Estudo psicanalítico sobre a feminização da epidemia do HIV/AIDS com usuários do Hospital Universitário João de Barros Barreto
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Data de Publicação: | 2008 |
Tipo de documento: | Dissertação |
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Título da fonte: | Repositório Institucional da UFPA |
Texto Completo: | http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/5151 |
Resumo: | O presente trabalho teve como objetivo investigar os processos de subjetivação de mulheres sem parceiro fixo à exposição ao vírus HIV/ Aids para identificar fatores sobredeterminantes de vulnerabilidade. Utilizamos como método o estudo de caso, visando uma análise em profundidade, que permitisse identificar um maior número de determinantes subjetivos relacionados com a problemática considerada. O estudo apresenta fragmentos de casos clínicos de mulheres vivendo com Aids, internadas nas enfermarias do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), no Estado do Pará, Brasil. A partir da análise da transferência e da contratransferência, apontamos como resultado o que cada caso em sua singularidade, desvela a partir do encontro terapêutico: No caso Clínico I, encontramos que a paciente, a qual chamamos Dinah, apresentava um modo de subjetivação psicopatológico masoquista feminino, que faz com que ela demonstre certa satisfação quando se expõe ao sofrimento, se posicionando como vítima em seus relacionamentos afetivos e sexuais, sobre determinados pela identificação imaginária com ideais culturais sobre o ser mulher, concebendo imagens de homens e mulheres, e, portanto, suas e de seu parceiro, como pares antitéticos de força/fraqueza, atividade/passividade, poder/submissão. Esse ideal de eu compósito de mulher virgem e de um homem só, levou Dinah a negar seus temores de contaminação, aceitar passivamente relações desprotegidas, atribuindo à iniciativa sexual a seu parceiro e, tornando-se vulnerável a infecção pelo HIV. No caso Clínico II, Alice, submetida a um modo de subjetivação melancólico, auto-destrutivo, se posicionava nas relações afetivas e sexuais procurando incessantemente sua auto-destruição pela própria vulnerabilidade inconsciente à contaminação pelo HIV. Tendo contraído o vírus e contaminado seu marido e, demais parceiros, mesmo após saber de seu diagnóstico, Alice permanecia aprisionada em um silêncio mortífero, impedindo-se de cuidar de sua saúde e procurar atendimento médico contínuo, tornando-se vulnerável à reinfecção. O Caso III, Ana Laura, é de uma mulher que sofreu inúmeras violências desde a infância, como abuso sexual infantil, exploração do trabalho doméstico e, abandono pelos pais. Após ter tido seu primeiro filho, este lhe foi retirado sem seu consentimento, pela tia materna que o deu a terceiros, razão alegada por Ana Laura, para prostituir-se no cais do porto da cidade de Belém, onde trabalhou até bem pouco tempo antes de sua internação. Lá onde a negociação por sexo mais caro sem preservativo era prática comum, Ana Laura negociou sua vida, vendendo sexo sem preservativo, assim se infectando. O desamparo e as violências sofridas por esta paciente são, portanto, sobredeterminantes de sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Como conclusões, destacamos que as mulheres atendidas sem parceiro fixo, não apresentaram maior facilidade para se protegerem, estando em desacordo com os estudos que apontam que estas mulheres negociam o preservativo com maior liberdade e estão menos vulneráveis, demonstrando a importância de estudos que abordem os aspectos psíquicos, sociais, políticos e culturais, de maneira a desvelar os modos de produção de subjetividade dos sujeitos em sua singularidade, para além da mensuração de dados, a fim de estabelecer estratégias de prevenção em saúde mais eficazes. |
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2014-06-26T13:22:00Z2014-06-26T13:22:00Z2008-09-12LEBREGO, Arina Marques. Estudo psicanalítico sobre a feminização da epidemia do HIV/AIDS com usuários do Hospital Universitário João de Barros Barreto. 2008. 119 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Belém, 2008. Programa de Pós-Graduação em Psicologia.http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/5151O presente trabalho teve como objetivo investigar os processos de subjetivação de mulheres sem parceiro fixo à exposição ao vírus HIV/ Aids para identificar fatores sobredeterminantes de vulnerabilidade. Utilizamos como método o estudo de caso, visando uma análise em profundidade, que permitisse identificar um maior número de determinantes subjetivos relacionados com a problemática considerada. O estudo apresenta fragmentos de casos clínicos de mulheres vivendo com Aids, internadas nas enfermarias do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), no Estado do Pará, Brasil. A partir da análise da transferência e da contratransferência, apontamos como resultado o que cada caso em sua singularidade, desvela a partir do encontro terapêutico: No caso Clínico I, encontramos que a paciente, a qual chamamos Dinah, apresentava um modo de subjetivação psicopatológico masoquista feminino, que faz com que ela demonstre certa satisfação quando se expõe ao sofrimento, se posicionando como vítima em seus relacionamentos afetivos e sexuais, sobre determinados pela identificação imaginária com ideais culturais sobre o ser mulher, concebendo imagens de homens e mulheres, e, portanto, suas e de seu parceiro, como pares antitéticos de força/fraqueza, atividade/passividade, poder/submissão. 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Após ter tido seu primeiro filho, este lhe foi retirado sem seu consentimento, pela tia materna que o deu a terceiros, razão alegada por Ana Laura, para prostituir-se no cais do porto da cidade de Belém, onde trabalhou até bem pouco tempo antes de sua internação. Lá onde a negociação por sexo mais caro sem preservativo era prática comum, Ana Laura negociou sua vida, vendendo sexo sem preservativo, assim se infectando. O desamparo e as violências sofridas por esta paciente são, portanto, sobredeterminantes de sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Como conclusões, destacamos que as mulheres atendidas sem parceiro fixo, não apresentaram maior facilidade para se protegerem, estando em desacordo com os estudos que apontam que estas mulheres negociam o preservativo com maior liberdade e estão menos vulneráveis, demonstrando a importância de estudos que abordem os aspectos psíquicos, sociais, políticos e culturais, de maneira a desvelar os modos de produção de subjetividade dos sujeitos em sua singularidade, para além da mensuração de dados, a fim de estabelecer estratégias de prevenção em saúde mais eficazes.This study aimed to investigate the processes of subjectivation of women having no steady partners and their exposition to HIV/AIDS in order to identify overdetermination factors of vulnerability. As method, we used a case study, aiming at a in-depth analysis which allowed the identification of a greater number of subjective determinants related to the problem considered. The study presents fragments of clinical cases of women living with AIDS, hospitalized in the wards of the João de Barros Barreto University Hospital (HUJBB) in the State of Pará, Brazil. Based on the analysis of transference and countertransference, we showed as results what each case, in its singularity, reveals from the therapeutic encounter. In clinical case I, we found that the patient, whom we called Dinah, had a female masochistic mode of psychopathological subjectivation, what caused her to show some satisfaction when exposed to suffering, and to position herself as a victim in her emotional and sexual relationships. Those relationships were overdetermined by a imaginary identification with cultural ideals about the woman human being, conceiving images of men and women, and therefore of herself and her partners, as antithetical pairs of strength/weakness, active/passive, power/submission. This ideal of composite person of a virgin woman and a man only, caused Dinah to deny her fears of contamination, and to passively accept unprotected sexual relations, leaving the sexual initiative to her partner, and, thereby, becoming vulnerable to HIV infection. In clinical case II, Alice, which has a melancholic, self-destructive mode of subjectivation, positioned herself in her emotional and sexual relationships by incessantly searching for her self-destruction through an unconscious vulnerability to HIV. Having contracted AIDS and infected her husband and other partners, even after knowing her diagnosis, Alice remained trapped in a deadly silence, and prevented herd]self from taking care of her health and seeking continuous medical care, making herself vulnerable to re-infection. In clinical Case III, Ana Laura, is a woman who has gone through violence several times since childhood, for instance, she underwent child sexual abuse, was exploited as a domestic worker, was abandoned by her parents. After having her first baby, the child was taken from her without her consent by a maternal aunt who gave her to others. Ana Laura used that as a reason to prostitute herself on quay of Belém Port, where she worked until she was hospitalized. That was where negotiation for more expensive unprotected sex was a common practice, and so Ana Laura negotiated her life, selling unprotected sex and ended up getting infected by HIV. The helplessness and the violence that this patient went through are therefore the overdetermination factors of her vulnerability to HIV infection. As conclusions, we highlight that the women looked after without steady partners, did not care to protect themselves, and are not in accordance with the studies showing that those women negotiate the use of condom more freely and are less vulnerable to HIV. This demonstrates the importance of studies addressing the psychic, social, political and cultural aspects, so as to reveal the modes of production of subjectivity of the subjects in their singularity, beyond data measurement, in order to establish strategies for more effective health prevention.CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorFAPESPA - Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e PesquisasporUniversidade Federal do ParáPrograma de Pós-Graduação em PsicologiaUFPABrasilInstituto de Filosofia e Ciências HumanasCNPQ::CIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIA::PSICOLOGIA SOCIALSíndrome de Imunodeficiência AdquiridaMulheresSexualidadeTransferência (Psicologia)Mulher profissional do sexoVulnerabilidadePará - EstadoAmazônia brasileiraHospital Universitário João de Barros BarretoEstudo psicanalítico sobre a feminização da epidemia do HIV/AIDS com usuários do Hospital Universitário João de Barros Barretoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisMOREIRA, Ana Cleide Guedeshttp://lattes.cnpq.br/9245673017553186http://lattes.cnpq.br/6417022402262167LEBREGO, Arina Marquesinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFPAinstname:Universidade Federal do Pará (UFPA)instacron:UFPAORIGINALDissertacao_EstudoPsicanaliticoFeminizacao.pdfDissertacao_EstudoPsicanaliticoFeminizacao.pdfapplication/pdf875749http://repositorio.ufpa.br/oai/bitstream/2011/5151/1/Dissertacao_EstudoPsicanaliticoFeminizacao.pdfb0c77199251aab9363ef3baa356cf5beMD51CC-LICENSElicense_urllicense_urltext/plain; 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