Gênero, sexualidade e forró: um estudo histórico social no contexto nordestino

• Autor(a) principal: Brilhante, Aline Veras Morais
• Data de Publicação: 2015
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
• Texto Completo: https://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/102473
• topic: Relações de gênero; Violência contra a mulher; Sexualidade; Saúde pública

As desigualdades baseadas no gênero, a despeito dos avanços sociais e jurídicos, tem historicamente relegado as mulheres do Nordeste, região marcada por uma forte influência do patriarcado, a um lugar social de subordinação, favorecendo as mais diversas formas de violências. Esses estereótipos de gênero estão presentes nos símbolos culturais, incluindo as letras de forró. Partindo daí e baseando-se no referencial teórico de Michel Foucault e na percepção de Joan Scott sobre o papel dos símbolos culturais na criação das identidades de gênero e na construção da subjetividade de homens e mulheres, esta pesquisa objetivou compreender os sentidos atribuídos à mulher, à sexualidade e às relações de gênero na cultura nordestina por meio do forró e sua relação com as vulnerabilidades às quais estas estão expostas; analisar a caracterização da mulher e do corpo feminino nas letras de forró em suas diferentes fases; contextualizar a imagética feminina nas letras de forró com os processos históricos e culturais concernentes a cada período; apreender como os fatores culturais, mais especificamente o forró, influenciam e são influenciados pela elaboração da sexualidade e das relações de gênero entre os nordestinos e interpretar a relação entre os sentidos atribuídos à mulher, à sexualidade e às relações de gênero na cultura nordestina e as vulnerabilidades às quais as mulheres estão historicamente expostas. Neste intuito, o corpus da pesquisa foi composto a partir de letras de representantes de cada período do forró, a saber: Luís Gonzaga e Marinês; Alceu Valença e Elba Ramalho; Genival Lacerda e Clemilda; Mastruz com Leite, Aviões do Forró e Saia Rodada. Para a análise foi realizada triangulação de dois métodos da tradição qualitativa: a Análise do Discurso, segundo a escola francesa, e a Hermenêutica Filosófica de Gadamer. Os discursos selecionados permitiram-nos visualizar o funcionamento do patriarcado no Nordeste, desde sua instalação, passando pelas adaptações por ele sofridas para adequar-se às conquistas femininas, ao mundo globalizado e às leis de mercado. A voz feminina também foi ouvida, o que demonstrou que as estruturas hierárquicas de gênero se sustentam com base no consentimento feminino. A violência aparece de forma contundente nos discursos, sendo mais pungentes naqueles posteriores às conquistas femininas das décadas de 1980 e 1990, apresentando-se de forma crua, que naturaliza todos os tipos de violência contra a mulher. Concluímos que, apesar de a estrutura patriarcal compor a identidade regional do nordestino desde o período colonial, fazendo parte da cultura regional, ela não é algo natural, não sendo uma realidade imutável. Se objetivamos mudanças reais na construção das subjetividades de homens e mulheres, é necessário que compreendamos os discursos enquanto tecnologias de gênero, que os descortinemos, que os analisemos criticamente e divulguemos seus sentidos ocultos, para que através de uma educação crítica, possamos alcançar progressos sustentáveis. Em face do exposto, acreditamos que este trabalho é de grande relevância na área da Saúde Coletiva, na medida em que nos permitiu compreender como os símbolos culturais contribuem para a construção de subjetividades calcadas nos princípios do patriarcado e das relações desiguais de gênero, levando a uma legitimação da violência contra a mulher, de tal forma imbrincada no inconsciente coletivo, que enfraquece os avanços legais que vem tentando reduzir as desigualdades baseadas no gênero.