A sabedoria humana de Pierre Charron: articulações entre ceticismo e estoicismo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Estefano Luis de Sa Winter
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9UFPCK
Resumo: Pierre Charron (1541-1603) defende na sua obra mais influente, De la Sagesse, um ideal de sabedoria puramente humano vinculado à vida prática e que ensina ao homem a ser moderado, a dominar a força das paixões e a emendar a fraqueza de sua natureza. A sabedoria proposta na obra tem como principal meta ensinar o conhecimento de si, mais valoroso remédio que o homem pode conseguir por meio de seus próprios esforços e principal meio para manter a integridade de seu juízo e a sua liberdade de tudo julgar. Ora, como a sabedoria ensina a se conhecer ela é a excelência do homem como homem, verdadeira ciência e finalidade [bout] que deve ser perseguida por aqueles que possuem o espírito forte. Para sustentar sua tese, Charron se valeu de diversas fontes céticas e estoicas de seu tempo e, sobretudo, por meio de articulações e transformações dessas fontes ele irá construir o conceito de sabedoria humana e estabelecer as suas regras práticas. Contudo, devido ao caráter eclético do seu texto e a pluralidade de fontes utilizadas, existe grande divergência de leituras entres os intérpretes sobre a melhor forma de compreender a Sagesse: se ela está mais próxima do estoicismo, do ceticismo ou até mesmo se seria apenas um plágio da obra de Michel de Montaigne. Com vistas a responder essa divergência, examinamos os objetivos de Charron ao escrever a sua obra e o modo pelo qual ele relaciona dois modelos do ceticismo (pirronismo e ceticismo acadêmico) com o estoicismo - recebido principalmente do neoestoico Guillaume Du Vair - e como ocorre uma fusão dessas escolas filosóficas em um dos conceitos mais relevantes da obra: probidade (preudhomie). Para termos êxito nesta atividade hermenêutica, no primeiro capítulo da dissertação apresentamos a obra charroniana de uma forma global, sua importância no período e em que medida a sabedoria humana pode ser entendida como um exercício do espírito forte que ensina a maestria de si (maîtrise de soi). Em seguida, o segundo capítulo examina como o ceticismo na Sagesse tem dois papéis, o primeiro pirrônico (vinculado ao projeto de autoconhecimento) e o segundo acadêmico (vinculado à construção das regras formais da sabedoria, especialmente a partir do conceito de verossímil). Finalmente, no último capítulo buscamos identificar as influências estoicas no pensamento charroniano e o modo pelo qual o conceito de probidade (preudhomie), inspirado no estoicismo de Du Vair, integra-se com elementos do ceticismo acadêmico, cumprindo o papel de ponte que mantém a coerência e a conexão entre o ceticismo e estoicismo na obra. Dessa forma, chegamos à conclusão de que o momento pirrônico na Sagesse prepara o terreno, o momento acadêmico estabelece os contornos e a forma e o momento estoico estabelece o conteúdo; todos os três conjugados em um único ponto, na probidade (preudhomie), principal fundamento da sabedoria charroniana.
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Para sustentar sua tese, Charron se valeu de diversas fontes céticas e estoicas de seu tempo e, sobretudo, por meio de articulações e transformações dessas fontes ele irá construir o conceito de sabedoria humana e estabelecer as suas regras práticas. Contudo, devido ao caráter eclético do seu texto e a pluralidade de fontes utilizadas, existe grande divergência de leituras entres os intérpretes sobre a melhor forma de compreender a Sagesse: se ela está mais próxima do estoicismo, do ceticismo ou até mesmo se seria apenas um plágio da obra de Michel de Montaigne. Com vistas a responder essa divergência, examinamos os objetivos de Charron ao escrever a sua obra e o modo pelo qual ele relaciona dois modelos do ceticismo (pirronismo e ceticismo acadêmico) com o estoicismo - recebido principalmente do neoestoico Guillaume Du Vair - e como ocorre uma fusão dessas escolas filosóficas em um dos conceitos mais relevantes da obra: probidade (preudhomie). Para termos êxito nesta atividade hermenêutica, no primeiro capítulo da dissertação apresentamos a obra charroniana de uma forma global, sua importância no período e em que medida a sabedoria humana pode ser entendida como um exercício do espírito forte que ensina a maestria de si (maîtrise de soi). Em seguida, o segundo capítulo examina como o ceticismo na Sagesse tem dois papéis, o primeiro pirrônico (vinculado ao projeto de autoconhecimento) e o segundo acadêmico (vinculado à construção das regras formais da sabedoria, especialmente a partir do conceito de verossímil). Finalmente, no último capítulo buscamos identificar as influências estoicas no pensamento charroniano e o modo pelo qual o conceito de probidade (preudhomie), inspirado no estoicismo de Du Vair, integra-se com elementos do ceticismo acadêmico, cumprindo o papel de ponte que mantém a coerência e a conexão entre o ceticismo e estoicismo na obra. Dessa forma, chegamos à conclusão de que o momento pirrônico na Sagesse prepara o terreno, o momento acadêmico estabelece os contornos e a forma e o momento estoico estabelece o conteúdo; todos os três conjugados em um único ponto, na probidade (preudhomie), principal fundamento da sabedoria charroniana.Pierre Charron (1541-1603) argues in his most influential work, De la Sagesse, an ideal of wisdom purely natural. This ideal is mainly practical and teaches man to be moderate, to master the force of passions and to amend the weakness of his nature. The wisdom proposed in the work has as its main goal to teach self-knowledge, which is the most valuable remedy for human predicaments that man can achieve through their own efforts. It is also the main mean to maintain intellectual integrity and the freedom to judge everything. As wisdom teaches self-knowing, it is the excellence and true science of man, which should be pursued by those who have a strong spirit. To support his thesis, Charron drew upon several sources, Stoic and Skeptical, of his time, by connecting and transforming these sources, he develops a concept of human wisdom and establishes its practical rules. However, due to the eclectic character of his text and the variety of sources used, there is wide controversy among interpreters concerning the best way to understand the Sagesse. Is it closer to stoicism? To skepticism? Or is it just a plagiarism of the work of Michel de Montaigne? In order to answer these questions, we examined the objectives of Charron when writing his work and the way he relates two types of skepticism (Pyrrhonism and Academic skepticism) with Stoicism, which he received mainly through the Neo-Stoic Guillaume Du Vair. Charrons reception of these three Hellenistic philosophical schools is central in one of the most relevant concepts of the work: probity (preudhomie). In the first chapter of this thesis we present Charrons work in a general way, showing its importance in the period and to what extent his concept of human wisdom should be understood as an exercise of the strong spirit that teaches self mastery (maîtrise de soi). The second chapter examines how the reception of skepticism in Sagesse has two goals, the first, Pyrrhonean, is linked to the project of self-knowledge; the second, Academic, is linked to the construction of the formal rules of wisdom, especially the concept of probability). Finally, in the last chapter we seek to identify the Stoic influences in Charrons thought and the way in which the concept of probity (preud'homie), inspired by the Neo-stoicism of Du Vair, integrates with elements of Academic skepticism, working as a bridge that connects and makes coherent the Skepticism and the Stoicism present in the work. We conclude that the Pyrrhonean moment in the Sagesse prepares the ground, the Academic moment establishes the contours and that the Stoic moment shapes and establishes the content of the work. The three moments are combined into a single concept, that of probity (preud'homie), which is the main foundation of Charrons wisdom.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGCharron, Pierre, 1541-1603FilosofiaEstoicismoCeticismoEstoicismoCeticismoPierre CharronPreudhomieSagesseA sabedoria humana de Pierre Charron: articulações entre ceticismo e estoicismoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_final___estefano_winter.pdfapplication/pdf1214972https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9UFPCK/1/disserta__o_final___estefano_winter.pdf5bc9c53a418611f8fffe2b0d36074089MD51TEXTdisserta__o_final___estefano_winter.pdf.txtdisserta__o_final___estefano_winter.pdf.txtExtracted texttext/plain555471https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9UFPCK/2/disserta__o_final___estefano_winter.pdf.txt14baa56d12eff032ceecb417bc9ba4d0MD521843/BUOS-9UFPCK2019-11-14 11:10:31.305oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-9UFPCKRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T14:10:31Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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