação de estruturas sintáticas, uma variação no número de argumentos na estrutura argumental. Buscando não assumir que um verbo recíproco tem duas estruturas argumentais, cada qual relacionada a uma das formas alternantes, então, propomos uma estrutura argumental única para cada verbo. Pretendemos, dessa forma, corroborar a hipótese de que um fenômeno gramatical, como o da ocorrência dos verbos recíprocos nas duas formas sintáticas, pode ser explicado de um ponto de vista semântico. Porque tratamos de aspectos semântico-lexicais relacionados a um fenômeno sintático, enfim, podemos dizer que esta pesquisa tem uma perspectiva de interface.This dissertation aims to study the reciprocal verbs in Brazilian Portuguese (BP). These verbs behave syntactically in two ways: one way is the reciprocal verbs simple form, in sentences like João e Maria conversaram (in which the participants of the reciprocity relation are denoted by a single argument) and the other way is the reciprocal verbs discontinuous form, in sentences like João concorda com Maria (in which the participants of the reciprocity relation are denoted by two separate arguments). The first half of this text contains a description of the reciprocal verbs as a verbal class in BP. Using a test developed to identify reciprocal verbs, we listed over 200 verbs in BP, from which we picked the 126 most common ones for our data. We demonstrate how these verbs have different transitivity patterns and different thematic grills. Then, we ponder on the notion of verbal class, assuming the hypothesis that there are semantic properties in the items lexical information that determine their syntactic behavior. The semantic property shared by the reciprocal verbs is reciprocity, no matter what thematic grill they have. Reciprocity determines these verbs syntactic behavior: the alternation between a simple and a discontinuous form, no matter what transitivity pattern they have. Therefore, we show that reciprocity is a grammatically relevant semantic property. We also discuss the nature of this property, that seems to belong to the verbs logic meaning. The second half of this text contains a lexical-semantic analysis of the simple-discontinuous alternation. Adopting Cançados (2005a) proposal for thematic roles, we answer a current question in linguistic literature: are simple and discontinuous sentences synonymous? We demonstrate how these forms cannot be used to describe the same event, therefore, they are not synonymous. A simple form describes a symmetric reciprocal eventand a discontinuous form describes an asymmetric reciprocal event. So, we distinguish the two notions: reciprocity and symmetry. We then go onto the nature of the simple-discontinuous alternation, for it differs from merely syntactic alternations like the active-passive one. The simple-discontinuous alternation involves not only a variation in syntactic structure, but also a variation in the number of arguments in the argument structure. Pursuing the idea that a reciprocal verb does not have two argument structures (each related to a syntactic form), we propose a single argument structure for each verb. Finally, what we seek is to corroborate the hypothesis that a grammatical phenomenon, like the syntactic alternation presented by reciprocal verbs, can be explained from a semantic point of view. Because we deal with lexical-semantic aspects related to a syntactic phenomenon, its possible to say that this research has an interface perspective.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGLíngua portuguesa SemânticaLíngua portuguesa SintaxeLíngua portuguesa BrasilLíngua portuguesa VerbosSintaxePortuguês brasileiroVerbos recíprocosOs verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexicalinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALluisa_godoy_diss.pdfapplication/pdf375479https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/AIRR-7DGP92/1/luisa_godoy_diss.pdf09896bd7708b4252bcc90187822be1b8MD51TEXTluisa_godoy_diss.pdf.txtluisa_godoy_diss.pdf.txtExtracted texttext/plain179670https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/AIRR-7DGP92/2/luisa_godoy_diss.pdf.txt33203029088822ec4f97517e5f4bf3efMD521843/AIRR-7DGP922019-11-14 22:50:04.312oai:repositorio.ufmg.br:1843/AIRR-7DGP92Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-15T01:50:04Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical
title Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical
spellingShingle Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical
Luisa Andrade Gomes Godoy
Sintaxe
Português brasileiro
Verbos recíprocos
Língua portuguesa Semântica
Língua portuguesa Sintaxe
Língua portuguesa Brasil
Língua portuguesa Verbos
title_short Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical
title_full Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical
title_fullStr Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical
title_full_unstemmed Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical
title_sort Os verbos recíprocos no PB: Interface sintaxe-semântica lexical
author Luisa Andrade Gomes Godoy
author_facet Luisa Andrade Gomes Godoy
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Marcia Maria Cancado Lima
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Heliana Ribeiro de Mello
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Ana Paula Scher
dc.contributor.author.fl_str_mv Luisa Andrade Gomes Godoy
contributor_str_mv Marcia Maria Cancado Lima
Heliana Ribeiro de Mello
Ana Paula Scher
dc.subject.por.fl_str_mv Sintaxe
Português brasileiro
Verbos recíprocos
topic Sintaxe
Português brasileiro
Verbos recíprocos
Língua portuguesa Semântica
Língua portuguesa Sintaxe
Língua portuguesa Brasil
Língua portuguesa Verbos
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Língua portuguesa Semântica
Língua portuguesa Sintaxe
Língua portuguesa Brasil
Língua portuguesa Verbos
description Esta dissertação toma como objeto de estudo os verbos recíprocos no português brasileiro (PB). Esses verbos se comportam de duas maneiras na sintaxe: numa forma simples, como em João e Maria conversam (na qual os participantes da reciprocidade são denotados por um argumento) e numa forma descontínua, como em João conversa com Maria (na qual os participantes da reciprocidade são denotados separadamente por dois argumentos, um deles preposicionado). A primeira parte do trabalho é uma descrição desses verbos, ainda inexplorados como classe verbal no PB. Por meio de um teste que criamos, identificamos cerca de 200 verbos recíprocos no PB, dentre os quais elegemos 126 para análise. Mostramos que esses verbos apresentam diferentes transitividades e grades temáticas. Realizamos, então, uma reflexão sobre a noção de classe verbal, assumindo, juntamente com Cançado (2005a) e outros, a hipótese de que há propriedades semânticas, presentes na informação lexical dos itens, que determinam seu comportamento sintático. No caso dos verbos recíprocos, a propriedade semântica que compartilham é a reciprocidade, que determina a alternância entre as formas simples e descontínua, independentemente da transitividade e da grade temática do verbo. Mostramos, portanto, que a reciprocidade é uma propriedade gramaticalmente relevante, e apresentamos, ainda, uma discussão sobre a natureza dessa propriedade, que parece pertencer ao componente lógico do significado do verbo. A segunda parte do trabalho é uma análise semântico-lexical da alternância simples-descontínua. Usando a proposta de Cançado (2005a) para os papéis temáticos, buscamos responder a uma questão recorrente na literatura: as formas simples e descontínua são sinônimas? Mostramos que essas formas não podem ser usadas na descrição de um mesmo evento, não sendo, pois, sinônimas. A sentença simples descreve um evento recíproco simétrico e a descontínua, um evento recíproco assimétrico. Diferenciamos, então, os conceitos de reciprocidade e simetria. Discutimos também sobre a natureza da alternância simples descontínua, que parece diferente de alternâncias estritamente sintáticas, como a ativo-passiva. A alternância dos verbos recíprocos envolve, além da variação de estruturas sintáticas, uma variação no número de argumentos na estrutura argumental. Buscando não assumir que um verbo recíproco tem duas estruturas argumentais, cada qual relacionada a uma das formas alternantes, então, propomos uma estrutura argumental única para cada verbo. Pretendemos, dessa forma, corroborar a hipótese de que um fenômeno gramatical, como o da ocorrência dos verbos recíprocos nas duas formas sintáticas, pode ser explicado de um ponto de vista semântico. Porque tratamos de aspectos semântico-lexicais relacionados a um fenômeno sintático, enfim, podemos dizer que esta pesquisa tem uma perspectiva de interface.
publishDate 2008
dc.date.issued.fl_str_mv 2008-02-15
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-13T11:43:21Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-13T11:43:21Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/AIRR-7DGP92
url http://hdl.handle.net/1843/AIRR-7DGP92
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/AIRR-7DGP92/1/luisa_godoy_diss.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/AIRR-7DGP92/2/luisa_godoy_diss.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 09896bd7708b4252bcc90187822be1b8
33203029088822ec4f97517e5f4bf3ef
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803589464939823104