A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Luciana Cavalcante Torquato
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9MKLG3
Resumo: A entrada do discurso psicanalítico no Brasil configura-se como um processo que esteve intimamente relacionado às demandas correntes da intelligentsia nacional em seu esforço de construção do projeto de nação que ecoava no país desde o final do século XIX. Tal contexto esteve profundamente marcado pela discussão de projetos para a nação brasileira com o intuito de modernização do Brasil, erguendo-o à condição de país civilizado. Ao identificar as duas vias discursivas de apropriação da psicanálise no Brasil (a medicina higienista e a arte modernista brasileira), este estudo indica os traços que esses pontos de ancoragem deixaram no processo de construção do movimento psicanalítico nacional. O início da difusão da teoria freudiana no país não se apresentou de forma unívoca, mas foi atravessado pelos discursos psiquiátrico-higienista, com sua leitura reformista e universalizante da psicanálise, e modernista, com a leitura contestatória dos códigos sociais e morais dominantes. Se, por um lado, a medicina psiquiátrica teria se apropriado das ideias freudianas para o aperfeiçoamento de sua prática clínica, diagnóstica e nosográfica; por outro, intelectuais, artistas e pensadores da cultura brasileira entreviram na psicanálise a possibilidade inusitada de entendimento e discussão das questões nacionais. Se tal debate apontou para as leituras particulares que renomados psiquiatras do período em questão fizeram de Sigmund Freud, ela também revelou a reverberação que o contato com psicanálise provocou em Mário de Andrade, escritor brasileiro e leitor de Freud. As relações entre o modernista e a psicanálise são cotejadas no último eixo do trabalho, que cuida de examinar a aplicação do conceitual psicanalítico na obra de Mário, principalmente através da tradução inventiva que o escritor propõe para o recalque freudiano. Ao incorporar a psicanálise aos seus estudos sobre a identidade nacional, Mário lança mão do conceito psicanalítico, criando o sequestro, uma tradução própria capaz de abrigar os conceitos de recalcamento e sublimação. Mário foi assim capaz não só de apropriar do discurso psicanalítico estrangeiro, mas de contribuir para o avanço conceitual da psicanálise. Na esteira dessas distintas vias de incorporação das ideias freudianas, a discussão que aqui se apresenta busca contextualizar a recepção dessas ideias, trazendo à cena as principais personalidades, os grupos sociais aos quais eles se vincularam, os motivos que os levaram a se apropriar do discurso psicanalítico e, finalmente, as traduções/traições empreendidas pelos mesmos ao situarem a psicanálise na terra brasilis.
id UFMG_f9b37f7c6f831c9f6327ce5f008c710e
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-9MKLG3
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Guilherme Massara RochaAntonio Marcio Ribeiro TeixeiraPaulo Eduardo Viana VidalLuciana Cavalcante Torquato2019-08-11T09:38:27Z2019-08-11T09:38:27Z2014-02-26http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9MKLG3A entrada do discurso psicanalítico no Brasil configura-se como um processo que esteve intimamente relacionado às demandas correntes da intelligentsia nacional em seu esforço de construção do projeto de nação que ecoava no país desde o final do século XIX. Tal contexto esteve profundamente marcado pela discussão de projetos para a nação brasileira com o intuito de modernização do Brasil, erguendo-o à condição de país civilizado. Ao identificar as duas vias discursivas de apropriação da psicanálise no Brasil (a medicina higienista e a arte modernista brasileira), este estudo indica os traços que esses pontos de ancoragem deixaram no processo de construção do movimento psicanalítico nacional. O início da difusão da teoria freudiana no país não se apresentou de forma unívoca, mas foi atravessado pelos discursos psiquiátrico-higienista, com sua leitura reformista e universalizante da psicanálise, e modernista, com a leitura contestatória dos códigos sociais e morais dominantes. Se, por um lado, a medicina psiquiátrica teria se apropriado das ideias freudianas para o aperfeiçoamento de sua prática clínica, diagnóstica e nosográfica; por outro, intelectuais, artistas e pensadores da cultura brasileira entreviram na psicanálise a possibilidade inusitada de entendimento e discussão das questões nacionais. Se tal debate apontou para as leituras particulares que renomados psiquiatras do período em questão fizeram de Sigmund Freud, ela também revelou a reverberação que o contato com psicanálise provocou em Mário de Andrade, escritor brasileiro e leitor de Freud. As relações entre o modernista e a psicanálise são cotejadas no último eixo do trabalho, que cuida de examinar a aplicação do conceitual psicanalítico na obra de Mário, principalmente através da tradução inventiva que o escritor propõe para o recalque freudiano. Ao incorporar a psicanálise aos seus estudos sobre a identidade nacional, Mário lança mão do conceito psicanalítico, criando o sequestro, uma tradução própria capaz de abrigar os conceitos de recalcamento e sublimação. Mário foi assim capaz não só de apropriar do discurso psicanalítico estrangeiro, mas de contribuir para o avanço conceitual da psicanálise. Na esteira dessas distintas vias de incorporação das ideias freudianas, a discussão que aqui se apresenta busca contextualizar a recepção dessas ideias, trazendo à cena as principais personalidades, os grupos sociais aos quais eles se vincularam, os motivos que os levaram a se apropriar do discurso psicanalítico e, finalmente, as traduções/traições empreendidas pelos mesmos ao situarem a psicanálise na terra brasilis.The arrival of the psychoanalytic discourse in Brazil constituted as a process closely related to the national intelligentsia´s interests in their efforts to enhance a national cultural project that was already being conceived since the late nineteenth century. This context has been marked by a discussion about several projects to the nation that intended to modernize Brazil, leading it to the condition of a civilized country. By identifying the two distinct ways of appropriation through which psychoanalysis arrived in Brazil (medicine hygienist and Brazilian modernist art), this study also indicates the impact and the consequences of these two movements on the beginning of psychoanalytical movement in Brazil. The early diffusion of Freudians theory in the country has not occurred in an unbiased way, instead it was marked by psychiatric and hygienist speech, with its reformist and universalizing reading of psychoanalysis, and modernist speech, with its opposed reading of the current moral codes. If, by one hand, the psychiatric medicine appropriated of Freudians ideas to improve their clinical, diagnostic and nosography practices, on the other hand, intellectuals, artists and thinkers of Brazilian culture have perceived in psychoanalysis an unusual possibility of understanding and discussing nationals issues. If this debate pointed to particular readings about Sigmund Freud made by renowned psychiatrists of that period, it also revealed the reverberation that the contact with psychoanalysis caused in Mário de Andrade, Brazilian writer and Freuds reader. The relation between this modernist artist and psychoanalysis theory are treated in the last part of this study that wants to examine the application of the psychoanalysiss concepts in Mários work, mainly through his inventive translation for Freudians repression. By incorporating psychoanalysis to his studies about national identity, Mário used psychoanalysis concepts, conceiving sequestro (kidnapping), a specific translation that assembles, as I argue, the concepts of repression and sublimation. Through this appropriation of the psychoanalysis foreign discourse, Mário was able not only to interpret Brazils culture through psychoanalysis, but to contribute back to psychoanalysis conceptual development. Through these two distinct ways of Freudians ideas, the present discussion wants to contextualize the reception of these ideas, bringing into play the major personalities, the social groups to which they have committed themselves, the reasons that led them to appropriate the psychoanalytical discourse and finally the translations/betrayals that they undertook to situate psychoanalysis in Brazil.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGPsicanáliseModernismoPsicologiaHistória da Psicanálise no Brasil Higienismo Modernismo Identidade nacional Difusão do discurso psicanalíticoA recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidadeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALppgpsicologia_lucianacavalcantetorquato_dissertacaomestrado.pdfapplication/pdf1336446https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9MKLG3/1/ppgpsicologia_lucianacavalcantetorquato_dissertacaomestrado.pdf270a81a369c8b6a53f953d568a2c2032MD51TEXTppgpsicologia_lucianacavalcantetorquato_dissertacaomestrado.pdf.txtppgpsicologia_lucianacavalcantetorquato_dissertacaomestrado.pdf.txtExtracted texttext/plain285361https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9MKLG3/2/ppgpsicologia_lucianacavalcantetorquato_dissertacaomestrado.pdf.txt84eb9e9c1bdf301f26bcc32a287f1e9fMD521843/BUOS-9MKLG32019-11-14 05:47:47.304oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-9MKLG3Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T08:47:47Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
title A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
spellingShingle A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
Luciana Cavalcante Torquato
História da Psicanálise no Brasil Higienismo Modernismo Identidade nacional Difusão do discurso psicanalítico
Psicanálise
Modernismo
Psicologia
title_short A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
title_full A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
title_fullStr A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
title_full_unstemmed A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
title_sort A recepção da psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
author Luciana Cavalcante Torquato
author_facet Luciana Cavalcante Torquato
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Guilherme Massara Rocha
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Antonio Marcio Ribeiro Teixeira
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Paulo Eduardo Viana Vidal
dc.contributor.author.fl_str_mv Luciana Cavalcante Torquato
contributor_str_mv Guilherme Massara Rocha
Antonio Marcio Ribeiro Teixeira
Paulo Eduardo Viana Vidal
dc.subject.por.fl_str_mv História da Psicanálise no Brasil Higienismo Modernismo Identidade nacional Difusão do discurso psicanalítico
topic História da Psicanálise no Brasil Higienismo Modernismo Identidade nacional Difusão do discurso psicanalítico
Psicanálise
Modernismo
Psicologia
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Psicanálise
Modernismo
Psicologia
description A entrada do discurso psicanalítico no Brasil configura-se como um processo que esteve intimamente relacionado às demandas correntes da intelligentsia nacional em seu esforço de construção do projeto de nação que ecoava no país desde o final do século XIX. Tal contexto esteve profundamente marcado pela discussão de projetos para a nação brasileira com o intuito de modernização do Brasil, erguendo-o à condição de país civilizado. Ao identificar as duas vias discursivas de apropriação da psicanálise no Brasil (a medicina higienista e a arte modernista brasileira), este estudo indica os traços que esses pontos de ancoragem deixaram no processo de construção do movimento psicanalítico nacional. O início da difusão da teoria freudiana no país não se apresentou de forma unívoca, mas foi atravessado pelos discursos psiquiátrico-higienista, com sua leitura reformista e universalizante da psicanálise, e modernista, com a leitura contestatória dos códigos sociais e morais dominantes. Se, por um lado, a medicina psiquiátrica teria se apropriado das ideias freudianas para o aperfeiçoamento de sua prática clínica, diagnóstica e nosográfica; por outro, intelectuais, artistas e pensadores da cultura brasileira entreviram na psicanálise a possibilidade inusitada de entendimento e discussão das questões nacionais. Se tal debate apontou para as leituras particulares que renomados psiquiatras do período em questão fizeram de Sigmund Freud, ela também revelou a reverberação que o contato com psicanálise provocou em Mário de Andrade, escritor brasileiro e leitor de Freud. As relações entre o modernista e a psicanálise são cotejadas no último eixo do trabalho, que cuida de examinar a aplicação do conceitual psicanalítico na obra de Mário, principalmente através da tradução inventiva que o escritor propõe para o recalque freudiano. Ao incorporar a psicanálise aos seus estudos sobre a identidade nacional, Mário lança mão do conceito psicanalítico, criando o sequestro, uma tradução própria capaz de abrigar os conceitos de recalcamento e sublimação. Mário foi assim capaz não só de apropriar do discurso psicanalítico estrangeiro, mas de contribuir para o avanço conceitual da psicanálise. Na esteira dessas distintas vias de incorporação das ideias freudianas, a discussão que aqui se apresenta busca contextualizar a recepção dessas ideias, trazendo à cena as principais personalidades, os grupos sociais aos quais eles se vincularam, os motivos que os levaram a se apropriar do discurso psicanalítico e, finalmente, as traduções/traições empreendidas pelos mesmos ao situarem a psicanálise na terra brasilis.
publishDate 2014
dc.date.issued.fl_str_mv 2014-02-26
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-11T09:38:27Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-11T09:38:27Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9MKLG3
url http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9MKLG3
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9MKLG3/1/ppgpsicologia_lucianacavalcantetorquato_dissertacaomestrado.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9MKLG3/2/ppgpsicologia_lucianacavalcantetorquato_dissertacaomestrado.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 270a81a369c8b6a53f953d568a2c2032
84eb9e9c1bdf301f26bcc32a287f1e9f
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803589143340515328