Riscos e efeitos tardios como extensão do ciclo de vida organizacional: o caso do acidente radiológico com césio-137

• Autor(a) principal: Bezerra, Márcio Eduardo Garcia
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
• Texto Completo: https://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/124031
• topic: Riscos; Ambiente organizacional; Radioatividade

O objetivo desta tese foi compreender como os riscos da atividade organizacional vão além do tempo dessa atividade, ultrapassando o ciclo de vida da organização preconizado por Adizes (1979, 2004). A partir do entendimento do risco como uma realidade socialmente construída, este trabalho buscou alinhar-se à necessidade de que as perspectivas das ciências sociais fossem consideradas como um requisito para tomada de decisões em situações em que os riscos precisam ser avaliados e ponderados dentro de relações de custos e benefícios do potencial da tecnologia e do por que o risco vale a pena. Nesse sentido, para validar essa proposição no campo empírico, fez-se a análise do acidente radiológico ocorrido em Goiânia no ano de 1987, em que uma organização formada por uma parceria médica privada especializada em radioterapia encerrou suas atividades e deixou para trás um aparelho radiológico contendo uma cápsula de césio-137, material radioativo contaminante, que provocou uma série de danos à sociedade goiana. Metodologicamente, foi utilizada a pesquisa qualitativa, tendo como procedimento de investigação a pesquisa documental e a análise de conteúdo, que foi empregada na construção de uma base de dados e na codificação de cinco categorias de análise: i) risco associado à área de proteção e segurança radiológica; ii) risco associado à área da saúde; iii) risco associado ao meio ambiente e à população; e iv) risco associado à área institucional. Os resultados da análise dessas categorias permitiram encontrar contextos de riscos multidimensionais e persistentes ao longo do tempo que expuseram fragilidades na garantia da segurança da população e do meio ambiente quando associados a atividade organizacional envolvida com tecnologias perigosas, como a da radiação ionizante. Ao mesmo tempo, concluiu-se que esses contextos favorecem a manifestação de eventos de risco, como o acidente radiológico de Goiânia, podendo esta manifestação ocorrer num tempo futuro, após o encerramento das atividades da organização, denotando a possibilidade de danos e efeitos tardios provenientes dessa extensão da temporariedade dos riscos organizacionais. A contribuição teórica deste trabalho foi trazer a perspectiva temporal dos riscos como uma extensão do ciclo de vida das organizações que os criaram, tanto em relação à extensão futura de seus danos para sociedade e meio ambiente quanto a uma incerteza e perda de previsibilidade quanto às manifestações de efeitos tardios desses riscos. Esta tese concluiu, a partir de seus achados, que a operacionalização da extensão desse ciclo de vida organizacional, associada aos seus riscos, pode ser uma forma de ajustar as políticas atuais de gestão de risco e deve vir acompanhada de mecanismos institucionais que abordem os desafios da profundidade temporal de seus efeitos tardios no longo prazo, buscando ampliar as análises convencionais de regimes regulatórios (ambientais, tecnológicos, sociais, econômicos), de interações institucionais e de estudos organizacionais sobre governança para vislumbrarem horizontes temporais mais distantes, fugindo da tendência de se concentrarem em prazos mais curtos. Palavras-chave: Risco. Efeitos Tardios. Ciclo de vida. Governança. Estudos Organizacionais.