PAISAGEM DO ALTO RIO NEGRO: A ETNIA DESSANA

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Krüger, Marcos Frederico
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista Sentidos da Cultura
Texto Completo: https://periodicos.uepa.br/index.php/sentidos/article/view/356
Resumo: A mitologia da etnia dessana, do Alto Rio Negro, foi sistematizada no livro Antes o mundo não existia, produto do trabalho dos índios Firmiano Arantes Lana e Luiz Gomes Lana, pai e filho, respectivamente. Abordaremos esse livro e sobre ele daremos algumas noções. Em tal obra, encontra-se o corpo mitológico dessana, dividido em narrativas referentes à cosmogonia, à etiologia e à escatologia. A cosmogonia dessana atribui o papel de demiurgo a Yebá buró, ou Avó do Mundo, o que permite relacionar esse mito a tempos anteriores à instalação do patriarcado. Ela teria se completado com a criação do homem, que veio em forma de enfeites, na barriga do Terceiro Trovão, um dos seres criados pelo demiurgo. O Trovão transformou-se numa cobra-canoa que, à medida que subia o Rio Negro, ia vomitando os enfeites e estabelecendo o lugar dos diversos povos rio-negrinos. Dentre as narrativas que se caracterizam como etiológicas, por darem a explicação para a origem de coisas do mundo, destaca-se a do surgimento da pupunha. O herói-civilizador, importante função mítica, é exercido por Gain pañan, um ser híbrido, mistura de homem e periquito. Para obter a pupunha (o bem) e destiná-la à humanidade, o herói passa por um caminho de provas, composto por obstáculos que tem de transpor. Com a ajuda de um auxiliar, sua própria mulher, consegue triunfar sobre todos, inclusive sobre o antagonista principal, seu sogro, a Cobra Grande. Há ainda o mito referente à criação da noite, uma variação de outras narrativas amazônicas. Nessa etiologia, a noite, necessária para que os homens pudessem dormir e procriar, foi maculada com o surgimento dos mais diversos insetos porque alguém desobedeceu ao ritual pré-estabelecido e, como tal, a humanidade foi punida. Na mitologia dessana, foi Panlãmin, o ancestral desse povo, quem se encarregou de conseguir esse bem para a sua gente. Diferentemente do que se observa na tradição judaico-cristã, para os dessanas houve, no passado, três cataclismos. Como sói acontecer, a humanidade ressurgiu após o perecimento. Depois disso, o demiurgo resolveu que não haveria mais cataclismos. Entre os dessanas, a primeira escatologia (ou fim de mundo) aconteceu quando um grupo de púberes não obedeceu ao ritual de jejum imposto por Gueramun yé. Esse mito, além de ser escatológico, insere-se também entre as narrativas de Jurupari, herói-civilizador que instalou o patriarcado e que, sob diversos nomes e formas, aparece em mitologias de todo o mundo.
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