Da recusa da realidade ao desmentido da lei : a fetichização da verdade em tempos de pós-verdade
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Data de Publicação: | 2020 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFMG |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/1843/38644 http://orcid.org/0000-0001-9394-6505 |
Resumo: | Embora tenha sido nomeada no início dos anos 1990, a pós-verdade só adquiriu popularidade duas décadas depois, quando se tornou assunto recorrente nos veículos de informação devido a sua intromissão nas políticas norte-americana e inglesa. Ela, que passou a designar circunstâncias em que a verdade se torna menos influente na formação da opinião pública do que apelos a emoções e crenças pessoais, foi eleita, em 2016, a “palavra do ano” pelos Oxford Dictionaries. Se já não era inofensiva quando foi descrita pela primeira vez, hoje a pós-verdade é ainda menos salutar, pois, o que uma vez serviu ao sujeito de refúgio, parece agora lhe servir como subterfúgio para suas transgressões. É dessa forma que se pode caracterizar o modus operandi desse fenômeno, que, por envolver aspectos subjetivos, demanda um exame minucioso não apenas da filosofia e das ciências humanas, mas também da psicanálise, que pode comparecer com uma perspectiva clínica sobre seu funcionamento, contribuindo para o esclarecimento da economia de gozo que lhe é inerente. Esta dissertação traduz um esforço nesse sentido. Seu objetivo é desenvolver uma análise metapsicológica da pós-verdade, buscando identificar que verdade é essa a que o sujeito renuncia e o que o leva a renunciá-la, interpretando, nesse seguimento, o discurso que promove tal renúncia. Em vista dessas questões, este estudo se organiza em três capítulos: no primeiro deles, realiza-se um sobrevoo pela noção de verdade conforme o discurso hegemônico e a teoria psicanalítica, com vistas a apurar se, dentro da psicanálise, pós-verdade é um conceito razoável. No segundo, busca-se rastrear os mecanismos que operam na pós-verdade, descrevendo sua função na economia psíquica dos sujeitos que recorrem a esse expediente. Finalmente, o terceiro capítulo apresenta uma leitura sobre a introjeção da pós-verdade na cultura contemporânea, atentando para as transformações que o mundo vem experimentando desde a segunda metade do século XX. A teoria lacaniana dos quatro discursos é empregada nesta pesquisa não apenas para fundamentá-la, mas também como recurso metodológico, dada sua pertinência para a investigação de diferentes realidades. O mecanismo freudiano da denegação fetichista é também evocado para tratar das formas que a pós-verdade assumiu desde que foi trazida a público. |
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Se já não era inofensiva quando foi descrita pela primeira vez, hoje a pós-verdade é ainda menos salutar, pois, o que uma vez serviu ao sujeito de refúgio, parece agora lhe servir como subterfúgio para suas transgressões. É dessa forma que se pode caracterizar o modus operandi desse fenômeno, que, por envolver aspectos subjetivos, demanda um exame minucioso não apenas da filosofia e das ciências humanas, mas também da psicanálise, que pode comparecer com uma perspectiva clínica sobre seu funcionamento, contribuindo para o esclarecimento da economia de gozo que lhe é inerente. Esta dissertação traduz um esforço nesse sentido. Seu objetivo é desenvolver uma análise metapsicológica da pós-verdade, buscando identificar que verdade é essa a que o sujeito renuncia e o que o leva a renunciá-la, interpretando, nesse seguimento, o discurso que promove tal renúncia. Em vista dessas questões, este estudo se organiza em três capítulos: no primeiro deles, realiza-se um sobrevoo pela noção de verdade conforme o discurso hegemônico e a teoria psicanalítica, com vistas a apurar se, dentro da psicanálise, pós-verdade é um conceito razoável. No segundo, busca-se rastrear os mecanismos que operam na pós-verdade, descrevendo sua função na economia psíquica dos sujeitos que recorrem a esse expediente. Finalmente, o terceiro capítulo apresenta uma leitura sobre a introjeção da pós-verdade na cultura contemporânea, atentando para as transformações que o mundo vem experimentando desde a segunda metade do século XX. A teoria lacaniana dos quatro discursos é empregada nesta pesquisa não apenas para fundamentá-la, mas também como recurso metodológico, dada sua pertinência para a investigação de diferentes realidades. O mecanismo freudiano da denegação fetichista é também evocado para tratar das formas que a pós-verdade assumiu desde que foi trazida a público.La post-vérité a été nommée au début des années 1990, mais elle n’a gagné en popularité que deux décennies plus tard, lorsqu’elle est devenue un sujet récurrent dans les médias en raison de son ingérence dans les politiques américaine et britannique. Elle, qui en est venue à désigner les circonstances dans lesquelles la vérité devient moins influente pour modeler l’opinion publique que les appels à l’émotion et aux croyances personnelles, a été élue, en 2016, le “mot de l’année” par les Oxford Dictionaries. Si la post-vérité n’était plus inoffensive lorsqu’elle a été décrite pour la première fois, aujourd’hui elle est encore moins salutaire, puisque, ce qui autrefois servait au sujet de refuge, semble maintenant lui servir de subterfuge à ses transgressions. C’est ainsi que l’on peut caractériser le modus operandi de ce phénomène, qui, par impliquer des aspects subjectifs, exige un examen approfondi non seulement de la philosophie et des sciences humaines, mais aussi de la psychanalyse, qui peut apparaître avec une perspective clinique sur son fonctionnement, contribuant à clarifier l’économie de la jouissance qui lui est inhérente. Cette dissertation représente un effort dans ce sens. Son objectif est de développer une analyse métapsychologique de la post-vérité, cherchant à identifier à quelle vérité le sujet renonce et ce qui le conduit à y renoncer, en interprétant, consécutivement, le discours qui promeut un tel renoncement. Face à ces problèmes, cette étude s’organise en trois chapitres: dans le premier, un survol est réalisée par la notion de vérité selon le discours hégémonique et la théorie psychanalytique, afin de vérifier si, dans la psychanalyse, la post-vérité est un concept raisonnable. Dans le deuxième, on cherche à retracer les mécanismes qui opèrent dans la post-vérité, décrivant sa fonction dans l’économie psychique des sujets qui recourent à cet expédient. Enfin, le troisième chapitre présente une lecture sur l’introjection de la post-vérité dans la culture contemporaine, en prêtant attention aux transformations que le monde connaît depuis la seconde moitié du XXe siècle. La théorie lacanienne des quatre discours est utilisée dans cette recherche non seulement pour la soutenir, mais aussi comme ressource méthodologique, compte tenu de sa pertinence pour l’investigation de différentes réalités. Le mécanisme freudien du déni fétichiste est également évoqué pour aborder les formes que la post-vérité a prises depuis qu’elle a été rendue publique.CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoporUniversidade Federal de Minas GeraisPrograma de Pós-Graduação em PsicologiaUFMGBrasilFAF - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIAhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/pt/info:eu-repo/semantics/openAccessPós-verdadeVerdadeSaberDenegaçãoFetichismoPsicanáliseDa recusa da realidade ao desmentido da lei : a fetichização da verdade em tempos de pós-verdadeDu refus de la réalité au démenti de la loi : la fétichisation de la vérité en temps de post-véritéinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALVasconselos, A. (2020). Da recusa da realidade ao desmentido da lei..pdfVasconselos, A. (2020). 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