A normatização do sujeito anormal: os efeitos da ampliação e generalização da psiquiatria sobre os modos de subjetivação na contemporaneidade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Albuquerque, Kelly Moreira de
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR
Texto Completo: https://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/116463
Resumo: Nesta tese, investigamos a normatização da subjetividade anormal, abordando-a como produto da ampliação e generalização da psiquiatria. Trabalhamos com a seguinte hipótese norteadora: a inclusão do sofrimento psíquico na lógica de produtividade do neoliberalismo, ao desconstruir a fronteira entre normalidade e anormalidade, transforma este último, o anormal, em discurso comum, em regra a ser seguida. Confrontamo-nos, assim, com a reconfiguração do poder de normalização em que não é o processo de exclusão do anormal dos meios de produção que possibilita a formação do sujeito contemporâneo. É, antes, pela inclusão e naturalização das anormalidades, que o sujeito se relaciona consigo e com o outro. Neste sentido, propomos, mais precisamente, a analisar como a psiquiatria vincula a racionalidade neoliberal de responsabilidade, produtividade e lucro aos modos de subjetivação e ao laço social, na medida em que incita cada indivíduo a gerir-se, seguindo uma performance empresarial fundada na autonomia, controle dos riscos e realização pessoal. Constituímo-nos enquanto um estudo teórico conceitual orientado pela perspectiva genealógica de Michel Foucault. Composta por um conjunto de princípios metodológicos para a análise das formas do exercício do poder, a genealogia nos possibilita apreender a medicalização dos sofrimentos e comportamentos não patológicos e a consequente preocupação psiquiátrica pelos pequenos desvios e fracassos como uma estratégia de poder que acopla, sob novos arranjos, disciplina, biopolítica e governo. Foram, pois, incialmente, investigada a psiquiatria ampliada, enquanto campo constituído por discursos e práticas que expressam o modo de apreensão da loucura e do sofrimento psíquico em termos biopsicossociais. Em seguida, analisamos os modos pelos quais o poder disciplinar integra os modos de normatização da subjetividade às estruturas econômica e política da sociedade neoliberal, vinculando, em torno do sofrimento psíquico, as estratégias de autovigilância e 8 domínio da vontade de si. Em seguida, problematizamos o sofrimento psíquico pela medicina metal como expressão da articulação da biopolítica, haja vista o foco das intervenções estarem centrados na saúde e performance da população. Após, estudamos os desdobramentos da noção de governo dos homens sobre os -atos de verdade¿ produzidos pelos discursos e práticas de medicalização da existência, em especial, o processo pelo qual os indivíduos são convocados a manifestar a verdade do que são em termos de perpétua falibilidade e vulnerabilidade. Por fim, procuramos estabelecer contraposições à normalização do sujeito anormal, por meio de uma discussão sobre a ética em psicanálise. Concluímos que o discurso de ampliação da psiquiatria é produto de uma história atravessada de ponta a ponta por relações de poder imprescindíveis à fabricação e desenvolvimento do sujeito neoliberal. Absolutamente, só há poder porque há possibilidade de resistência. Por isso, inferimos que o sofrimento psíquico constitui-se como um antipoder dos indivíduos em face do poder psiquiátrico. Defendemos uma posição de luta constante contra os modos de sujeição neoliberal que, mediante a vinculação do sujeito a si mesmo, pela produção de uma verdade de si, asseguram a submissão voluntária da subjetividade. Somos solidários à luta por uma nova subjetividade que se constitua independente das técnicas de poder, ao mesmo tempo individualizantes e totalizantes, engendradas pela razão neoliberal. Palavras-chave: Subjetividade. Poder. Psiquiatria. Anormal. Governo.
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spelling A normatização do sujeito anormal: os efeitos da ampliação e generalização da psiquiatria sobre os modos de subjetivação na contemporaneidadeThe normalization of the abnormal subject : the effects of the extension and generalization of psychiatry on the modes of subjectivation in contemporanitySubjetividadeSofrimento - Aspectos psicológicosSaúde mentalNesta tese, investigamos a normatização da subjetividade anormal, abordando-a como produto da ampliação e generalização da psiquiatria. Trabalhamos com a seguinte hipótese norteadora: a inclusão do sofrimento psíquico na lógica de produtividade do neoliberalismo, ao desconstruir a fronteira entre normalidade e anormalidade, transforma este último, o anormal, em discurso comum, em regra a ser seguida. Confrontamo-nos, assim, com a reconfiguração do poder de normalização em que não é o processo de exclusão do anormal dos meios de produção que possibilita a formação do sujeito contemporâneo. É, antes, pela inclusão e naturalização das anormalidades, que o sujeito se relaciona consigo e com o outro. Neste sentido, propomos, mais precisamente, a analisar como a psiquiatria vincula a racionalidade neoliberal de responsabilidade, produtividade e lucro aos modos de subjetivação e ao laço social, na medida em que incita cada indivíduo a gerir-se, seguindo uma performance empresarial fundada na autonomia, controle dos riscos e realização pessoal. Constituímo-nos enquanto um estudo teórico conceitual orientado pela perspectiva genealógica de Michel Foucault. Composta por um conjunto de princípios metodológicos para a análise das formas do exercício do poder, a genealogia nos possibilita apreender a medicalização dos sofrimentos e comportamentos não patológicos e a consequente preocupação psiquiátrica pelos pequenos desvios e fracassos como uma estratégia de poder que acopla, sob novos arranjos, disciplina, biopolítica e governo. Foram, pois, incialmente, investigada a psiquiatria ampliada, enquanto campo constituído por discursos e práticas que expressam o modo de apreensão da loucura e do sofrimento psíquico em termos biopsicossociais. Em seguida, analisamos os modos pelos quais o poder disciplinar integra os modos de normatização da subjetividade às estruturas econômica e política da sociedade neoliberal, vinculando, em torno do sofrimento psíquico, as estratégias de autovigilância e 8 domínio da vontade de si. Em seguida, problematizamos o sofrimento psíquico pela medicina metal como expressão da articulação da biopolítica, haja vista o foco das intervenções estarem centrados na saúde e performance da população. Após, estudamos os desdobramentos da noção de governo dos homens sobre os -atos de verdade¿ produzidos pelos discursos e práticas de medicalização da existência, em especial, o processo pelo qual os indivíduos são convocados a manifestar a verdade do que são em termos de perpétua falibilidade e vulnerabilidade. Por fim, procuramos estabelecer contraposições à normalização do sujeito anormal, por meio de uma discussão sobre a ética em psicanálise. Concluímos que o discurso de ampliação da psiquiatria é produto de uma história atravessada de ponta a ponta por relações de poder imprescindíveis à fabricação e desenvolvimento do sujeito neoliberal. Absolutamente, só há poder porque há possibilidade de resistência. Por isso, inferimos que o sofrimento psíquico constitui-se como um antipoder dos indivíduos em face do poder psiquiátrico. Defendemos uma posição de luta constante contra os modos de sujeição neoliberal que, mediante a vinculação do sujeito a si mesmo, pela produção de uma verdade de si, asseguram a submissão voluntária da subjetividade. Somos solidários à luta por uma nova subjetividade que se constitua independente das técnicas de poder, ao mesmo tempo individualizantes e totalizantes, engendradas pela razão neoliberal. Palavras-chave: Subjetividade. Poder. Psiquiatria. Anormal. Governo.In this thesis, it was investigated the normalization of abnormal subjectivity, approaching it as a product of the expansion and generalization of psychiatry. We work with the following guiding hypothesis: the inclusion of psychic suffering in the productivity logic of neoliberalism, by deconstructing the boundary between normality and abnormality, transforms the latter, the abnormal, into a common discourse, as a rule to be followed. We thus confront the reconfiguration of the power of normalization in which it is not the process of excluding the abnormal of the means of production that makes possible the formation of the contemporary subject. It is rather by the inclusion and naturalization of the abnormalities that the subject relates to himself and to the other. In this sense, we propose, more precisely, to analyze how psychiatry links the neoliberal rationality of responsibility, productivity and profit to the modes of subjectivation and the social bond, inasmuch as it incites each individual to manage himself, following a business performance based on Autonomy, control of risks and personal fulfillment. We constitute ourselves as a conceptual theoretical study guided by the genealogical perspective of Michel Foucault. Composed of a set of methodological principles for the analysis of the forms of the exercise of power, genealogy allows us to grasp the medicalization of non-pathological sufferings and behaviors and the consequent psychiatric concern for small deviations and failures as a power strategy that engages, under new Arrangements, discipline, biopolitics and government. They were, therefore, initially investigated the extended psychiatry, as a field constituted by discourses and practices that express the way of apprehension of the madness and the psychic suffering in biopsychosocial terms. Next, we analyze the ways in which disciplinary power integrates the modes of normalization of subjectivity to the economic and political structures of neoliberal society, linking, around the psychic suffering, the strategies of self-vigilance and 10 mastery of self-will. Next, it was problematized psychic suffering by medicine metal as an expression of the articulation of biopolitics, given that the focus of interventions is centered on the health and performance of the population. Afterwards, we study the unfolding of the notion of government of men over the "acts of truth" produced by the medicalization discourses and practices of existence, especially the process by which individuals are summoned to manifest the truth of what they are in terms of perpetual Fallibility and vulnerability. Finally, we seek to establish counterpositions to the normalization of the abnormal subject, through a discussion about ethics in psychoanalysis. We conclude that the discourse of expansion of psychiatry is the product of a story crossed from end to end by power relations essential to the fabrication and development of the neoliberal subject. Absolutely, there is only power because there is possibility of resistance. Therefore, we infer that psychic suffering constitutes an antipower of individuals in the face of psychiatric power. We defend a position of constant struggle against the forms of neoliberal subjection which, through the linking of the subject to himself, through the production of a truth of himself, ensure the voluntary submission of subjectivity. We are united in the struggle for a new subjectivity that is independent of the techniques of power, at the same time individualizing and totalizing, engendered by neoliberal reason. Keywords: Subjectivity. Power. Psychiatry. Not normal. Government.Pinheiro, Clara Virgínia de QueirozPinheiro, Clara Virgínia de QueirozBarrocas, Ricardo Lincoln LaranjeiraCaponi, Sandra Noemi Cucurullo deDanziato, Leonardo José BarreiraPereira, Caciana LinharesUniversidade de Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em PsicologiaAlbuquerque, Kelly Moreira de2016info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://biblioteca.sophia.com.br/terminalri/9575/acervo/detalhe/116463https://uol.unifor.br/auth-sophia/exibicao/20373porreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFORinstname:Universidade de Fortaleza (UNIFOR)instacron:UNIFORinfo:eu-repo/semantics/openAccess2024-01-26T09:38:24Zoai::116463Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://www.unifor.br/bdtdONGhttp://dspace.unifor.br/oai/requestbib@unifor.br||bib@unifor.bropendoar:2024-01-26T09:38:24Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFOR - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)false
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