O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Carneiro, Sarah Vieira
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
Texto Completo: https://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/111019
Resumo: Ainda que o luto seja amplamente reconhecido como uma experiência humana universal, uma resposta normal e esperada à perda, sua abordagem em pesquisas em saúde mental é crescente. A medicalização da vida se expandiu de modo a alcançar também a vivência da perda. A literatura especializada aponta características (sintomas) normais e patológicas do luto, o tempo de duração, a intensidade, o curso, o prognóstico e o seu tratamento. Há mesmo um ¿movimento¿ científico para inclusão do luto ou do luto patológico como categorias clínicas nos manuais diagnósticos, processo que se encontra em franca expansão. O principal objetivo desta tese é compreender o luto na contemporaneidade, à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre. Na persecução deste propósito, caminhamos no sentido de: 1) delinear as condições de possibilidade da morte e do luto na sociedade contemporânea, em termos de história, cultura, mercado e etiqueta; 2) discutir o processo de patologização do luto; 3) analisar, a partir do histórico das edições do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), a inserção do luto como transtorno mental; 4) examinar a perspectiva científica mais atual em relação ao luto, qual seja, sua neurobiologização; e, 5) articular a fenomenologia existencial sartreana com os fenômeno da morte e do luto. Assim, a compreensão do fenômeno do luto na contemporaneidade não pode se dar apenas por meio de um estudo teórico, mas deve entrever a significação individual dos elementos do mundo. Desta forma, a presente pesquisa se produziu no vaivém (progressivo-regressivo) da história singular e da determinação geral das condições de vida do sujeito, o que nos permitiu reconstituir progressivamente a existência material do sujeito e alcançar a ¿lógica da liberdade¿ (Sartre, 1960/2004, p. 69) do seu luto. Desta forma, utilizamos como método a dialética liberdade/situação. Pudemos compreender que não há algo como um luto patológico, mas que cada luto se insere no projeto-de-ser de cada enlutado, em uma dada cultura e num tempo histórico específico. O que a contemporaneidade oferece é a mercantilização dos ritos, a negação do sofrimento e a medicalização do luto, que não siga suas rígidas regras de etiqueta e de saúde. As condições de possibilidade de enlutamento na nossa sociedade são estratégias de má-fé. A etiqueta fúnebre é outra versão cotidiana: o choro e a tristeza não convêm; é importante que a perda seja sentida o mínimo possível e que a comunidade se aperceba dela de modo muito superficial e rápido: 1) o cadáver deve ser um simulacro aprimorado do corpo vivo e, ante a sua desaparição, prontamente se apresentam o dever moral e a obrigação social de evitar a dor em público; 2) a retomada de uma vida produtiva, funcional e; enfim, 3) o compromisso de parecer feliz o mais rápido possível. Escolher-se doente é um caminho de má-fé possível e, cada vez mais, eleito, uma vez que traduz a expectativa da coletividade e reproduz o saber médico. O sujeito do nosso caso foi do ¿contra¿, rejeitando o diagnóstico, a medicação, viveu (e ainda vive) seu luto à sua maneira. Palavras-chave: 1) Luto; 2) Existencialismo; 3) DSM; 4) Diagnóstico; 5) Jean-Paul Sartre.
id UFOR_5d5e3650e417ebb1f98704181a647c6d
oai_identifier_str oai::111019
network_acronym_str UFOR
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
repository_id_str
spelling O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul SartreMourning in contemporaneity in the light of Jean-Paul Sartre's existential phenomenologyLuto - Aspectos psicológicosExistencialismoFenomenologiaAinda que o luto seja amplamente reconhecido como uma experiência humana universal, uma resposta normal e esperada à perda, sua abordagem em pesquisas em saúde mental é crescente. A medicalização da vida se expandiu de modo a alcançar também a vivência da perda. A literatura especializada aponta características (sintomas) normais e patológicas do luto, o tempo de duração, a intensidade, o curso, o prognóstico e o seu tratamento. Há mesmo um ¿movimento¿ científico para inclusão do luto ou do luto patológico como categorias clínicas nos manuais diagnósticos, processo que se encontra em franca expansão. O principal objetivo desta tese é compreender o luto na contemporaneidade, à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre. Na persecução deste propósito, caminhamos no sentido de: 1) delinear as condições de possibilidade da morte e do luto na sociedade contemporânea, em termos de história, cultura, mercado e etiqueta; 2) discutir o processo de patologização do luto; 3) analisar, a partir do histórico das edições do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), a inserção do luto como transtorno mental; 4) examinar a perspectiva científica mais atual em relação ao luto, qual seja, sua neurobiologização; e, 5) articular a fenomenologia existencial sartreana com os fenômeno da morte e do luto. Assim, a compreensão do fenômeno do luto na contemporaneidade não pode se dar apenas por meio de um estudo teórico, mas deve entrever a significação individual dos elementos do mundo. Desta forma, a presente pesquisa se produziu no vaivém (progressivo-regressivo) da história singular e da determinação geral das condições de vida do sujeito, o que nos permitiu reconstituir progressivamente a existência material do sujeito e alcançar a ¿lógica da liberdade¿ (Sartre, 1960/2004, p. 69) do seu luto. Desta forma, utilizamos como método a dialética liberdade/situação. Pudemos compreender que não há algo como um luto patológico, mas que cada luto se insere no projeto-de-ser de cada enlutado, em uma dada cultura e num tempo histórico específico. O que a contemporaneidade oferece é a mercantilização dos ritos, a negação do sofrimento e a medicalização do luto, que não siga suas rígidas regras de etiqueta e de saúde. As condições de possibilidade de enlutamento na nossa sociedade são estratégias de má-fé. A etiqueta fúnebre é outra versão cotidiana: o choro e a tristeza não convêm; é importante que a perda seja sentida o mínimo possível e que a comunidade se aperceba dela de modo muito superficial e rápido: 1) o cadáver deve ser um simulacro aprimorado do corpo vivo e, ante a sua desaparição, prontamente se apresentam o dever moral e a obrigação social de evitar a dor em público; 2) a retomada de uma vida produtiva, funcional e; enfim, 3) o compromisso de parecer feliz o mais rápido possível. Escolher-se doente é um caminho de má-fé possível e, cada vez mais, eleito, uma vez que traduz a expectativa da coletividade e reproduz o saber médico. O sujeito do nosso caso foi do ¿contra¿, rejeitando o diagnóstico, a medicação, viveu (e ainda vive) seu luto à sua maneira. Palavras-chave: 1) Luto; 2) Existencialismo; 3) DSM; 4) Diagnóstico; 5) Jean-Paul Sartre.Although mourning is widely recognized as a universal human experience, a normal and expected response to loss, its approach in mental health research is increasing. The medicalization of life expanded in order to reach the experience of loss. The specialized literature points out normal and pathological characteristics (symptoms) of mourning, duration, intensity, course, prognosis and treatment. There is even a scientific "movement" to include mourning or pathological mourning as clinical categories in diagnostic manuals, a process that is in rapid expansion. The main objective of this thesis is to understand the mourning in the contemporaneity, in the light of the existential phenomenology of Jean-Paul Sartre. In pursuit of this purpose, we are moving towards: 1) delineating the conditions of possibility of death and mourning in contemporary society, in terms of history, culture, market and etiquette; 2) discuss the process of pathologization of mourning; 3) to analyze, from the history of the DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), the insertion of mourning as a mental disorder; 4) to examine the most current scientific perspective regarding grief, that is, its neurobiologization; and, 5) articulate Sartre´s existential phenomenology with the phenomenon of death and mourning. Thus, the understanding of the phenomenon of mourning in contemporaneity can not be given only through a theoretical study, but must glimpse the individual significance of the elements of the world. In this way, the present research took place in the (progressive-regressive) shuttle of singular history and the general determination of the subject's life conditions, which allowed us to progressively reconstitute the subject's material existence and achieve the "logic of freedom" (Sartre, 1960, p. 69) of his mourning. In this way, we use as method the dialectic freedom / situation. We could understand that there is no such thing as a pathological mourning, but that every mourning fits into the design-of-being of every mourner, in a given culture, and in a specific historical time. What contemporaneity offers is the mercantilization of rites, the denial of suffering and the medicalization of mourning, which does not follow its rigid rules of etiquette and health. The conditions of possibility of swindling in our society are strategies of bad faith. The funeral etiquette is another daily version: crying and sadness do not suit; it is important that the loss be felt as little as possible and that the community should be aware of it in a very superficial and rapid way: 1) the corpse must be an improved simulacrum of the living body and, upon its disappearance, the moral and the social obligation to avoid pain in public; 2) the resumption of a productive, functional life and; finally, 3) the commitment to look happy as soon as possible. Choosing to be sick is a path of bad faith that is possible and, increasingly, elected, since it reflects the expectation of the community and reproduces medical knowledge. The subject of our case was the "against", rejecting the diagnosis, the medication, lived (and still lives) his mourning in his own way. Keywords: 1) Mourning; 2) Existentialism; 3) DSM; 4) Diagnosis; 5) Jean-Paul Sartre.Boris, Georges Daniel Janja BlocBoris, Georges Daniel Janja BlocFrota, Ana Maria Monte CoelhoMelo, Anna Karynne da SilvaSouza, Luana Elayne Cunha deSeveriano, Maria de Fátima VieiraUniversidade de Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em PsicologiaCarneiro, Sarah Vieira2017info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/111019https://uol.unifor.br/auth-sophia/exibicao/17609Disponibilidade forma física: Existe obra impressa de código : 101910porreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFORinstname:Universidade de Fortaleza (UNIFOR)instacron:UNIFORinfo:eu-repo/semantics/openAccess2023-08-29T08:30:26Zoai::111019Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://www.unifor.br/bdtdONGhttp://dspace.unifor.br/oai/requestbib@unifor.br||bib@unifor.bropendoar:2023-08-29T08:30:26Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)false
dc.title.none.fl_str_mv O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre
Mourning in contemporaneity in the light of Jean-Paul Sartre's existential phenomenology
title O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre
spellingShingle O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre
Carneiro, Sarah Vieira
Luto - Aspectos psicológicos
Existencialismo
Fenomenologia
title_short O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre
title_full O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre
title_fullStr O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre
title_full_unstemmed O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre
title_sort O luto na contemporaneidade à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre
author Carneiro, Sarah Vieira
author_facet Carneiro, Sarah Vieira
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Boris, Georges Daniel Janja Bloc
Boris, Georges Daniel Janja Bloc
Frota, Ana Maria Monte Coelho
Melo, Anna Karynne da Silva
Souza, Luana Elayne Cunha de
Severiano, Maria de Fátima Vieira
Universidade de Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em Psicologia
dc.contributor.author.fl_str_mv Carneiro, Sarah Vieira
dc.subject.por.fl_str_mv Luto - Aspectos psicológicos
Existencialismo
Fenomenologia
topic Luto - Aspectos psicológicos
Existencialismo
Fenomenologia
description Ainda que o luto seja amplamente reconhecido como uma experiência humana universal, uma resposta normal e esperada à perda, sua abordagem em pesquisas em saúde mental é crescente. A medicalização da vida se expandiu de modo a alcançar também a vivência da perda. A literatura especializada aponta características (sintomas) normais e patológicas do luto, o tempo de duração, a intensidade, o curso, o prognóstico e o seu tratamento. Há mesmo um ¿movimento¿ científico para inclusão do luto ou do luto patológico como categorias clínicas nos manuais diagnósticos, processo que se encontra em franca expansão. O principal objetivo desta tese é compreender o luto na contemporaneidade, à luz da fenomenologia existencial de Jean-Paul Sartre. Na persecução deste propósito, caminhamos no sentido de: 1) delinear as condições de possibilidade da morte e do luto na sociedade contemporânea, em termos de história, cultura, mercado e etiqueta; 2) discutir o processo de patologização do luto; 3) analisar, a partir do histórico das edições do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), a inserção do luto como transtorno mental; 4) examinar a perspectiva científica mais atual em relação ao luto, qual seja, sua neurobiologização; e, 5) articular a fenomenologia existencial sartreana com os fenômeno da morte e do luto. Assim, a compreensão do fenômeno do luto na contemporaneidade não pode se dar apenas por meio de um estudo teórico, mas deve entrever a significação individual dos elementos do mundo. Desta forma, a presente pesquisa se produziu no vaivém (progressivo-regressivo) da história singular e da determinação geral das condições de vida do sujeito, o que nos permitiu reconstituir progressivamente a existência material do sujeito e alcançar a ¿lógica da liberdade¿ (Sartre, 1960/2004, p. 69) do seu luto. Desta forma, utilizamos como método a dialética liberdade/situação. Pudemos compreender que não há algo como um luto patológico, mas que cada luto se insere no projeto-de-ser de cada enlutado, em uma dada cultura e num tempo histórico específico. O que a contemporaneidade oferece é a mercantilização dos ritos, a negação do sofrimento e a medicalização do luto, que não siga suas rígidas regras de etiqueta e de saúde. As condições de possibilidade de enlutamento na nossa sociedade são estratégias de má-fé. A etiqueta fúnebre é outra versão cotidiana: o choro e a tristeza não convêm; é importante que a perda seja sentida o mínimo possível e que a comunidade se aperceba dela de modo muito superficial e rápido: 1) o cadáver deve ser um simulacro aprimorado do corpo vivo e, ante a sua desaparição, prontamente se apresentam o dever moral e a obrigação social de evitar a dor em público; 2) a retomada de uma vida produtiva, funcional e; enfim, 3) o compromisso de parecer feliz o mais rápido possível. Escolher-se doente é um caminho de má-fé possível e, cada vez mais, eleito, uma vez que traduz a expectativa da coletividade e reproduz o saber médico. O sujeito do nosso caso foi do ¿contra¿, rejeitando o diagnóstico, a medicação, viveu (e ainda vive) seu luto à sua maneira. Palavras-chave: 1) Luto; 2) Existencialismo; 3) DSM; 4) Diagnóstico; 5) Jean-Paul Sartre.
publishDate 2017
dc.date.none.fl_str_mv 2017
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/111019
url https://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/111019
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://uol.unifor.br/auth-sophia/exibicao/17609
Disponibilidade forma física: Existe obra impressa de código : 101910
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
instname:Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
instacron:UNIFOR
instname_str Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
instacron_str UNIFOR
institution UNIFOR
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
repository.mail.fl_str_mv bib@unifor.br||bib@unifor.br
_version_ 1800408702528782336