Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFMG |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/1843/LETR-APUKJP |
Resumo: | A experiência da indeterminação é parte fundamental da representação de personagens humanos e, consequentemente, da trajetória dos pretendentes ao longo da Odisseia. Isso é demonstrado numa leitura que parte de algumas considerações sobre a prática da adivinhação, sobre o pensamento religioso grego, sobre os Estudos Homéricos (incluindo a chamada Questão Homérica e a percepção do estilo oral tradicional dos poemas), sobre poesia e sobre narrativa. Os pretendentes são caracterizados como os insensatos que desprezam os limites, que avaliam mal sua situação e leem mal os avisos que recebem. A possibilidade da má leitura ajuda a sempre manter algo de indeterminado no futuro segundo a perspectiva humana, enquanto a capacidade de bem interpretar e bem reagir aos sinais é uma das qualidades que distinguem os heróis de seus antagonistas. Ao longo do poema, os pretendentes são individualizados como agentes morais e passam a ser representados de forma mais refinada do que apenas como puro mal coletivo. Com isso, a punição comum a todos (conforme a vontade dos deuses) passa a ser uma questão relevante para a qual o poema dará uma resposta extrema. Quando Atena se passa por um humano, acaba revelando marcas características da comunicação humana e divina. A estratégia básica da deusa é transmitir suas informações de forma apenas parcial, simulando a limitação do conhecimento humano e ignorando sua capacidade de produzir efeito sobre aquilo que deseja (recurso utilizado também para testar os mortais). As cenas de interpretações de voos de pássaros executadas por Haliterses, Helena, Teoclímeno e Anfínomo (lidas com especial atenção neste trabalho), mostram de formas diversas como os humanos podem receber as indicações divinas (confirmadas pelo narrador ou supostas pelos personagens). Os deuses se interessam pelos assuntos humanos e dão suas orientações, mas entre o sinal e o entendimento (entre a sugestão mais ou menos velada e a ação) existe sempre um espaço aberto preenchido pela experiência da indeterminação e pela incerteza. No caso de Ítaca, os sinais e suas interpretações são precisamente indicadores de que o poder da casa de Odisseu está em conformidade com a vontade dos deuses, uma legitimação divina da ordem social aristocrática retomada. Toda uma sequência de sinais e prodígios irá preparar o ouvinte ou leitor para a vingança definitiva. |
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Teodoro Renno AssuncaoJacyntho Jose Lins BrandaoAntonio Orlando de O D LopesChristian WernerAndré Malta CamposGustavo Henrique Montes Frade2019-08-13T05:26:42Z2019-08-13T05:26:42Z2017-05-26http://hdl.handle.net/1843/LETR-APUKJPA experiência da indeterminação é parte fundamental da representação de personagens humanos e, consequentemente, da trajetória dos pretendentes ao longo da Odisseia. Isso é demonstrado numa leitura que parte de algumas considerações sobre a prática da adivinhação, sobre o pensamento religioso grego, sobre os Estudos Homéricos (incluindo a chamada Questão Homérica e a percepção do estilo oral tradicional dos poemas), sobre poesia e sobre narrativa. Os pretendentes são caracterizados como os insensatos que desprezam os limites, que avaliam mal sua situação e leem mal os avisos que recebem. A possibilidade da má leitura ajuda a sempre manter algo de indeterminado no futuro segundo a perspectiva humana, enquanto a capacidade de bem interpretar e bem reagir aos sinais é uma das qualidades que distinguem os heróis de seus antagonistas. Ao longo do poema, os pretendentes são individualizados como agentes morais e passam a ser representados de forma mais refinada do que apenas como puro mal coletivo. Com isso, a punição comum a todos (conforme a vontade dos deuses) passa a ser uma questão relevante para a qual o poema dará uma resposta extrema. Quando Atena se passa por um humano, acaba revelando marcas características da comunicação humana e divina. A estratégia básica da deusa é transmitir suas informações de forma apenas parcial, simulando a limitação do conhecimento humano e ignorando sua capacidade de produzir efeito sobre aquilo que deseja (recurso utilizado também para testar os mortais). As cenas de interpretações de voos de pássaros executadas por Haliterses, Helena, Teoclímeno e Anfínomo (lidas com especial atenção neste trabalho), mostram de formas diversas como os humanos podem receber as indicações divinas (confirmadas pelo narrador ou supostas pelos personagens). Os deuses se interessam pelos assuntos humanos e dão suas orientações, mas entre o sinal e o entendimento (entre a sugestão mais ou menos velada e a ação) existe sempre um espaço aberto preenchido pela experiência da indeterminação e pela incerteza. No caso de Ítaca, os sinais e suas interpretações são precisamente indicadores de que o poder da casa de Odisseu está em conformidade com a vontade dos deuses, uma legitimação divina da ordem social aristocrática retomada. Toda uma sequência de sinais e prodígios irá preparar o ouvinte ou leitor para a vingança definitiva.The experience of uncertainty is one of the basic features of the representation of human characters and, consequently, of the suitors characterization throughout the Odyssey. This is demonstrated after initial remarks on divination, on Greek religious thought, on Homeric Studies (including the Homeric Question and the recognition of Homers oral traditional style), on poetry and on narrative. The suitors are characterized as reckless men who despise limits, who poorly evaluate their situation and misread the warnings they receive. The possibility of misreading signs helps maintain some uncertainty in the future, from the human perspective, as the skill of interpreting and correctly reacting to signs is a quality that distinguishes heroes from antagonists. The suitors, however, are individualized as moral agents and are represented in a more refined way than merely as pure collective evil. Their general punishment (in accordance with the gods will) becomes a relevant question to which the poem will give its extreme answer. When Athena appears as a man, she ends up revealing significant marks of human and divine communication. Her strategy of disguise is to deliver information only in a partial way, simulating human limitations of knowledge and ignoring her capacity of direct and effective action over the events (a resource that allows her to test mortals). The bird flight interpretation scenes, performed by Halitherses, Helen, Theoclymenus and Amphinomus (scenes analyzed with special attention in this work), show in different ways how humans may react to the divine indications (confirmed by the narrator or inferred by the characters). The gods are interested in human affairs and provide guidance; between the sign and the comprehension, though (between more or less veiled suggestions and actions), there is always an open space filled by the experience of uncertainty and indetermination. In Ithaka, the signs and their interpretations are indicators that the power of Odysseus house is in accordance with the will of the gods, a divine legitimation of the restored aristocratic social order. A sequence of signs will prepare the listener or reader for the final revenge.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGAdivinhação na literaturaHomero Odisseia Crítica e interpretaçãoPoesia épica grega História e CríticaHomeropretendentesOdisseianarrativaprofeciapoesiaPretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseiainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALtese_gustavo_henrique_montes_frade.pdfapplication/pdf2553076https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-APUKJP/1/tese_gustavo_henrique_montes_frade.pdfc272de5ad5003ef3ba3a1e29fc45f9c0MD51TEXTtese_gustavo_henrique_montes_frade.pdf.txttese_gustavo_henrique_montes_frade.pdf.txtExtracted texttext/plain877037https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-APUKJP/2/tese_gustavo_henrique_montes_frade.pdf.txt826e6dbbba6e6e3eed8f509ae84057c9MD521843/LETR-APUKJP2019-11-14 21:20:48.156oai:repositorio.ufmg.br:1843/LETR-APUKJPRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-15T00:20:48Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false |
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